Após dois anos sem partido e meses de tratativas, o presidente Jair Bolsonaro selou sua volta ao Centrão nesta terça-feira, 30, ao se filiar ao Partido Liberal (PL) pelas mãos de Valdemar Costa Neto, presidente do partido. A cerimônia teve críticas a Sérgio Moro (Podemos) e simbolizou um esboço da aliança eleitoral que o Palácio do Planalto costura pela reeleição de Bolsonaro em 2022, com presença da cúpula do Progressistas e do Republicanos, partidos com que o presidente também negociou.
Ao discursar no evento, Bolsonaro disse que "nenhum partido será esquecido" e que irá compor nos Estados para senador e governador. Na cerimônia, aberta com uma oração do pastor Marcos Feliciano (Republicanos-SP), um dos cerca de 20 deputados que entrarão na legenda, Bolsonaro destacou sua carreira política como parlamentar e tentou desvencilhar a imagem de governo militar.
Ao lado de ministros, Bolsonaro argumentou que "dizem que o governo é militar", mas ressaltou que há varios de origem parlamentar.
Quase todo o primeiro escalão do governo estava presente. Ministros generais do Exército apareceram na cerimônia, mas não se pronunciaram. Entre eles Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que associou integrantes do Centrão a ladrões durante a campanha eleitoral de 2018.
"Estou me sentindo em casa. Vim do meio de vocês, fiquei 28 dentro da Câmara dos Deputados", disse Bolsonaro aos parlamentares presentes. "A decisão não foi fácil. Uma filiação é como um casamento. Não seremos marido e mulher, seremos uma família."
O presidente desconversou sobre a campanha pela reeleição, embora seus aliados tenham indicado que "em 2022 é 22", referência ao ano que vem e à legenda do PL. Bolsonaro disse que a cerimônia num auditório lotado de um hotel em Brasília era simples e não de lançamento de ninguém a cargo nenhum. No entanto, foi aclamado candidato.
Evento
No evento, o PL lembrou de programas e marcas do governo Bolsonaro. Cartazes destacavam os leilões da tecnologia 5G, a nova legislação do saneamento, a integração do São Francisco e o Auxílio Brasil.
"O presidente que fez o maior programa social do mundo agora é do PL", destacava a decoração da mesa composta pela cúpula do Centrão, Bolsonaro, seus filhos, parlamentares e ministros.
Valdemar Costa Neto, por sua vez, afirmou o PL empunha as bandeiras do governo, ao dar as boas-vindas a Bolsonaro. "Temos a exata responsabilidade ao empunhar as bandeiras de sua obra à frente de um governo que nunca se intimidou", disse Valdemar.
Pragmatismo
O político Valdemar Costa ressurge como expoente da política nacional e absorve entre 20 e 30 deputados bolsonaristas que vão migrar com Bolsonaro. O presidente, por sua vez, terá mais estrutura, mais tempo de TV e mais recursos para a campanha do que teve na disputa anterior, pelo PSL.
Recebido como estrela no evento da filiação, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, confirmou a preocupação pragmática. "É o melhor partido para o presidente, hoje", disse. Ele deve ser o candidato do bolsonarismo ao governo de São Paulo.
O deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), que também deve mudar de partido, vai na mesma linha. "Não existe partido de direita no Brasil, tem que se adequar ao que tem", disse.
O PL chegou ao evento de filiação sem solucionar o impasse que chegou a adiar o casamento político com Bolsonaro. Em estados como Rio Grande do Norte e Bahia, o partido apoia e participa de governos do PT, e resiste à aliança com o atual presidente.
Caciques do PL não descartam destituir diretórios estaduais que não aceitarem o novo alinhamento político. "Estão sendo dirimidos alguns problemas mais acentuados. Estimo aí que muito poucos (precisarão ser destituídos), no máximo um", afirmou Wellington Roberto, líder do partido na Câmara.
Hoje, o PL é o terceiro maior partido da Câmara, com 43 deputados. Deve passar dos 60, com as novas filiações, e se consolidar como o maior. O tamanho da bancada eleita influencia a quantidade de recursos públicos recebidos pelo partido. Em 2020, o PL teve acesso a um fundo eleitoral de R$ 117 milhões para campanhas e a um fundo partidário de R$ 45,7 milhões.
Além de Bolsonaro, também se filiaram no ato ao PL o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
Flávio classificou Moro, ex-ministro da Justiça e Segurança Público, de "traidor" e disse que o pai foi "humilhado" por ele. "A política pode perdoar traição, mas não perdoa o traidor. Obrigado por não terem traído o presidente Bolsonaro", disse Flávio em referência ao ex juiz Sérgio Moro. "Traidor é aquele que por ação ou omissão interfere na Polícia Federal. Traidor é quem não tomou providências para descobrir quem mandou mandar Jair Bolsonaro."
Flavio também disse que o ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder em pesquisas de intenção de voto, "é um ex-presidiário" e que a "farsa está aí".
O senador disse que "vamos vencer o vírus, vamos vencer qualquer traidor e qualquer ladrão de nove dedos pelo bem do Brasil".
Em mais uma frente e apressar da campanha contrária empreendida pelo presidente, Flávio afirmou que todas as vacinas contra covid-19 aplicadas no Brasil "se devem ao governo Bolsonaro", uma forma de neutralizar o ativo eleitoral do pré-candidato do PSDB, João Doria.
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