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Deusval Lacerda de Moraes *

Imagem: ReproduçãoClique para ampliarDeusval Lacerda(Imagem:Reprodução)Deusval Lacerda
Há poucos dias foi divulgado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ministério da Educação (MEC) mostrando que o ensino médio no Brasil há muito tempo precisa de reestruturação. O Piauí atingiu nota 3,2, quando a meta oficial era 3,7, portanto 0,5 abaixo do estipulado pelo MEC. Ora, se o ensino médio no País não é lá essas coisas que dirá o ensino médio piauiense que está aquém do projetado, o que assim urge reformulação do sistema, porque do jeito que está o aprendizado escolar não prepara o aluno para avançar nos degraus da educação formal visando o mercado interno de trabalho extremamente competitivo e seletivo.

Segundo o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), doutor em química pela Unicamp, Mozart Neves Ramos (membro do Conselho Nacional de Educação), no artigo publicado na seção Tendências/Debates do Jornal Folha de São Paulo (Evitar a dispersão é uma das mudanças), de 25 de agosto de 2012, o Brasil tem hoje uma escola pública do século 19 e um professor do século 20 para um aluno do século 21. Disse ainda o catedrático que o jovem termina o ensino médio sabendo um pouco de cada matéria oferecida, mas sem um direcionamento para a área em que possa ter mais interesse, que faça mais sentido para a sua vida estudantil. E isso não é suficiente para o tamanho do problema dessa etapa de estudo.

Preocupado com os resultados recém-anunciados pelo Ideb, o professor também da UFPE, Celso Pinto de Melo, doutor em física pela Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), também em artigo no Jornal Folha de São Paulo (Precisamos de mais ciência, não de menos) da mesma edição, disse que os dados do Ideb revelam a trágica realidade das nossas escolas nos níveis fundamental e médio. Disse inclusive que a tragédia da educação brasileira não corresponde a acidente de percurso, sendo antes “obra de séculos” de descaso. Ainda disse que a escola pública de excelência dos anos 1940 e 1950 era limitada a uma fatia privilegiada de nossa população. E que a grande novidade da educação brasileira no século 21 é a democratização do acesso, a universalização do ensino fundamental.

O professor Celso de Melo afirma que o Brasil é hoje a quinta maior economia do mundo, mas, quando comparados internacionalmente a outros jovens de 15 anos, nossos adolescentes ocupam os últimos lugares em compreensão da linguagem e conhecimentos em matemática e ciências. Por isso, é urgente uma reforma no currículo do ensino fundamental e médio para que as ciências se tornem mais adequadas à realidade dos jovens da atualidade. Para o professor, o Brasil mais justo, soberano e economicamente competitivo que imaginamos precisará de mais, e não menos, ciência. Ou seja, o cidadão funcional deste século precisará saber integrar o conhecimento de várias áreas para poder tomar decisões em assuntos como saúde e segurança ambiental, consumo responsável, uso da biotecnologia etc.

Assim, os educadores retro mencionados propugnam por reformas substanciais no ensino fundamental e médio, com mais recursos, melhor gestão e vontade política. Também estabelecer com os estados um pacto nacional pela escola dos jovens, pois a competitividade da economia brasileira vai depender da habilidade de formar quadros técnicos capazes não apenas de fazer, mas também de continuar a aprender em sua vida profissional. No Piauí, que o ensino médio está abaixo da crítica, convém empreender verdadeira cruzada para, enquanto a reforma educacional brasileira não vir, atingir-se a meta do MEC, evitando se passar outra vez por tamanho vexame. Pois é como diz o doutor Celso de Melo: “Os indicadores do Ideb nos causam dor. Podemos negar a imagem por eles refletida ou, com coragem, enfrentar o problema”. A Secretaria de Educação do Estado deveria seguir o dito acima, e criar coragem para enfrentar a vergonha nacional do seu ensino médio e com altivez de espírito público-educativo buscar ao menos o resultado estabelecido pelo Ideb.

* Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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