Fechar
GP1

Teresina - Piauí

Mais uma mulher denuncia psiquiatra Eurivan Sales por assédio sexual

Segundo a entrevistada, o médico disse que seu problema não era depressão, e sim "falta de homem".

Após a publicação de matéria recentemente, sobre uma delegada que denunciou o psiquiatra Eurivan Sales Ribeiro por assédio sexual, o GP1 foi procurado nesta terça-feira (24) por mais uma ex-paciente, que revelou também ter sido vítima do médico. Em entrevista à nossa reportagem, a mulher, que é servidora pública contou detalhes de uma consulta que teve com o especialista em 2019, quando teria sido assediada por ele.

A entrevistada, que terá sua identidade preservada, explica que decidiu procurar ajuda médica em 2019, quando se viu em um quadro de depressão. Em setembro daquele ano, em meio a dificuldade em encontrar um psiquiatra, ela conseguiu uma vaga no consultório de Eurivan Sales.


No dia da consulta, a servidora pública conta que entrou na sala do psiquiatra e inicialmente correu tudo bem, até que ela começou a estranhar a postura dele.

Foto: Arquivo PessoalEurivan Sales Ribeiro
Eurivan Sales Ribeiro

“Ele perguntou o que é que eu estava fazendo lá. Eu disse que estava sentindo insônia, estava chorando muito e estava passando por um problema na empresa onde eu trabalhava e disse que do jeito que estava eu ia tirar minha vida. Aí eu lembro que ele virou pra mim e disse assim: ‘mas você é tão bonita! Quando foi que você transou?’”, lembra.

A mulher explica que rebateu o médico, mas mesmo assim ele prosseguiu, e afirmou que o problema dela era “falta de homem”, e não depressão. “Ele disse: ‘mas isso não é depressão não, isso aqui é falta de homem. Você não tem um namorado não, minha filha?’”, diz a ex-paciente.

Desespero

A servidora pública afirma que ficou desesperada, principalmente pelo fato de tudo aquilo ter ocorrido em um lugar onde ela estava buscando ajuda. “A pessoa já vai ruim, você imagina de desespero! Me desesperei, você imagine, se deparar com um nível de pergunta dessa. Ele continua insistindo, perguntou de onde eu era, se eu era daqui de Teresina ou não, e continuou dizendo que eu era muito bonita”, detalhou.

“Senti que ele queria pegar em meu seio”

Continuando o relato, a mulher conta que após esse “diálogo” inicial, o médico se levantou com intuito de examiná-la com auxílio de um estetoscópio, e nesse momento ela lembra ter percebido que o psiquiatra queria tocar em seu seio.

“Teve um momento que ele levantou da cadeira, pegou o estetoscópio e veio por trás de mim. Ele veio por trás de mim e botou a mão direita dele assim como se fosse botar no meu coração, por trás de mim como se fosse pra frente. Nesse momento, eu senti que ele queria pegar em meu seio, ele se abaixou e nesse momento eu puxei o corpo para frente e disse: ‘doutor!’. Virei e olhei para o olho dele, ele botou a mão no meu ombro e disse: ‘aqui está tudo perfeito, aqui não tem nada de doença, aqui nem de remédio você precisa. Eu vou passar para você só um Rivotril, porque você está dizendo que que não está dormindo de noite, mas isso aqui não é depressão’”, contou.

“Pode procurar um homem bom de cama”

Na sequência, a ex-paciente relembra que o psiquiatra Eurivan Sales disse para ela procurar “um homem bom de cama”. Depois disso, ela diz que saiu do consultório com vontade de tirar a própria vida. “Ele disse: ‘você pode procurar um homem bom de cama que você resolve o seu problema’. Desse jeito. Eu saí desse dessa consulta... Eu quase não dirijo. Eu quase não dirijo porque eu senti que ele ia pegar no meu peito. Ele não pegou porque eu puxei o corpo para frente na hora. Porque eu senti a respiração dele assim vindo pra cima. Eu saí num desespero horrível, eu dizia: ‘meu Deus do céu, isso aqui é um sinal pra eu me matar, eu lembro que eu saí desesperada e ainda passei uns dez minutos dentro do carro, com o carro ligado e chorando’”, afirmou.

A servidora pública informou que, depois do ocorrido, demorou para conseguir buscar ajuda médica outra vez, com medo. “Eu fiquei tão revoltada eu não queria mais [buscar ajuda], porque eu achava que todos iam fazer a mesma coisa que ele tinha feito comigo. Até que me indicaram um outro médico, que foi quem me acompanhou em todo o meu tratamento, eu devo minha vida a ele, que é um psiquiatra indo e voltando”, ressaltou.

Coragem para denunciar

De acordo com a denunciante, ela criou coragem para contar sua história após ver as reportagens com outros relatos.

“Na época eu disse: ‘meu Deus será só aconteceu comigo? Será que sou eu?’. Quando foi agora, eu olhando o meu celular, os sites de notícias, me deparo com a notícia no GP1. Na mesma hora eu li a matéria de fora a fora, que eu vi a cara do bandido estampado, me deu aquela coisa ruim, sabe, aquela ânsia por dentro? Lá atrás eu não tive coragem porque todo mundo me conhece, Teresina é uma cidade onde tudo se espalha rapidamente, e aí eu fiquei temerosa de estar tendo essa exposição”, explica.

Delegacia da Mulher

Por fim, a funcionária pública revelou que está conversando com uma advogada e vai levar a denúncia para a Polícia Civil do Piauí, que deve investigar o caso através da Delegacia da Mulher.

“Já comecei a conversar com a advogada. Fiquei de conversar novamente e vou continuar. Meu propósito é integrar essa quantidade de mulheres que tomaram coragem de denunciar na delegacia”, finalizou.

Outros relatos

Em setembro de 2021 o GP1 publicou reportagem com relatos de mulheres, que afirmaram ter sido vítimas do psiquiatra. Segundo as denúncias, todos os casos ocorreram dentro do consultório. Confira aqui a reportagem.

Já no dia 04 de maio, uma delegada aposentada da Polícia Civil do Maranhão registrou Boletim de Ocorrência contra o médico, o denunciando por assédio sexual. O GP1 teve acesso à integra do B.O.

CRM

Recentemente o Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM-PI) acatou denúncia contra o psiquiatra e determinou a abertura de processo ético-profissional. Após a conclusão do procedimento, Eurivan Sales poderá ser afastado das atividades.

Outro lado

O GP1 conversou, na noite desta terça-feira (24), com a advogada Lívia Veríssimo, que represente o psiquiatra Eurivan Sales. Ela disse que só vai se manifestar formalmente depois que seu cliente for intimado para depor na Delegacia da Mulher.

“Desconheço esse novo caso, e quanto as outras supostas vítimas, ainda está em fase de inquérito na delegacia. O doutor Eurivan sequer foi escutado ainda, não foi intimado para depor na delegacia, pois a delegada ainda está nessa fase de investigação, nós estamos aguardando”, afirmou.

Ver todos os comentários   | 0 |

Facebook
 
© 2007-2024 GP1 - Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do GP1.