Os atos que ocorreram ao longo deste domingo, 12, em defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro foram marcados por baixa adesão do público. Organizados pelos grupos de centro-direita Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua (VPR) e Livres, os protestos falharam em atrair grandes setores da esquerda, mesmo depois de os organizadores abdicarem do mote “nem Bolsonaro, nem Lula” para facilitar a adesão da oposição.
O maior ato, como esperado, foi o da Avenida Paulista, em São Paulo. Por volta das 14h, os primeiros manifestantes do movimento começaram a se concentrar nos arredores do Museu de Arte de São Paulo (Masp). A manifestação contou com a participação de presidenciáveis que buscam representar a chamada “terceira via” nas eleições de 2022: o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), os senadores Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB).
"Nós somos diferentes, temos caminhadas diferentes, temos olhares sobre o futuro do Brasil diferentes", disse Ciro em um palanque montado pelo MBL. "Mas o que nos reúne é o que deve unir toda sociedade civicamente sadia, é a ameaça da morte da democracia e do poder da nação brasileira."
Já Doria, defendeu a formação de uma ampla frente democrática no próximo pleito -- uma que tenha, inclusive, o PT, o principal partido da oposição e que não aderiu aos atos deste domingo. "Temos que estar juntos e formar uma grande frente democrática", disse o tucano.
A fala do governador paulista foi a mais longa do evento, com cerca de sete minutos. Doria se apresentou ao público como um dos "organizadores" do comício pelas Diretas Já na Praça da Sé em 1984 e disse que "quem defende a vida" deve ser contra o presidente Jair Bolsonaro. "Todo começo tem dificuldades. Isto aqui é um começo", afirmou ele.
Em Brasília, o ato esvaziado, que reuniu algumas poucas centenas de pessoas ao longo da tarde na Esplanada dos Ministérios, terminou por volta das 17h. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) chegou a montar um esquema de reforço à segurança na Esplanada, pois a manifestação convocada pelos movimentos de oposição ocorreu poucas horas depois de atos que seriam realizados a favor de Bolsonaro -- também esvaziados.
Manifestações no período da manhã
Belo Horizonte e Rio reuniram os maiores contingentes no período da manhã. Ainda assim, a adesão foi baixa. Na capital fluminense, o grupo começou a se concentrar em Copacabana às 10h. No carro do VPR, um cartaz mostrava o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT) atrás das grades, rompendo a trégua declarada para atrair representantes da esquerda. Organizadores haviam deixado de lado o mote "Nem Bolsonaro, nem Lula" e decidido focar somente no impeachment do presidente da República.
O PDT declarou apoio ao ato, mas o movimento não teve adesão formal de outras das principais siglas de esquerda, como PT e PSOL. Tampouco essa trégua parece ter sido assumida por parte dos ativistas presentes nos atos, como ficou claro em Copacabana.
Os poucos manifestantes de partidos de esquerda presentes na manifestação contra o presidente Bolsonaro no Rio se colocaram ao lado do carro do MBL. Bandeiras do movimento da centro-direita e dos partidos foram balançadas lado a lado na orla. Mais perto do carro do VPR, uma faixa grande reforçava a rejeição ao presidente e ao petista.
Candidato à Presidência pelo Novo em 2018, o empresário João Amoêdo esteve no ato do Rio. Questionado pelo Estadão sobre o embate entre os dois carros de som, que vinham defendendo causas diferentes, ele se colocou ao lado do MBL, que "esqueceu" Lula e se concentrou na bandeira do impeachment.
"A pauta dos brasileiros não é eleição, ‘terceira via’, nada disso", disse. "A gente tem de entender que qualquer construção de um Brasil melhor passa pela saída do Bolsonaro. Se a gente não tiver prioridade total nisso, vai ter ainda mais dificuldade nessa tarefa, que já não é fácil."
'Nosso movimento é de direita'
Em Belo Horizonte, o ato na Praça da Liberdade ganhou força por volta das 11h. Imagens compartilhadas pelo MBL nas redes sociais mostram o público vestido majoritariamente de branco, como pedido pelos organizadores, no intuito de evitar a contraposição entre o vermelho associado à esquerda e o verde e amarelo das manifestações bolsonaristas.
"Não estou nem aí para a participação da esquerda. O nosso movimento é de direita", afirmou o piloto de avião Cláudio Costa Pereira, um dos coordenadores do ato na capital mineira. O estudante de direito César Peret, também parte da coordenação, disse que a participação dos movimentos e partidos de esquerda ficou “no ar”, mas os grupos não apareceram.
O PDT, a Rede e o movimento Acredito optaram por apoiar o protesto na capital mineira, mas somente representantes do primeiro apareceram no evento. Por volta de 10h40, um grupo de cerca de 20 pessoas do PDT chegou ao ato, portando bandeiras da legenda e cartazes do ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do partido à Presidência que também deve participar do ato na Avenida Paulista, em São Paulo.
Em Salvador, partidários do PDT, Novo e do Livres se uniram no protesto contra o presidente Jair Bolsonaro no Farol da Barra. Fora do foco planejado para as manifestações pelo Brasil, apenas algumas dezenas de pessoas compareceram.
Alguns transeuntes passaram pelo ponto turístico gritando "fora, Bolsonaro". Apesar do esforço pela união suprapartidária, no microfone aberto, quando militantes do Novo falavam, pedetistas saíam, e vice-versa.
Em São Luís, manifestantes se reuniram na Praça do Pescador a partir das 9h para pedir o impeachment do presidente Bolsonaro. Com faixas e cartazes “Fora, Bolsonaro”, o movimento uniu o MBL a representantes do Novo, PDT, Cidadania e Rede, além de integrantes de igrejas evangélicas, em críticas ao presidente.
Para o presidente estadual do Novo no Maranhão, Leonardo Arruda, "Bolsonaro é o maior estelionatário eleitoral do século 21": "Ele enganou todos os seus eleitores e grande parcela da população. Crime de responsabilidade fiscal é carta marcada de seu governo. O impeachment é a saída”.
Na capital do Espírito Santo, a manifestação começou às 9h30, na Praça do Papa. Após a concentração, os manifestantes saíram em carreata pela Terceira Ponte até chegar à Prainha, em Vila Velha. Segundo a PM, cerca de 80 veículos participaram do ato, que foi encerrado sem ocorrências.
Diferentemente do que foi decidido em alguns Estados, no Espírito Santo a manifestação manteve o lema "nem Lula, nem Bolsonaro". Por isso, partidos como o PT e o PSOL não aderiram aos atos. O PSB e o PDT convocaram a militância para os protestos, mas não houve grande adesão.
"Querem dizer que só existe Lula e Bolsonaro, mas não é verdade. Temos tempo hábil de buscar um outro nome que respeite a democracia, que respeite as instituições e que, fundamentalmente, tenha condições de fazer a gestão do Brasil", afirmou Gustavo Peixoto, um dos líderes do movimento Vem Pra Rua ES.
Em Manaus, a manifestação contra o governo federal reuniu cerca de 100 pessoas na Praça São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas, no Centro Comercial da capital amazonense. A manifestação contou com a presença de representantes de partidos de esquerda como o PCdoB.
Um dos participantes foi Yan Ivanovich, que disse que o ato deste domingo inaugura um ciclo de manifestações. “O ato de hoje inaugura um ciclo em que amplos setores da sociedade já começam a mobilizar com maior tempo para 2 de outubro, em que estarão todos juntos pelo impeachment do Bolsonaro. O presidente já demonstrou que não tem compromisso nenhum com o País, apenas com seus filhos. Ele é responsável pelo botijão de gás por mais de R$ 100, da gasolina acima de R$ 7 e por a população não poder mais comprar carne”, afirmou.
Pró-Bolsonaro
Também para esta manhã de domingo estava marcada uma manifestação pró-governo na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O ato, marcado para começar às 9h, teve a adesão de poucos manifestantes. Para garantir a segurança, diversas vias próximas ao local foram bloqueadas pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), que esperava movimentação até às 14h de apoiadores do presidente Bolsonaro.
O cenário na Esplanada nesta manhã era bem diferente da última terça-feira, 7, Dia da Independência. No início deste semana, apoiadores do presidente se reuniram na Esplanada do Ministério para manifestações com pautas antidemocráticas, com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). O próprio presidente participou dos atos em Brasília e na Avenida Paulista, em São Paulo.
Já o ato contrário ao governo, convocado pelo MBL e movimentos da centro-direita, está marcado para acontecer às 15h, também na Esplanada. Assim como pela manhã, a Polícia Militar do Distrito Federal estará no local para acompanhar a movimentação. As vias só serão liberadas quando os manifestantes se dispersarem. "A área central de Brasília permanece sob monitoramento da SSP e forças de segurança locais, por meio do Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob) e equipes em campo. O objetivo é garantir a segurança de todos que circulam na região. O policiamento na região será reforçado", informou a SSP-DF em nota.
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