Foto: Marcelo Cardoso/GP1
Desembargador Edvaldo Moura

Edvaldo Pereira de Moura
Desembargador do TJ-Piauí. Mestre em Ciências Criminais pela PUC-RS. Membro da Academia Brasileira de Letras da Magistratura – ABLM. Vice-Presidente do COPEDEM, do IMB e Professor de Direito Penal e Processual Penal da UESPI.

Por especial e generosa deferência, que muito me honrou e envaideceu, o Promotor de Justiça José Hamilton Bezerra Lima, com quem tive a satisfação de trabalhar durante vários anos, incumbiu-me da prazerosa tarefa de prefaciar sua interessante e bem pensada obra - Coletânea de Sabedorias Diversas - que, com certeza, será bem recebida pelo público leitor piauiense.

Aceitei comovidamente lisonjeado, tão gratificante convite e depois de uma rápida, mas atenciosa leitura, cumpri a missão de que me encontrava encarregado. Fi-lo, por estar certo de que seria absolvido por eventuais falhas ou deslises.

Russell Jacoby, dos departamentos de História e Educação da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Estados Unidos, em sua obra "O Fim da Utopia - política e cultura na era da apatia", cita que, em 1799, Samuel Coleridge escreveu a seu amigo William Wordsworth pedindo que ele, de algum modo, contestando o mal-estar e a resignação generalizada, "escrevesse um poema, em versos brancos, dirigido àqueles que, em consequência do total fracasso da Revolução Francesa, desistiram de toda e qualquer esperança de aperfeiçoamento do homem e da sociedade em que ele vive, por não acreditarem nos verdadeiros valores humanos, impulsionados pela pregação utópica dos nossos aguerridos e visionários filósofos.

Parece, até, que não estamos há duzentos anos do momento em que aquela mensagem foi escrita. Nossas preocupações de hoje não diferem daquelas que angustiavam Samuel Coleridge, diante da desconstrução de toda uma escala axiológica, construída pelas nossas sábias e comprometidas gerações. O mundo da cultura e da política parece ter decretado o fim dos sonhos na melhoria do homem, com a certeza lúgubre de uma era infindável de apatia e de incertezas.

Os falsos profetas multiplicam-se, com as suas perspectivas funestas e sombrias, e as  utopias, que nos alentam as esperanças por dias melhores,  não encantam mais os pensadores modernos. A destemperança e o cinismo enleiam as utopias, com os fios vis e pegajosos da distopia absoluta, que se multiplica como a Hidra de Lerna.

A distopia já contaminou as mentes dos nossos jovens e dos visionários filósofos pelos mais variados meios de comunicação de massa. O pragmatismo vem sepultando todos os sonhos e o direito amolda-se à justiça pretendida por uma minoria, pouco ou nada comprometida com os  supremos interesses do homem.

O nosso barco estaria à deriva? Felizmente, não, porque o messianismo de um mundo melhor, continua em sua pregação, solitária e peregrina, defendendo a paz e a crença nas insondáveis possibilidades do homem, por acreditar nos seus sonhos e ideais mais nobres.

A bela e inteligente Coletânea de Sabedorias Diversas, de José Hamilton Bezerra Lima, acomoda muito bem pensamentos, poemas, apólogos, artigos e ensaios, e garantirá uma leitura sem fadiga nem tensões. A aludida obra funciona como uma lição de autoajuda e aprimoramento moral e espiritual, ajustáveis aos momentos em que vivemos.

Iniciamos nossas considerações, falando de uma época sombria e distópica, em que a apatia e a descrença na melhoria do homem e na existência de uma sociedade mais próspera, justa, humana e fraterna, recorrendo a um dos pensamentos, que adornam tão interessante obra:

Não se esqueça de que somos o reflexo daquilo com que sonhamos. O pensamento plasma a nossa vida e por isto aproveite o momento que passa, a fim de construir um amanhã risonho. Plante em torno de você as sementes de otimismo e bondade, para que possa colher, no futuro, os frutos do amor e da felicidade. Se somos escravos do ontem, somos donos de nosso amanhã.

Teresina, 20 de novembro de 2012.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1