Puxada mais uma vez pela soja, a safra de grãos de 2021 deverá registrar mais um recorde, conforme estimativas tanto do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quanto da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para o IBGE, que divulgou nesta terça-feira, 10, seu primeiro prognóstico para o ano que vem, a produção agrícola deverá somar 253,2 milhões de toneladas, 0,5% acima de 2020. A Conab, que divulgou sua segunda estimativa para a safra 2020/21, a produção total deverá somar 268,94 milhões de toneladas, 4,6% acima da temporada de 2019/2020.
Com a colheita deste ano praticamente terminada, o IBGE manteve a projeção para a safra de 2020 em 252 milhões de toneladas, resultado 4,4% maior do que a de 2019, de acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de outubro. É a maior quantidade já contabilizada pelo instituto, cuja série histórica para a produção agrícola começou em 1975 - quando a colheita total somou 39,4 milhões de toneladas, um terço da produção nacional de soja nos dias de hoje.
Encerrada ainda no primeiro semestre, a safra de soja de 2020 colheu 121,5 milhões de toneladas, uma alta de 7,1% em relação a 2019. No primeiro Prognóstico para a Safra Agrícola de 2021 do IBGE, divulgado com a LSPA de outubro, a estimativa para a produção de soja, cuja safra já foi plantada, é de 127,1 milhões de toneladas, 4,6% acima de 2020, registrando mais um recorde e consolidando o Brasil como maior produtor mundial do grão.
O resultado deverá ser obtido com maior produtividade, já que o IBGE estima avanço de apenas 1,2% na área plantada, abaixo da projeção de crescimento para a produção. O cenário é de cotações internacionais em alta, câmbio favorável às exportações e apetite da China pela produção brasileira em alta.
Além disso, parte do prognóstico do IBGE considera um aumento de produtividade por causa da safra do Rio Grande do Sul, explicou o gerente do LSPA, Alfredo Guedes. Apesar do recorde da soja em 2020, o pesquisador lembrou que houve perdas em torno de 10 milhões de toneladas para os produtores gaúchos, por causa de uma severa seca no verão passado. O fenômeno não deverá se repetir no próximo verão.
Com o novo recorde em 2021, o Brasil se consolida como o maior produtor global, já que a safra dos Estados Unidos, que disputa com o País a posição, deverá ficar entre 122 milhões e 125 milhões de toneladas. A safra 2020/21 de soja no Brasil é normalmente comparada com a safra americana que está em fase final de colheita neste momento, antes do inverno no Hemisfério Norte, segundo Guedes.
O recorde na soja será obtido apesar do atraso no plantio. Segundo o pesquisador do IBGE, em Mato Grosso - maior produtor nacional de grãos, que respondeu por 28,9% da safra de 2020 -, onde a soja normalmente é plantada em setembro, chegou a haver de 20 a 30 dias de atraso. Tudo isso porque o período de chuvas deste ano demorou a chegar, num fenômeno que já havia ocorrido na primavera de 2019.
Problemas para o plantio de milho
“A soja, este ano, atrasou mais ainda do que o plantio de 2019/20. Não tivemos chuva e o plantio atrasou bastante. A soja é bem provável que recupere, o problema é o milho de segunda safra e o algodão, que é plantado depois”, afirmou Guedes.
O atraso da soja afetará a produção de milho porque, a segunda safra do cereal - que já foi chamada de “safrinha”, mas hoje responde por 70% da produção anual - é plantada após a colheita da soja. Com o atraso na soja, a janela de plantio do milho de segunda safra fica “encurtada”, explicou Guedes.
Por isso, o IBGE prevê queda de 5,4% na produção do milho de segunda safra em 2021, com 70,2 milhões de toneladas. Para a primeira safra de milho de 2021, o IBGE projeta produção de 27,1 milhões de toneladas, alta de 1,7% ante 2020. Na safra encerrada em 2020, o IBGE projeta uma produção de 74,2 milhões para o milho de segunda safra, conforme o LSPA de outubro. A projeção de outubro ficou 0,4% acima da de setembro. No total, a safra de milho deverá somar 100,9 milhões de toneladas este ano.
Também afetada pelo atraso no plantio da soja, a safra de algodão herbáceo, com 6,2 milhões de toneladas em 2021, deverá registrar um tombo de 11,9% na comparação com a produção de 2020. Até a safra encerrada neste ano, foram três anos seguidos de recordes na produção de algodão, mas a crise associada à pandemia de covid-19 derrubou a demanda, influenciando decisões de plantio por parte dos produtores, segundo o IBGE.
Em 2021, também deverá haver quedas nas produções de arroz e feijão. O feijão deverá apresentar quedas em suas três safras em 2021. A primeira safra, com 1,3 milhão de tonelada, ficará 2,2% abaixo da deste ano. A segunda safra, com 958 mil toneladas, deverá ficar 4,5% abaixo de igual safra deste ano. A maior queda porcentual ficará com a terceira safra de feijão, cujo prognóstico aponta para 560 mil toneladas em 2021, 6,5% abaixo da terceira safra de 2020.
Produção menor de arroz
A produção nacional de arroz, em evidência por causa dos aumentos de preços recentes do produto, deverá recuar 2,4% em 2021, para 10,8 milhões de toneladas. Segundo Guedes, do IBGE, essa queda deverá interferir pouco na inflação. Isso porque, mesmo com a queda, a produção é praticamente equivalente ao consumo doméstico. A dinâmica de preços seguirá, portanto, mais atrelada às cotações do dólar e ao comércio exterior. Ao longo de 2020, a alta do dólar incentivou as exportações de arroz, num ano em que a crise da covid-19 deu algum impulso à demanda interna.
O governo Federal chegou a baixar tarifas de importação neste segundo semestre, após o grão ser alçado ao papel de vilão da inflação de alimentos durante a pandemia. O preço médio do arroz ao consumidor já acumula alta de 59,48% em 2020 até outubro, conforme o IPCA, calculado pelo IBGE. No atacado, o arroz beneficiado avançou 25,92% apenas na primeira prévia do IGP-M de novembro, divulgada nesta terça-feira, 10, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“O câmbio favorece as exportações. Para manter esse arroz aqui dentro, só subindo o preço”, afirmou Guedes, ponderando que, nos últimos anos até 2020, o arroz vinha com preços estáveis, oferecendo pouca rentabilidade aos produtores, o que também sustenta os reajustes recentes.
Com a entrada da nova safra, no início de 2021, o esperado é que os preços, provavelmente, “caiam um pouco”, disse Guedes. “Agora, depois, no decorrer do ano, vamos ter que acompanhar o comportamento dos preços. Os produtores podem continuar exportando e, aí, vamos ter que importar para manter o preço estável”, completou o pesquisador do IBGE.
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