A Folha de S. Paulo fez um levantamento sobre o tempo de permanência dos dirigentes das confederações e federações de agricultura, indústria, comércio e transportes do Brasil e resultado mostrou um sistema envelhecido, com baixa rotatividade e diversidade, cada vez mais político, e sobre o qual pairam suspeitas de nepotismo, desvio de recursos e corrupção.
O levantamento traz nomes como o de Fábio de Salles Meirelles, que está na presidência da Faesp (Federação da Agricultura de São Paulo) deste 1975, ou seja há 43 anos. Ele é o líder do patronato brasileiro que está há mais tempo no cargo.
Constam ainda na lista Antônio José Domingues de Oliveira, que está há 38 anos na presidência da CNC (Confederação Nacional do Comércio), além de José Arteiro da Silva, Abram Szajman e José Roberto Tadros que estão no comando das federações do comércio de Maranhão, São Paulo e Amazonas há, respectivamente, há 35, 34 e 32 anos e José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura de Santa Catarina há 28 anos.
- Foto: SENAR/SCJosé Zeferino Pedrozo, presidente d Federação da Agricultura de Santa Catarina
Das 99 confederações e federações de agricultura, indústria, comércio e transportes do Brasil pesquisadas 41 presidentes já ultrapassaram oito anos no cargo e 17 dirigentes estão no comando há mais de duas décadas.
Atualmente não existe nenhuma mulher na cúpula do patronato — a mais importante delas foi a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), que deixou a presidência da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) no ano de 2016.
Trampolim Eleitoral
Ainda de acordo com a reportagem, o sistema sindical patronal se tornou um trampolim eleitoral, como já ocorreu com sindicatos de trabalhadores e cujo exemplo mais impactante é o ex-presidente Lula.
- Foto: Flávio Florido/Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Sebrae-SP/DivulgaçãoPaulo Skaf, presidente licenciado da Fiesp
Pelo menos dez comandantes de federações estão licenciados em todo o país para se candidatar em outubro, entre eles está Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que concorre ao Governo.
Desinteresse e politicagem
A Folha apurou que a falta de disposição das multinacionais, que chegaram em peso ao Brasil nos últimos anos, para o comando de entidades e o abuso de poder por parte do comando das federações, que se aproveitam da pouca representatividade e do baixo poder econômico de muitos sindicatos para conquistar voto com pequenos favores são os fatores que explicam a longevidade dos líderes.
Há também casos de fraude, com sindicatos que existem apenas no papel como, por exemplo, o do Amapá, onde Sesi e Senai estão sob intervenção desde 2013, quando a então presidente da Fiap (Federação das Indústrias do Amapá), Joziane Araújo Rocha, foi afastada acusada de forjar a existência de sindicatos para controlar a federação e de desviar recursos do sistema S.
É comum ainda que um mesmo grupo político permaneça no comando, mesmo quando há a troca do presidente.
Na Fetracan (Federação das Empresas de Transporte de Carga do Nordeste), Newton Gibson assumiu a presidência em 1989, dois anos após a fundação, e ficou até 2015, quando adoeceu. Ele deixou o filho, Nilson Gibson como presidente interino, que acabou eleito em 2017.
Há nove anos, os representantes do sindicato do Ceará travam uma batalha judicial para assumir o comando da Fetracan, sem sucesso.
Ver todos os comentários | 0 |