A primeira mulher a presidir a Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania , Enéa de Stutz e Almeida , disse estar decepcionada com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vetar até mesmo manifestações da pasta em referência ao golpe militar de 1964, que completa 60 anos neste 31 de março.

“Foi um verdadeiro choque quando recebi a notícia [de que a pasta estava proibida de fazer menções ao golpe de 64]. Não consigo entender por que o presidente Lula entende que é necessário investigar, processar e, se for o caso, responsabilizar aquelas pessoas envolvidas em uma tentativa de golpe como aconteceu em 2023, mas não vê razão para falar sobre o golpe. O golpe de estado que aconteceu em 1964 teve consequências muito nefastas para o Brasil e tem até os dias de hoje...Muita perplexidade e uma certa decepção, uma certa indignação tem sido a minha reação [em relação à decisão de Lula]”, disse Eneá de Stutz em entrevista ao veículo de comunicação Poder 360 .

"Incoerente"

Para ela, não faz sentido mencionar o período de Holocausto (como o presidente fez recentemente ao comparar guerra na Faixa de Gaza com os horrores da Segunda Guerra Mundial), e depois falar em “parar de remoer o passado” em referência a um golpe que aconteceu no Brasil.

“O presidente [Lula] falou sobre o Holocausto recentemente. Ué, o Holocausto faz mais tempo que o golpe militar no Brasil. Mas aí falar no golpe é remoer o passado, mas do Holocausto não? É incoerente […] Crime contra a humanidade é crime contra a humanidade, não tem isso de ser pouco tempo ou muito tempo. Não podemos entrar no modo negacionista, pessoas morrem, seja na saúde ou na proteção da democracia”, declarou Eneá de Stutz em outro trecho da entrevista.

Paralelos entre falas de Lula e Bolsonaro

Eneá traçou paralelos entre falas de Lula e Bolsonaro, apesar de defender que os dois têm visões diferentes sobre a Ditadura Militar. Durante ato na Av. Paulista em 25 de fevereiro, o ex-presidente defendeu a anistia aos participantes do 08 de Janeiro em prol de uma “pacificação” da situação.

“Me pareceu um tanto incoerente, porque o governo quer que os envolvidos no 08 de janeiro sejam investigados e processados. Então é para você tentar apurar a tentativa do ano passado, agora o golpe, não, isso vamos passar a borracha. Quem disse isso foi o Bolsonaro no 25 de fevereiro, na Avenida Paulista. Ele quem falou em impunidade e passar borracha”, declarou Eneá.