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Política

‘Movimentar dinheiro não é crime’, diz advogado de Flávio Bolsonaro

Defensor vê ‘forças ocultas’ e ‘Santa Inquisição’ contra senador após operação do MP-RJ ver indícios de desvio de dinheiro.

O advogado Frederick Wassef, que representa o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e o presidente Jair Bolsonaro, disse ver uma “Santa Inquisição” contra pai e filho. Em entrevista ao Estado, Wassef afirmou que a investigação sobre “rachadinha” no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro é fundamentada em “premissas falsas”.

O advogado, que atua para a família desde 2014, não comentou os pedidos feitos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que o Ministério Público do Rio de Janeiro deveria se dedicar ao combate à violência. Para Wassef, uma “força oculta” no Rio tenta atingir o governo Bolsonaro em busca da cadeira presidencial em 2022.


Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia as investigações que apontam “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro?

Movimentar dinheiro não é crime. Qualquer brasileiro pode depositar, sacar, comprar, transferir, emprestar. Nós precisamos separar as coisas. O que tem de se ver é a conduta. Existem provas robustas de crime? Ou vamos agora pegar milhões de movimentaçõezinhas que cada brasileiro fez e atribuir àquilo ilação de que é crime? Há várias premissas falsas na investigação, como a existência de funcionários fantasmas.

Vários funcionários tinham residência e trabalho em Resende e eram lotados no gabinete do Rio.

Não é necessário os assessores ficarem presos entre quatro paredes no gabinete, nem ter crachá, nem fazer trabalho interno. Olha o perigo da Santa Inquisição disfarçada de investigação. Eles pegam um dado: ‘João da Silva’ mora em Resende e, pronto, dizem que ele foi assessor do Flávio.

Se há certeza da inocência, por que a defesa pede ao Supremo Tribunal Federal para suspender a investigação?

A defesa jamais quis parar qualquer investigação ou procrastinar feito. Se algum direito de seu cliente foi violado, é dever e obrigação de qualquer advogado sério observar para que a investigação ocorra dentro da lei. Não é porque ele é filho do presidente que vai poder rasgar o Código de Processo Penal, atropelar as coisas, obter uma quebra de sigilo legal sem conhecimento ou autorização da Justiça, não.

Por meio da suspensão de processos, Flávio não vai conseguir provar a inocência?

Ninguém está parando investigação, só estamos querendo que as leis sejam cumpridas. Então o que acontece na véspera do Natal? Uma megaoperação em padrões hollywoodianos. Para quê? Busca e apreensão. Nenhum problema, a gente respeita, é função do MP investigar. Não estou acusando ninguém, mas alguma força oculta está infiltrada no poder público. O objetivo final é a cadeira presidencial em de 2022.

O presidente acusa o governador Wilson Witzel.

Não vou dizer nada do governador. O que eu vou dizer é que a forma que está se aplicando a força do poder público para o Flávio é absolutamente distinta e exclusiva. Olha como trataram os outros 26 parlamentares dessa mesma apuração da Assembleia de “rachadinha” e olha o Flávio. Quero ver alguém me dizer que é o mesmo tratamento.

Por envolver família do presidente, não se deveria dar mais atenção à resolução ao caso?

Maior, sim, mas não nos níveis que estão fazendo aí. Por que ninguém fala do Lulinha com a mesma intensidade? Acabaram de descobrir uma série de coisas do filho do Lula que envolvem R$ 300 milhões, e não a esmola, esses valores pequenos… Virou um feijãozinho o Lulinha, só se fala de Flávio. Pega todos os noticiários. Quando vocês lembram de todo dia se falar da mesma pessoa com matérias de 8 a 10 minutos? Todo dia.

A Lava Jato inteira foi assim.

Você quer comparar um indivíduo sozinho com uma operação inteira da Lava Jato, que envolveu toda a classe política do Brasil?

O senhor acha os valores da operação da rachadinha uma esmola?

Quero deixar bem claro para não deturparem minhas palavras. O Código Penal não tipifica valores, ele tipifica condutas. Então, se você furtar R$ 1 ou R$ 1 milhão, o crime é o mesmo. A pauta aqui não é o valor do dinheiro, é a conduta do ser humano. O que estou dizendo é que a força que está sendo usada por uma questão dessas no Flávio não é igual com o dos demais parlamentares, não é igual quando derrubaram três helicópteros no Rio com tiro de bazuca, não é igual quando temos essa guerra civil que está lá no Rio.

Existe a teoria do domínio do fato, que foi discutida em alguns casos importantes, como o mensalão. Seria possível essa quantidade de crimes, caso comprovada, estar acontecendo sem conhecimento do senador Flávio?

Com certeza. A sua pergunta é: ‘é capaz de alguém estar cometendo um crime sem que o chefe, sem que o patrão, ou sem que o dono da coisa saiba’? Sim, inclusive a coisa mais comum que existe. Quantos casos no Brasil nós não temos de empresas cujo sócio, cujo gerente geral, alguém da total confiança, fazia coisas sem o conhecimento do dono ou do chefe ou do superior e praticava crimes? E esse, por sua vez, era o traído, aquele que não sabia e foi o último a tomar conhecimento.

Houve traição?

Não tem traição porque não tem crime. Simples. O crime é o vazamento das informações sigilosas lá para grupos de jornalistas para destruir a imagem do meu cliente, é o crime da quebra de sigilo fiscal e bancário sem autorização, crimes do qual o Flávio é vítima, não o autor.

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