Em meio à difícil situação da Saúde Pública de Teresina, que nos últimos dias atingiu níveis inimagináveis, o GP1 entrevistou, na noite desta quarta-feira (27), a médica Ana Tecla, intensivista do Hospital de Urgência de Teresina (HUT) e do SAMU. À nossa reportagem, a especialista fez uma análise profunda do momento atual e ressaltou que o sentimento da classe médica hoje é de “derrota e impotência”, em uma Capital até então considerada referência em medicina.
Na avaliação de Ana Tecla, a Saúde Pública de Teresina vinha se desenvolvendo positivamente no decorrer dos anos, entretanto, nos últimos tempos, a qualidade desse serviço essencial tem caído visivelmente, segundo ela.
“Eu tenho quase trinta anos de formada. Sempre trabalhei com pacientes graves, tanto em urgência e emergência, como nas UTIs, e eu vi a Saúde de Teresina crescer, com as UBSs, com as UPAs, e era uma satisfação para os médicos verem que a Saúde era muito boa, que a população tinha uma assistência adequada. Nesses últimos meses, no entanto, o que nós vemos é uma total destruição da saúde de Teresina. O cidadão hoje não tem como recorrer a uma saúde a qual ele merece”, declarou a especialista.
Situação no HUT
No Hospital de Urgência, onde a médica atua, a situação é uma das mais delicadas. Nesta quarta-feira (27), fornecedores que alugam equipamentos para a Fundação Municipal de Saúde (FMS) retiraram os aparelhos de raio-x e tomógrafos da unidade, impossibilitando a realização de exames imprescindíveis, sobretudo para os pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Nós vemos agora um caos, o HUT, que é um hospital de referência em traumas, não tem nenhum exame de imagem. Nós hoje não temos tomógrafos, não temos raio X e não temos ultrassom. O que nós, médicos, capacitados, que estudamos, os enfermeiros, os técnicos, que estão lá para servir ao paciente, o que nós vamos fazer? Estamos de mãos amarradas. Nós, médicos, estamos extremamente tristes, com o sentimento de derrota e impotência”, lamentou Ana Tecla.
Aumento da demanda
A médica alertou para o fato de que estamos no período de festas de fim de ano, ocasião em que o número de acidentes e outros tipos de traumas tende a aumentar, sobrecarregando ainda mais os hospitais.
“Estamos em véspera de festas de final de ano e todos nós sabemos que o aumento dos politraumas é mais de trinta por cento nessa época. Como nós iremos atender esses pacientes? Um politrauma sem um exame de imagem? Vocês não imaginam o sentimento que estamos sentindo? É revolta, é tristeza, porque cada profissional de saúde vibra com uma vida que é salva”, colocou a especialista.
“Estamos impedidos de trabalhar”
Com a falta de equipamentos, os leitos de UTI do hospital devem ser bloqueados, segundo a médica. “Estamos impedidos de trabalhar. A gente sabe que leito de UTI hoje no Brasil é ouro. Nós estamos tendo de bloquear leitos, porque não temos insumos, não temos exames complementares, não temos como colocar um paciente no leito de UTI”, lamentou.
Pedido de socorro
Ao final da entrevista, Ana Tecla ressaltou a necessidade da união de esforços para resolver a situação crítica da Saúde. “Nesse momento o poder público, os conselhos de saúde, CRM, SIMEPI, COREN, Ministério Público, devem se reunir. É um ato humano nesse momento, porque, com o caos que se formou, já não dá para ser feita somente uma correção pontual: ou se tomam decisões sérias e definitivas ou é daqui para pior”, concluiu a médica.
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