O aumento do risco de racionamento de energia neste ano tem origem semelhante à da crise de 2001, quando o País foi obrigado a reduzir o consumo de eletricidade. Naquela época, o nível de chuvas foi insuficiente para encher os reservatórios e garantir a passagem tranquila pelo período seco, que vai do fim de abril até outubro. Desta vez, a situação é parecida. As chuvas foram fracas, e os reservatórios estão vazios. A diferença é que hoje a matriz elétrica é mais diversificada, com novas fontes de energia.
Em 2001, quase 90% da matriz elétrica era hídrica e o restante térmica e nuclear. Hoje, esse porcentual caiu para cerca de 68%, e novas fontes ganharam importância na produção nacional, como a eólica, biomassa, solar e térmicas a gás. Ainda assim, a crise atual é um retrato de que a dependência dos reservatórios – e das chuvas – ainda é grande.
“A piora na hidrologia já foi apontada em outubro do ano passado e se aprofundou. Isso tem a ver com as mudanças climáticas”, diz a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum. Segundo ela, desde 2013, a hidrologia vem caindo sensivelmente, sobretudo na área dos grandes reservatórios. Hoje, ao contrário do último racionamento, as soluções para o problema são diferentes. As eólicas, por exemplo, poderão chegar a 18% no pico de geração – isso significa segurar água nos reservatórios.
O professor da UFRJ Nivalde de Castro, coordenador geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), não acredita em apagão neste ano. Mas ele destaca que essa premissa segue duas variantes: o comportamento da demanda nos próximos meses e a entrada em operação de novas plantas – há expectativa de cerca de 10 mil MW de eólicas e térmicas. “De qualquer forma, as tarifas vão subir, pressionando a inflação porque todo o parque de termoelétricas terá de ser despachado continuamente.”
Base antiga
Segundo o presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, o problema é que o setor elétrico é intrinsecamente ineficiente. A base envelheceu. “O preço do sistema está em R$ 250 o MWh (valor do mercado à vista) e estamos chamando térmicas de R$ 1,5 mil.” Além disso, muita gente usa o sistema e não paga, como a geração distribuída que não tem o custo da tarifa fio.
“Há vários modelos que exportam custos e geram ineficiência. O sistema precisa ser modernizado.” Segundo ele, tudo mudou – a tecnologia, o clima e a participação do consumidor –, mas o sistema continua a socializar custos. Para ele, é necessário valorizar os atributos de cada fonte, sem subsídios.
Pedrosa se refere aos chamados jabutis incluídos na MP de privatização da Eletrobrás, que prevê a prorrogação do Proinfa – programa de incentivo às fontes alternativas criado em 2002, quando eólica e solar praticamente não existiam. De lá para cá, as fontes ganharam competitividade com o barateamento dos equipamentos e redução do preço da energia – o que não justificaria mais subsídios para o desenvolvimento das usinas.
Para o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, a expansão das térmicas a gás, prevista para os próximos anos, deverá reduzir o risco do sistema elétrica. Isso porque as usinas operam na base – ou seja, o tempo todo, ao contrário das eólicas e solares que dependem das condições climáticas.
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