Ao manter a prisão preventiva dos quatro alvos da Operação Spoofing, o juiz federal Ricardo Leite, da 10ª Vara de Brasília, afirmou que Walter Delgatti Neto, o ‘Vermelho’, pode ter tido ajuda de outras pessoas ao hackear autoridades.
Na decisão, consta laudo de perícia que aponta para a realização de 5812 ligações suspeitas para 1162 números diferentes de telefone. O número de chamadas, com o uso do BRVOZ – sistema usado para hackear celulares de autoridades dos três poderes -, põe em xeque a atuação solitária de ‘Vermelho’, segundo o magistrado.
Em depoimento, Delgatti chegou a dizer que agiu sozinho, e não foi remunerado pelo crime. No entanto, o magistrado também afirma querer saber se ele foi pago. Leite justifica que, livres, os alvos da Operação Spoofing podem voltar a cometer crimes.
Segundo ele, está ‘demonstrada a gravidade do delito e a periculosidade dos investigados que possivelmente formam uma organização criminosa para a prática de crimes, e é indiscutível que a prisão preventiva deve ser decretada’.
“A periculosidade evidenciada pelos custodiados na invasão de aparelhos de diversas autoridades públicas; a utilização de transações em bitcoins, conduta que dificulta o rastreamento de valores movimentados; a impossibilidade de monitoramento real das ativodades dos investigados, se colocados em liberdade, além da falta de detalhamento da extensão desta possível organização criminosa, indicam o encarceramento como única forma de estancar qualquer continuidade delitiva ulterior dos investigados”, anotou.
A Operação Spoofing foi deflagrada no dia 23. Como o juiz da investigação, Ricardo Leite, estava em férias, Vallisney de Oliveira, titular da 10ª Vara de Brasília, autorizou a prisão temporária, que veio a ser prorrogada por mais cinco dias, no dia 27.
Nesta quinta-feira, 1, o prazo da cautelar se esgotaria. A PF e o Ministério Público Federal, no entanto, pediram para que ela fosse convertida em preventiva – ou seja, por tempo indeterminado. Após voltar de férias, Leite decidiu manter os suspeitos de hackear autoridades na cadeia.
O juiz anota a necessidade de apurar a ‘motivação de Walter Delgatti Neto ao repassar informações sigilosas ao sítio eletrônico Intercept, e se recebeu alguma quantia em pagamento’
“O investigado afirma ter agido sozinho e não ter recebido nenhuma vantagem em troca das mensagens capturadas das contas do Telegram de suas vítimas. Ocorre que, dos novos elementos probatórios trazidos pela autoridade policial, da análise dos computadores e discos rígidos arrecadados na residência de Walter Delgatti Neto, laudo pericial atestou a realização de de 5.812 ligações suspeitas no sistema da BRVOZ que tiveram como alvo 1162 números distintos, o que revela a possível atuação de outras pessoas juntamente com Walter”, afirma o juiz.
Para manter presos os demais nomes, além de ‘Vermelho’, o juiz fundamentou principalmente nas suspeitas de que cometeram crimes como fraudes bancárias. “Foram encontradas mensagens nos aparelhos celulares apreendidos na residência de Suelen Priscila de Oliveira e Gustavo Henrique Elias Santos, evidenciando que Suelen tinha conhecimento e praticava fraudes bancarias”.
O juiz Ricardo Leite frisou que não se comprovou a origem lícita da quantia de R$ 99 mil em espécie apreendida com o casal. “Há diversas lacunas que não foram esclarecidas com a origem do montante de R$ 99 mil encontrados na residência de Gustavo e de Suelen”.
O magistrado ainda quer saber em ‘que constituiu a participação de Danilo já que surgiram fortes indícios de que tinha total conhecimento da prática delitiva, desconstituindo as suas declarações perante a polícia de que agiu em razão de amizade que tinha com Walter’. “Além disso, o próprio Walter Delgatti declarou sua habilidade em informática, sendo que solto poderá destruir provas”.
Entre as vítimas de ataques no período investigado pela Operação Spoofing, estão o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça Sérgio Moro, o presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, o presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha, o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, além de procuradores, magistrados, políticos, jornalistas, que integram a lista de aproximadamente mil vítimas.
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