A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) acaba de divulgar os resultados da avaliação PISA (Programme for International Student Assessment) realizada em 2018. Essa prova avalia o desempenho de estudantes com 15 anos de idade e ao menos seis anos de escolaridade formal nas áreas de leitura, matemática e ciências dos países membros da organização, assim como de um conjunto de países parceiros, entre eles o Brasil.
De maneira geral, em ciências é avaliada a habilidade de se engajar com assuntos relacionados à ciência; uma pessoa com letramento científico está disposta a se engajar em debates sobre ciências e tecnologia que requerem competências para explicar cientificamente um fenômeno, assim como avaliar e construir pesquisas científicas, interpretar dados e evidências. Em matemática é avaliada a capacidade do estudante de formular, aplicar e interpretar a matemática em contextos variados, o que inclui a utilização de conceitos, procedimentos e ferramentas matemáticos para descrever, explicar e prever fenômenos. Por fim, em leitura é avaliada a capacidade do estudante de entender, usar, avaliar e refletir a partir de textos com o intuito de desenvolver seu conhecimento e participar da sociedade (PISA, 2018).
Por dentro do PISA 2018
Nesta edição participaram 600 mil estudantes, representando 32 milhões de jovens de 15 anos de idade oriundos de 79 países. Em termos de cobertura, o Brasil aumentou a participação dos jovens elegíveis ao PISA, que em 2003 era de 55% e passou para 65% nesta edição. Ainda assim, permanece entre os dez países com a menor taxa de cobertura, o que reflete os desafios de distorção idade-série e abandono escolar que ainda comprometem sobremaneira a trajetória escolar dos jovens brasileiros.
Em relação aos resultados nas áreas de conhecimento avaliadas, o Brasil mostra que ainda há muito para avançar na qualidade do ensino ofertado, apesar do tímido aumento nos resultados desde 2003. A média em leitura foi 413 pontos, ocupando o 57º lugar, à frente dos vizinhos Peru, Argentina e Colômbia e atrás do México, Uruguai e Chile. A China (Beijing, Shanghai, Jiangsu and Zhejiang – B-S-J-Z) teve a maior pontuação, 555, e as Filipinas a menor, 340 pontos. Em ciências o Brasil ocupa a 66º colocação, com 404 pontos, juntamente com Argentina e Peru. Em matemática a situação é mais dramática, o Brasil ocupa a 70ª posição com 384 pontos (Gráfico 1).
Ao analisar a proporção de estudantes que alcançaram os níveis mais altos de desempenhos (níveis 5 ou 6) em relação àqueles que ficaram nos níveis mais baixos (abaixo do nível 2), observa-se que os países que têm melhores desempenhos são também aqueles cuja presença de estudantes nos níveis inferiores é muito pequena. Já o inverso também se observa, entre os países com baixo desempenho uma parte pequena dos estudantes está nos níveis mais altos e grande parte permanece nos níveis baixos, como é o caso do Brasil que concentrou 43,2% dos seus estudantes abaixo do Nível 2 (Gráfico 2).
Ainda que a condição socioeconômica se mostre um preditor forte de desempenho, essa situação não se mostra um destino intransponível. No Brasil, aproximadamente 10% de estudantes em condições socioeconômicas baixas foram capazes de ficar entre os 25% com melhores desempenho em leitura; resultado próximo da média da OCDE, de 11%.
Sobre o comportamento dos estudantes brasileiros em sala de aula, 41% reportaram que, na maior parte das aulas, seus professores precisam esperar um bom tempo até os estudantes ficarem em silêncio, essa proporção entre os países da OCDE é de 26%. Em relação ao compromisso com a aprendizagem, 50% relataram ter faltado um dia na escola e 44% chegaram atrasados na aula nas duas semanas que antecederam o teste do PISA.
Mais uma vez o PISA nos mostra que não conseguimos superar as fragilidades presentes tanto na qualidade do ensino quanto nas condições de permanência e fomento do compromisso dos estudantes com o ambiente escolar. A boa notícia é que um conjunto de ações de grande magnitude estão sendo postas em prática no País, tais como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tanto do Ensino Fundamental quanto do Ensino Médio, a Base Nacional de Formação Docente, mudanças no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) no sentido de adequar suas matrizes à BNCC e incorporar a avaliação de ciências, expansão das escolas de Ensino Médio em tempo integral, além de iniciativas de colaboração entre estados e municípios para garantir que a etapa da alfabetização tenha a qualidade necessária. Nesse sentido, o País não indica que irá continuar acumulando maus resultados, mas sim que agirá ao longo dos próximos três anos para ver como essas iniciativas se refletirão no resultado do PISA 2021.
* Filomena Siqueira, coordenadora de projetos educacionais do Instituto Natura
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