O Senado se divide entre rejeitar o projeto do Imposto de Renda ou incluir a mudança na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de reforma tributária mais ampla em tramitação na Casa. Conforme o Estadão/Broadcast, as duas possibilidades estão no radar e não há disposição para simplesmente aprovar o projeto da Câmara.
O texto ainda não recebeu o aval dos deputados. O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL) liberou acordo que aumenta os repasses para os municípios na tentativa de diminuir as resistências dos prefeitos. No Senado, porém, os integrantes são mais ligados aos governadores e às capitais, o que representa um obstáculo a mais para a mudança patrocinada na outra Casa.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), alertou para a falta de convergência dentro do Congresso em torno do tamanho e do formato ideais para a reforma tributária. "Existem diferenças de entendimento em relação à reforma tributária ainda, há obstáculos naturais que podem ser superados, mas que existem, que é o fato de ser uma reforma pré-eleitoral, o que dificulta", disse Pacheco, reforçando ainda acreditar em uma convergência.
"É brincadeira. É um remendo em cima de outro remendo para agradar os municípios. O Palácio do Planalto é uma ilha isolada dos problemas do Brasil", afirmou o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Otto Alencar (PSD-AM), criticando a manobra do governo. "Existem muitas restrições por parte dos governadores e prefeitos que perdem arrecadação."
Alencar apontou resistência do Senado aos impactos da mudança no Imposto de Renda, que pode reduzir a arrecadação e ainda estressar o mercado financeiro com alta da inflação e dos juros neste ano. "É uma equação perigosa do governo apenas para atender a uma coisa que ele está fazendo desde início, campanha eleitoral, ao invés de propor reformas profundas para resolver o déficit fiscal e ter capacidade de investimento", disse. A proposta do IR prevê a redução das alíquota de empresas e pessoas físicas.
Um dos cenários em avaliação no Senado é incluir a mudança do IR na PEC da reforma tributária, com a fusão de outros tributos, inclusive sobre o consumo, que deve ser pautada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Não há um consenso, no entanto, sobre essa ideia, defendida pelo líder do Podemos, Alvaro Dias (PR), que reúne a terceira maior bancada do Senado. A sugestão foi apresentada para outros líderes partidários como estratégia para dar ao Senado a última palavra sobre o projeto, evitando que alterações dos senadores sejam derrubados por deputados.
Reforma ampla
Outro movimento no radar é simplesmente engavetar a mudança no Imposto de Renda, priorizando a PEC ampla. "O projeto da Câmara não é reforma. A PEC do Senado é diferente, ela cria um IVA dual (um imposto único federal e outro para Estados e municípios) e trata de consumo e produtos. O da Câmara trata de renda", disse o líder do PSDB na Casa, Izalci Lucas (DF).
A tributação de lucros e dividendos para bancar as isenções no imposto pago pelas pessoas físicas e empresas é outro ponto mal recebido pelos senadores, que resistem a qualquer imposto novo. "Está virando uma reforma eleitoral porque aumenta o limite de isenção para o Imposto de Renda, cria um buraco e estão fazendo várias concessões. Sozinho, o projeto não passa", afirmou o senador Oriovisto Guimarães (Pode-PR).
Em audiência no plenário do Senado, o relator da PEC, Roberto Rocha (PSDB-MA), deixou claro que a prioridade dos senadores será aprovar a reforma ampla, independentemente do projeto da Câmara. Ele sugeriu inclusive que o Senado inicie uma discussão sobre o Imposto de Renda antes mesmo de receber a proposta dos deputados.
"O governo lançou a proposta da CBS (proposta de fusão do PIS e da Cofins) e do Imposto de Renda porque não acredita que os parlamentares brasileiros sejam capazes de votar uma reforma tributária ampla. Eu quero acreditar que somos, sim, capazes. E, se não votarmos este ano, é claro, que é ano ímpar, no ano par é que não votaremos mesmo", disse Roberto Rocha.
A CCJ do Senado deve iniciar uma discussão sobre a PEC para aprovar a proposta primeiro no colegiado e depois no plenário. A comissão, porém, é uma das únicas no Senado que ainda não realizou nenhuma reunião para votar projetos neste ano. Nos bastidores, a paralisia da CCJ e o período que falta para acabar o ano colocam em dúvida a viabilidade de o Congresso aprovar efetivamente uma mudança no sistema tributário.
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