A urgência do Governo Lula em aprovar um pacote fiscal com quatro matérias antes do recesso parlamentar trouxe à tona dificuldades nas negociações com partidos da base aliada e intensificou as pressões por trocas ministeriais e liberação de emendas parlamentares. O ponto crítico é a insatisfação dos deputados com a decisão do ministro Flávio Dino, do STF, que estabeleceu critérios mais rigorosos para a execução das emendas. Para avançar, o Planalto liberou R$ 8 bilhões em emendas nesta semana, parte dos R$ 10 bilhões previstos para 2024, em uma tentativa de garantir apoio no Congresso.
Enquanto negocia, o governo enfrenta resistência de partidos como PSD e União Brasil, que reivindicam maior protagonismo no Executivo. O PSD, com três ministros no governo, argumenta que apenas um deles representa os deputados e considera o Ministério da Pesca, atualmente sob sua gestão, insuficiente. O partido pede uma pasta mais significativa, com maior capacidade de entregas. Além disso, a legenda se queixa de ter sido preterida em outras disputas internas, como a escolha de candidatos para a presidência da Câmara e a distribuição de órgãos estratégicos, como a Funasa.
Outro desafio envolve o conteúdo do pacote fiscal. A inclusão de medidas como a limitação dos supersalários, proposta que enfrenta resistência da elite do Judiciário, e mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), criticadas por partidos como PDT e União Brasil, dificultam o consenso. Também há insatisfação das Forças Armadas com possíveis alterações nas regras de aposentadoria, ponto ainda não formalizado pelo Executivo. A expectativa é que o ministro Flávio Dino revise parcialmente sua decisão sobre as emendas nas próximas semanas, um movimento considerado essencial para destravar as negociações.
As articulações políticas incluem ainda uma ampla estratégia para as eleições de 2026. O governo busca consolidar alianças com partidos como MDB e Podemos, além de fortalecer sua base tradicional, composta por legendas como PSOL, Rede e PCdoB. Lula também tenta neutralizar a oposição de partidos como União Brasil, PP e Republicanos, oferecendo cargos em estatais e agências reguladoras. No caso do MDB, a estratégia envolve isolar figuras próximas ao bolsonarismo, como Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, e Sebastião Melo, de Porto Alegre, favorecendo setores mais alinhados ao Planalto.
Com um esforço para aumentar seu tempo de televisão e os recursos do fundo eleitoral em 2026, o governo de Lula procura reforçar sua estrutura política para enfrentar a direita.
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