A Polícia Federal indiciou o desembargador Ivo de Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), sob acusação de envolvimento em um esquema de venda de sentenças, apurado pela Operação Churrascada. A investigação aponta que o magistrado teria praticado crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, associação criminosa, advocacia administrativa e violação de sigilo funcional. O relatório final da operação foi entregue ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), implicando o desembargador e outras quatro pessoas, acusadas de participar diretamente do esquema.
Entre os envolvidos, o advogado Luiz Pires Moraes Neto é apontado como responsável por intermediar a suposta propina de R$ 1 milhão para obtenção de decisões judiciais favoráveis. Romilton Queiroz Hosi, traficante preso, teria sido beneficiado por uma dessas sentenças. Além deles, Wellington Pires da Silva, guarda civil vinculado a Moraes Neto, e Wilson Vital de Menezes Júnior, que atuaria como emissário do desembargador, também foram indiciados. Ivo de Almeida é ainda suspeito de realizar “rachadinhas” com os orçamentos de seus funcionários, prática em que parte dos salários é devolvida ao superior.
A Operação Churrascada teve início em 2021, a partir da Operação Contágio, que desmantelou uma organização criminosa em São Paulo. O nome “Churrascada” faz referência à expressão “churrasco”, usada pelos investigados para indicar o período de plantão do desembargador, onde supostamente seriam acertadas as decisões judiciais. A investigação detalha um pagamento de R$ 1 milhão para que Almeida libertasse um traficante ligado ao grupo de Fernandinho Beira-Mar, com o advogado Moraes Neto indo ao Paraguai para receber o valor. Moraes Neto chegou a ser preso, mas foi liberado após habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.
Outro ponto de atenção da investigação é o uso de um posto de combustíveis, localizado a 300 metros do gabinete do desembargador, como local para as tratativas e acertos de propina. Depósitos de alto valor, incluindo um de R$ 100 mil em 2017, foram rastreados, reforçando as suspeitas de movimentação financeira ilícita. Os sócios do posto estariam diretamente envolvidos nas negociações de propina em troca de decisões judiciais favoráveis.
Em nota, a defesa do desembargador Ivo de Almeida, representada pelos advogados Átila Machado e Luiz Augusto Sartori de Castro, negou todas as acusações, classificando o indiciamento como “arbitrário e ilegal”. A defesa argumenta que o magistrado teria sido vítima de um ex-amigo, falecido em 2019, que, sem conhecimento ou consentimento de Almeida, utilizava seu nome para negociar supostos favores judiciais.