A economia brasileira seguiu seu caminho de recuperação, ainda que lenta, no terceiro trimestre do ano, quando o Produto Interno Bruto (PIB), valor de todos os bens e serviços produzidos em determinado período) avançou 0,6% em relação ao segundo trimestre do ano. Em relação ao terceiro trimestre de 2018, o PIB avançou 1,2%, informou nesta terça-feira, 3, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast (de 0,30% a 0,70%), mas acima da mediana, de 0,40%.
O consumo das famílias foi um dos motores do crescimento, com alta de 0,8% sobre o período de abril a junho e crescimento de 1,9% em relação ao terceiro trimestre do ano passado. Segundo economistas, o consumo privado deverá seguir puxando a economia até o fim do ano, deixando para trás as estimativas mais pessimistas para o PIB de 2019.
Desde julho, as projeções de mercado para o crescimento econômico deste ano vêm sendo revistas para cima – após passarem de 2,57%, em janeiro, para 0,81%, conforme o Boletim Focus, do Banco Central (BC) – e, hoje, estão em torno de 1,0%.
A lenta recuperação do mercado de trabalho – que, mesmo com a geração de vagas puxada pelo setor informal e com o crescimento tímido da renda, garante alguma elevação no dinheiro total disponível para gastar –, a inflação comportada e os juros nas mínimas históricas dão suporte para o avanço no consumo, que recebeu ainda um anabolizante: a liberação de saques do FGTS.
Autorizados a partir de setembro, ou seja, ainda no terceiro trimestre, os saques de R$ 500 por conta do FGTS foram permitidos para todos os trabalhadores. Inicialmente, o cronograma proposto pelo governo federal distribuiria os saques entre o fim de 2019 e o início de 2020, mas a Caixa antecipou as datas, ampliando o valor total a ser liberado ainda este ano.
Em outubro, o Ministério da Economia estimava que a antecipação liberaria R$ 12 bilhões para impulsionar as vendas de Natal, valor que sobe para R$ 14,5 bilhões quando somado com o pagamento de R$ 2,5 bilhões do 13.º para os beneficiários do Bolsa Família.
Segundo a economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a lenta melhoria do mercado de trabalho e a expansão do crédito já permitiriam um aumento do consumo das famílias, mas a liberação do FGTS levará o crescimento do principal componente do PIB pelo lado da demanda ao ritmo médio de 1,0% por trimestre na segunda metade do ano.
“R$ 500 pode parecer pouco, mas, dado que a renda real vem crescendo pouco e que não houve reajuste real para o salário mínimo, os saques do FGTS são um ganho real”, afirma Silvia.
O Ibre/FGV projetava um crescimento de 1,3% no consumo das famílias no quarto trimestre, em relação ao trimestre imediatamente anterior, antes de conhecer os dados divulgados nesta terça, pelo IBGE.
O problema, segundo a pesquisadora do Ibre/FGV, é que esse ritmo de crescimento do consumo das famílias de 1,0% por trimestre, esperado para a média da segunda metade deste ano, tende a não se sustentar. A recuperação lenta do mercado de trabalho e a expansão do crédito, com juros baixos, deverão seguir impulsionando o consumo em 2020, mas a um ritmo próximo de 0,5% por trimestre.“Com o crescimento só pautado em consumo e serviços, fica difícil ter mais tração”, afirma a economista Andressa Durão, da corretora Icatu Vanguarda. Para ela, passados os efeitos pontuais da liberação do FGTS, fatores estruturais, como a queda do juro, devem começar a impulsionar a economia, mas o desemprego elevado e a renda contida devam seguir limitando um crescimento mais robusto.
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