Assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional, do governo federal, o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse que “é favorável” à liberação para comércio e produção de medicamentos à base de canabidiol, mas fez uma ressalva. “Antes, quero deixar bem claro que sou contra a liberação da maconha, não por motivo ideológico, mas porque as pesquisas científicas demonstram o quão nociva ela é”, declarou ao Estado.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nessa terça-feira, 3, por unanimidade, a regulamentação do registro e da venda de medicamentos à base de cannabis em farmácias e drogarias no Brasil. A norma entrará em vigor em 90 dias e, segundo a agência, deve melhorar vida de milhões de pacientes que dependem desses medicamentos. A diretoria da agência decidiu vetar, porém, o plantio da erva em território nacional para fins científicos e medicinais.
O general afirmou ainda que concorda com o veto o plantio de maconha em território nacional. “A fiscalização seria muito difícil”, argumentou. Questionado sobre se considerava a maconha uma droga ou um remédio, o general foi enfático: “Maconha é droga”.
Diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) em 2016, o ex-comandante não faz uso do canabidiol, pois o tratamento não é recomendado para o seu caso. “Houve uma recomendação por um médico italiano. Mas o meu neurologista no Brasil, Dr. Acary Souza Bulle Oliveira, disse que os mesmos benefícios do canabidiol poderiam ser encontrados em outros medicamentos. Então, eu não usei”, comentou.
O general fez questão de condenar o uso genérico de maconha. "A Associação Brasileira de Psiquiatria tem dados que mostram os efeitos destrutivos da droga. Os índices de suicídio crescem muito com o seu uso." E emendou: “Quanto ao uso medicinal, eu achava até um contrassenso não ser aprovado. Mas reitero que não sou a favor do uso da maconha, mas do uso medicinal do canabidiol”.
Sobre a proibição do plantio de maconha no País, o general disse ser contrário a qualquer flexibilização, "mesmo que para fins medicinais”. Depois de salientar que não sabe como essa questão é regulamentada, Villas Bôas falou sobre sua preocupação com a fiscalização, caso o cultivo fosse liberado. “Quais seriam os instrumentos necessários para essa fiscalização?”, questionou. "Não pode liberar a plantação porque a fiscalização seria muito difícil.”
Nesta quarta-feira, 4, o ex-comandante do Exército inaugura, em Brasília, o Instituto General Villas Bôas, que terá entre seus objetivos ajudar as pessoas com algum tipo de limitação a conviver com as doenças, conhecer seus direitos, trocar experiências de tratamentos e incluí-las na sociedade, mantendo-as ativas.
O instituto vai também tratar da preservação de suas ideias e de seu trabalho como oficial do Exército Brasileiro e debater o modelo de desenvolvimento do Brasil. Questionado sobre se pretende usar o instituto para defender o uso do canabidiol para tratamentos, o general respondeu: “Não se trata de defender e sim de proporcionar condições para que as pessoas que necessitam tenham condições de acesso. Claro que, condicionado à recomendação médica”.
Villas Bôas disse que nunca conversou com o presidente Jair Bolsonaro sobre a liberação do canabidiol para tratamento. Indagado se ainda pretende debater o assunto, argumentou que, primeiro, quer conversar com os ministérios da Saúde, da Justiça e da Cidadania, que estão envolvidos no caso. O ex-comandante demonstrou ainda uma certa preocupação com a possibilidade de desvios no uso da droga decorrentes da decisão da Anvisa. “É preciso ter responsabilidade com isso e uma estrutura de fiscalização adequada para evitar desvios.”
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