O recrutamento de jovens para o crime tem adotado novas estratégias, e as facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP), estão ampliando suas ações além do tráfico de drogas, utilizando músicas de funk, rap e trap para atrair jovens. Esses estilos musicais, que retratam uma vida de riqueza e aventura, são associados ao cotidiano da criminalidade e se tornaram uma ferramenta de propaganda entre os membros do crime organizado.
As letras desses gêneros ganham notoriedade ao mostrar uma vida supostamente fácil e cheia de vantagens, criando a ilusão de que o crime é o caminho para o sucesso. Esse fenômeno é especialmente perceptível no Rio de Janeiro, onde artistas ligados a facções específicas não podem se apresentar em eventos organizados por facções rivais, como exemplificado pelo caso de Marlon Brandon Coelho Couto Silva, o MC Poze do Rodo. Ex-traficante e membro do Comando Vermelho, MC Poze teve shows em Salvador e Fortaleza cancelados devido a ameaças de facções adversárias, que garantiram que haveria violência caso os eventos ocorressem. Poze, por sua vez, afirma ter abandonado o crime para seguir uma carreira na música.
![Oruam pediu liberdade do pai, Marcinho VP](/media/image_bank/2024/3/oruam-pediu-liberdade-do-pai-marcinho-vpnone.JPG.1200x0_q95_crop.webp)
A popularidade das letras acaba influenciando não apenas jovens de comunidades carentes, mas também segmentos da classe média, que aceitam a narrativa de que os criminosos são vítimas de uma sociedade desigual. Essas músicas acabam, muitas vezes, promovendo uma imagem de criminosos como "heróis" da comunidade, enquanto a polícia e o governo são retratados como inimigos dos pobres. Isso cria uma identificação dos jovens com o estilo de vida das facções, fazendo com que alguns optem por ingressar no crime. Além disso, as produções musicais desses artistas também ganham apoio de empresas de diversos setores, incluindo cassinos virtuais, o que amplia ainda mais sua visibilidade.
O debate sobre a influência desses artistas na juventude ganhou força após o surgimento de projetos de lei, como o "anti-Oruam", que busca proibir o uso de recursos públicos para financiar shows que promovam o crime ou o consumo de drogas. O nome do projeto faz referência ao cantor de trap Mauro Nepomuceno, conhecido como Oruam, filho do traficante carioca Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, que está preso.
Em resposta a essas propostas, Oruam se manifestou nas redes sociais, afirmando que suas letras apenas retratam a realidade de vida que ele e outros artistas vivem. Ele disse: "Nós cantamos o que vivemos. Até se proibirem, nós vamos cantar. Nós somos o ódio." Em entrevista à CNN, o cantor afirmou que a lei "anti-Oruam" não ataca apenas ele, mas todos os artistas do gênero, caracterizando uma tentativa de criminalizar um estilo musical inteiro.
O projeto tem gerado grande repercussão, sendo apoiado por 130 parlamentares, e já foi apresentado em mais de 80 cidades, trazendo dividendos políticos para seus autores.
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