Sete candidatos do PSL em Pernambuco repassaram R$ 1,2 milhão em recursos de campanha na eleição de 2018 para a empresa de um dirigente do partido no Estado. Apesar do montante declarado em produção de materiais gráficos, só um dos políticos foi eleito: o próprio atual presidente nacional do PSL, o deputado federal Luciano Bivar.
À época, quem estava à frente do partido e era responsável pela liberação dos recursos para as candidaturas era Gustavo Bebianno, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República do governo Jair Bolsonaro. Bebianno vem protagonizando uma crise no governo em função das suspeitas de desvios de recursos do Fundo Partidário destinados ao PSL por meio de candidaturas laranjas em 2018.
- Foto: Wilton Júnior/Estadão ConteúdoGustavo Bebianno
A empresa favorecida pelos contratos de campanha em Pernambuco foi a Vidal Assessoria e Gráfica, que pertence a Luis Alfredo Vidal. Ele é vogal (dirigente com direito a voto) do Diretório Estadual do PSL de Pernambuco e participa de reuniões e votações do partido. A sócia dele, Josiane Maria da Silva, também já foi filiada ao partido.
Em sua página do Facebook, que foi apagada na quarta, 13, Vidal aparecia em diversas fotos ao lado de Bolsonaro na casa do presidente, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Em outras imagens, o dirigente do PSL pernambucano aparece em Brasília ao lado do senador Flávio e do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filhos de Jair.
A empresa funciona em um pequeno imóvel em Amaraji, cidade de 22 mil habitantes na Zona da Mata de Pernambuco, Estado de Bivar. Dentro do local, há equipamentos gráficos de pequeno porte e adesivos da campanha de Bivar afixados nas paredes.
Bivar foi o candidato que mais contratou com a Vidal – R$ 848 mil, segundo os dados de sua prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Reeleito deputado federal, Bivar também foi o candidato que mais recebeu mais verbas do fundo especial de financiamento de campanha do PSL nacional (R$ 1,8 milhão). O fundo foi criado para a eleição de 2018 e reservou R$ 1,7 bilhão do Tesouro Nacional para financiar as candidaturas em todo o País.
Em um único dia, constam sete repasses de Bivar a Vidal , somando R$ 91 mil. Duas das 126 despesas declaradas por Bivar à Vidal constam com a data de 5 de outubro, dois dias antes das eleições. Uma é no valor de R$ 66,3 mil, para publicidade de materiais impressos, sem especificar o número. A outra, no valor de R$ 650, é para a confecção de 50 mil santinhos.
No site da empresa, que também funciona como consultoria de crédito consignado, ela apresentava o PSL entre os seus maiores clientes até a tarde de ontem, quando esses dados foram retirados do ar. Na capa da página, há imagens de seis outdoors e cartazes de Jair Bolsonaro. Não constam candidatos de outros partidos. Segundo o site do TSE, a empresa recebeu encomendas de dez candidatos nas últimas eleições, sendo sete de políticos do PSL.
Os valores destinados por candidatos do PSL à empresa são próximos aos recursos que receberan do fundo especial – dinheiro público. Outra contratante da empresa foi a candidata a deputada estadual Érika Siqueira, que gastou praticamente todo o dinheiro que recebeu do PSL, R$250 mil, com a empresa do vogal do partido, R$ 233.100. Ela foi a sexta candidata a receber mais recursos do partido. O presidente Jair Bolsonaro recebeu R$ 269 mil.
Todos os repasses de Érika à Vidal foram feitos entre 25 de setembro a 4 de outubro, a poucos dias das eleições, para a produção de material de campanha. Érika obteve 1.315 votos e não conseguiu ser eleita. O segundo maior repasse de Érika foi para Juliane Mirella de Carvalho Gonçalves, proprietária de outra gráfica, no valor de R$ 56.500.
Os outros candidatos do PSL que repassaram dinheiro à Vidal foram os candidatos Major Pedro Mendes (deputado federal), Thiago Paes (deputado estadual), Silvio Nascimento (deputado estadual), Frederico França (deputado federal) e Fred Teixeira (deputado federal). Nenhum foi eleito.
Outro lado
O Estado entrou em contato com a Vidal Assessoria Gráfica, fisicamente e por telefone. Funcionários orientaram a reportagem a ligar para o celular de Luís Vidal. O vogal do PSL e empresário não atendeu às ligações do Estado, nem respondeu mensagem no Whatsapp.
A assessoria de imprensa do PSL de Pernambuco não respondeu o email do Estado sobre os motivos da escolha da empresa, assim como a assessoria da Presidência da República. A assessoria de Bivar respondeu apenas que “todas as contas do partido foram aprovadas sem ressalvas pelo TSE e que não há nenhuma ilicitude”. O Estado não localizou Érika.
Na tarde de quarta, quando o Estado esteve no local, apenas dois funcionários trabalhavam no estabelecimento. Uma empregada encarregada da recepção disse que as informações sobre a atuação da empresa na campanha eleitoral só podiam ser repassadas por um dos sócios do negócio, Luis Vidal.
Além de oferecer serviços de banners, faixas e adesivos, a Vidal também oferece crédito pessoal. No cartão da empresa entregue à reportagem, Luis Vidal se apresenta como correspondente autorizado de seis instituições financeiras.
Três comerciantes que trabalham na mesma rua contaram que a empresa existe no mesmo local há alguns anos, mas que antes a fachada era voltada apenas para o serviço de empréstimo. Eles disseram que ela passou por reformas há pouco tempo, mas não souberam precisar há quantos meses houve a mudança.
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