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* Arthur Teixeira Junior

Imagem: ReproduçãoArthur Teixeira Junior(Imagem:Reprodução)Arthur Teixeira Junior
Sexta-feira finalmente revi Isabel, no mesmo restaurante e no mesmo macabro uniforme. Ela veio até minha mesa, esbanjando aquele sorriso maravilhoso, agradeceu a citação que lhe fiz em uma crônica anterior e deu-me, num pedacinho de papel, o endereço de seu “Face”.

Inútil, nunca aprendi a manipular estas ferramentas modernas de comunicação. Sou do tempo que paquerávamos pelos “Correios & Telégrafos”. Caprichávamos a caligrafia na melhor folha de nosso caderno, recortávamos cuidadosamente aquelas rebarbas que ficavam quando arrancávamos a folha da espiral metálica, colocávamos naqueles envelopes com as margens listradas em verde-amarelo, colávamos com goma arábica e levávamos ao posto dos Correios. Demorava uma semana para a cartinha ir de um bairro a outro. Angustiante.

Quando saí do restaurante, após uma silenciosa despedida a distância com meu olhar de cachorro perdido, na melhor moda antiga, fui até uma floricultura que funcionava 24 horas. Era 21h45min, mas já não havia mais ninguém para atender. Uma apressada suposta funcionária, antes que eu manifestasse qualquer intenção, foi logo avisando que naquele horário não faziam mais ramalhetes.

_ Mas aqui não é uma floricultura “24 horas”? – indaguei

_Não, a placa está errada. Fechamos às 10 da noite.

_Mas ainda são 15 para as dez – argumentei, apontando para um enorme relógio na parede por detrás do balcão.

_O relógio está atrasado...

Placa errada, relógio atrasado, atendente com pressa para ir embora, achei melhor encurtar a conversa.

_Pois vou levar este vasinho aqui _ apoderei-me de um pequeno arranjo que estava em uma vitrine.

_São quarenta reais, mas a moça do financeiro já fechou o caixa e foi embora.

_Pois vou levar assim mesmo e passo amanhã aqui para pagar _ eu estava agora virando o jogo...

_Bem, assim sendo, se o dinheiro estiver trocado, eu mesmo recebo...

_Tenho trinta reais trocado...

_Serve – disse, esticando a mão prontamente.

Duvido que o dono da floricultura vá ver este dinheiro... Em Teresina, quem morrer depois das dez vai ter um velório sem flores, e os apaixonados devem se prevenir antes de qualquer paquera.

Caprichei no cartãozinho e lá escrevi o número de meu celular. Contratei um mototáxi para entregar o mimo.

Passei a manhã de sábado verificando se aquele maldito aparelhinho estava funcionando, se a bateria estava carregada e havia sinal de área... abobado.

Finalmente ela ligou, marcamos para nos encontrarmos na próxima semana. Vou nos meus melhores panos, barba feita, cabelos aparados e carro lavado. Até lá, que meu filho Breno tenha paciência comigo, pois salguei o suco de maracujá, queimei o arroz, deixei o cachorro trancado para fora, perdi a chave do carro e temperei a salada com detergente...

Enquanto isto, meu patrão resolveu processar-me novamente. Nomeou um comitê de Inquisição, composto por três importantes funcionários, todos deslocados de suas produtivas funções para questionar-me se, quando citei em uma crônica anterior um “bigodudo boiola”, estava referindo-me ao Gerente Geral. Explicarei: nem todo bigodudo é boiola e nem todo boiola é bigodudo. Agora, se tem um bigodudo boiola e que também é Gerente Geral, a culpa decididamente não é minha.

Se nosso “Big Boss” utilizasse suas incontidas energias para, ao invés de processar-me por crônicas que todos alegam que não lêem, exigir de nossa Matriz o pagamento aos funcionários de uma verba salarial, já determinada pela Justiça, que nos é devida desde janeiro de 2.013...

Entretanto, parece que alguns por estas bandas nunca brincaram de teatrinho na pré-escola, nem leram Chapeuzinho Vermelho ou Branca de Neve. Não sabem diferenciar uma reportagem de uma fantasiosa crônica. Utilizo de situações e personagens frutos de minha imaginação. Portanto, se alguém aí tiver uma esposa ou amante chamada Isabel, não é a ela que estou referindo-me.

Invejo meu primo que trabalha numa Instituição que respeita a liberdade de opinião, apóia e incentiva as manifestações artísticas e literárias de seus colaboradores, além de ter afixado em todos os locais de trabalho a transcrição do artigo 5º de nossa Constituição.

Para animar os trabalhos deste comitê inquisidor, sou capaz de mostrar-lhes alguns documentos que guardei e que podem demonstrar que o pessoal da Administração sabia, há pelo menos nove anos, que o Tião Ramirez utilizava-se dos recursos da Empresa para fins particulares e que cheques coorporativos utilizados para estes fins já haviam sido devolvidos duas vezes. Será emocionante.

* Arthur Teixeira Junior é funcionário público

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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