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Povos indígenas da Amazônia denunciam discriminação em vacinação

Brasil definiu o grupo como prioritário, mas países vizinhos ainda não preveem a imunização dos indígenas da região.

Líderes indígenas da Amazônia pressionaram os governos dos países da região para garantir o acesso às vacinas contra a covid-19. Denúncias de discriminação foram feitas durante encontro virtual organizado nesta terça-feira, 26, em Quito, no Equador, pela Coordenadoria de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA).

“Vemos discriminação e distribuição desigual nos processos de vacinação: 0,0000001% [dos indígenas vacinados], ou seja, nada”, disse José Gregorio Díaz Mirabal, do povo Wakuenai Kurripaco da Venezuela, coordenador geral da COICA.


O venezuelano acrescentou que “o desenvolvimento da nova onda de covid-19, agora agravado pelo aparecimento da variante brasileira, atinge os mais vulneráveis ​​e revela as tragédias que afetam nossos povos”.

Enquanto o Brasil incluiu indígenas aldeados no grupo prioritário para a vacinação, outros países não apresentaram planos de imunização específicos para as necessidades dessas comunidades, segundo Díaz. Na Colômbia, onde vivem cerca de 2 milhões de indígenas, o governo disse que quando a campanha de imunização começar, em fevereiro, a prioridade será a vacinação de trabalhadores de saúde e idosos acima de 80 anos.

Os líderes indígenas afirmaram durante a reunião virtual que foram abandonados e tiveram que cuidar sozinhos deles mesmos. Testes de covid-19, equipamentos básicos de proteção e atendimento de saúde não estão chegando às comunidades mais remotas da floresta.

A COICA exigiu que o governo brasileiro garantisse o acesso às vacinas para toda a população indígena e que os países vizinhos realizassem as campanhas de imunização. Também emitiu petição aos governos da Amazônia para implantar medidas sanitárias e fronteiras epidemiológicas.

“Diante da inação dos governos”, o coordenador convidou a comunidade internacional a apoiar a arrecadação de recursos humanitários e responder rapidamente à crise por meio do Fundo de Emergência da Amazônia.

“Precisamos de pelo menos cinco milhões de dólares para remédios e alimentos”, disse Tomas Candia Yusupi, do povo Chiquitano, líder da Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia (CIDOB).

Mais de 500 povos indígenas, 66 deles em isolamento voluntário, ocupam sete milhões de km² da floresta amazônica, compartilhada por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, diz a COICA.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), grupos indígenas enfrentam alto risco de infecção e morte pelo coronavírus por conta da má-nutrição e da falta de acesso à água potável e serviços básicos de saúde.

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De acordo com a COICA, desde 2020, houve cerca de 750 mortes relacionadas ao coronavírus em 107 tribos indígenas da Amazônia brasileira.

Francinara Soares, do povo Baré e da Coordenadora das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), disse que a região “vive um cenário de guerra, não só contra a covid-19, mas contra o presidente [Jair] Bolsonaro que trata a pandemia como gripe e garante que nada aconteça."

Bolsonaro, alvo da ira de grupos indígenas por sua defesa do desmatamento na Amazônia brasileira, tem negado persistentemente a gravidade da pandemia que, segundo estudo feito em julho pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), atinge cinco vezes mais a população nativa.

De acordo com Francinara Soares, outro desafio a ser enfrentado é lidar com as notícias falsas e desinformação disseminadas por pastores evangélicos que dizem que as vacinas são desnecessárias e não são seguras. "Evangelizadores não estão se vacinando... alguns pastores estão dizendo que a vacina não é boa", disse ela. "Nós estamos dizendo para os nossos amigos indígenas que precisamos ser vacinados."

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