“Cuidar dos idosos é preservar a nossa história”. Com letras grandes, essa mensagem está afixada em uma das salas do Lar de Santana , Instituição de Longa Permanência gerida pela Prefeitura de Teresina em parceria com a Ação Social Arquidiocesana (ASA), que abriga e cuida de 18 idosos na capital. Era por volta das 16h do dia 16 de dezembro quando nossa reportagem chegou ao local, no dia em que aconteceria uma missa celebrada pelo padre Tony Batista, seguida por uma confraternização, para comemorar o Natal daqueles homens e mulheres que encontraram, no abrigo, novos vínculos e afetos, permitindo a eles uma velhice digna.
Criado em 2015, o Lar de Santana fica situado na Avenida Rio Poti, no bairro de Fátima, zona leste de Teresina. A instituição é coordenada, desde sua fundação, pela Irmã Cândida de Jesus, que, com apoio de uma equipe multidisciplinar, cuida diariamente dos 18 idosos institucionalizados.
“Aqui os idosos são acolhidos e recebem todos os cuidados que precisam para viver dignamente. São pessoas que vêm das mais variadas situações, famílias que não podem ficar com o idoso, famílias que não querem ficar com o idoso, idosos que viviam em situação de rua ou que moravam sozinhos. Tem situações de idosos que não têm família, no sentido de que os mais próximos são também idosos e não podem ficar cuidando, então, tem as mais variadas situações”, explicou Irmã Cândida.
Histórias
Antes de iniciar a missa, todos os idosos já se encontravam no jardim do abrigo, todos prontos para celebrar o Natal. De imediato, chamou atenção um senhor de 66 anos, que falava com desenvoltura com os colegas, que, em sua maioria, já não conseguem interagir tanto com os demais. Vivendo no Lar de Santana há cinco anos, Juarez da Silva não tem filhos ou qualquer outro parente próximo com quem pudesse morar. O idoso, que perdeu a visão após um glaucoma contou ao GP1 como se adaptou no novo lar.
“Aqui para mim é tudo. É a minha família e minha casa, não tenho filhos e não sou casado”, disse o senhor Juarez. Ele informou que, vez ou outra, uma prima vai visitá-lo.
O senhor Aristides Cardoso, que vive há menos tempo na instituição, tem três filhos e três irmãos, que não o visitam com tanta frequência. Com dificuldades na fala, ele conseguiu expressar que vive bem e feliz no Lar de Santana. “Gosto de tudo, principalmente dos amigos”, afirmou.
Solidão
Embora no Lar de Santana os idosos recebam todo o carinho e cuidados necessários, muitas vezes fica aberta uma lacuna que somente pode ser preenchida pela família, como explica Irmã Cândida.
“Há casos em que a gente tem que ficar insistindo, porque a gente insiste nessa questão que é importante, a relação do idoso com a família. Muitas vezes eles chegam aqui e esses vínculos estão rompidos ou estão fragilizados, a gente tenta com assistente social e psicóloga, tenta fazer muito esse trabalho de reaproximar o idoso da sua família, então, na medida do possível incentivamos para eles levarem o idoso para passar o dia em casa ou um fim de semana. No período de Natal os que estão mais lúcidos são os que sentem mais essa falta da família”, detalhou a coordenadora do Lar de Santana.
Diferentemente da maioria, Juarez e Aristides parecem querer esquecer a vida que levavam antes de irem morar no abrigo. Enquanto o senhor Juarez disse preferir sua vida hoje, por ter, no passado, vivido muito sozinho, o senhor Aristides relatou não possuir uma boa relação com os familiares, que, portanto, não fazem falta para ele.
Alta demanda
A coordenadora do Lar de Santana ressalta que a demanda por vagas em abrigos para idosos é muito alta. Por conta disso, foi instituída uma regulação, de modo que seja feita uma triagem a fim de dar prioridade àqueles que necessitam com mais urgência de cuidados.
No Lar de Santana e no Nosso Lar, que são geridos pela prefeitura, a regulação é aplicada integralmente. Já nos abrigos sob outra administração, 30% das vagas devem ser disponibilizadas por meio dessa regulação.
“Vale ressaltar que a demanda por abrigamento em Teresina é muito grande, tem uma fila de espera muito grande, porque são as mais variadas situações que eu já coloquei, e por isso muitos idosos estão precisando ser habitados”, frisou Irmã Cândida.
Presente de Natal
Ao ser questionado sobre o que desejaria ganhar neste Natal, o senhor Juarez disse que queria um relógio com um comando de voz que pudesse indicar as horas para ele, que não pode mais enxergar. “Quero um relógio, minha filha. Um relógio que dá as horas para mim, a gente aperta e ele diz o horário”, disse.
Por sua vez, o senhor Aristides falou que queria ganhar um par de tênis novos. A coordenação do lar busca realizar todos esses desejos, por meio de doações. A alegria e bem-estar desses idosos é a grande missão de Irmã Cândida e de todos os funcionários e voluntários que atuam no Lar de Santana.
“A gente se depara com situações mais difíceis, de algumas pessoas um pouco difíceis na convivência, por outro lado, a gente também tem a alegria de conviver com pessoas felizes, que parecem reconciliadas com a vida. Então, é prazeroso trabalhar aqui e tem muito esse papel de restaurar a dignidade dessas pessoas, para que, vivendo aqui no fim das suas vidas, elas tenham dignidade”, concluiu Irmã Cândida.
COMO AJUDAR
Aos que desejam ajudar, de alguma maneira, o Lar de Santana, é possível fazer depósitos ou transferências bancárias para a chave Pix: candidajn@yahoo.com .
Para quem tiver interesse em deixar alguma doação, fazer visitas, ou, quem sabe, atuar como voluntário, basta se dirigir ao abrigo, que fica na Avenida Rio Poti, Nº 1117, bairro de Fátima. Para acompanhar as ações da instituição, basta acessar a página no Instagram: @lardesantanathe .