Está sendo realizada nesta quinta-feira (15), na 1ª Vara do Tribunal do Júri, o julgamento ex-policial militar Igor Gabriel de Oliveira Araújo, acusado de homicídio qualificado contra Alan Lopes Rodrigues da Silva no dia 20 de fevereiro de 2016. Alan foi morto com cinco tiros durante uma confusão em um posto de combustíveis da João XXIII, zona leste de Teresina. Alan era filho de um oficial de Justiça.
O julgamento começou às 9h e é conduzido pela juíza Zilnar Coutinho. O promotor Régis Marinho é o responsável pela acusação e o advogado Faustino Sá é o responsável pela defesa do ex-policial. Durante o julgamento o acusado pelo homicídio permaneceu com a cabeça baixa. Quando o crime aconteceu, ele ainda era policial e depois foi expulso da corporação. Amigos e familiares do acusado estão usando uma camisa branca com a mensagem "Igor estamos com você".
Francisco Lopes, pai da vítima, está participando do julgamento. Ele disse que o filho conhecia o acusado e que não consegue entender o que teria motivado o crime. “Eles se conheciam. Eu não conhecia ele. Eles jogavam bola juntos. Eu me pergunto [o que teria motivado o crime]. Muitas pessoas me fazem essa pergunta e eu não tenho essa resposta. Saber porque o Igor matou o Alan. Qual era o motivo? Antes dele ser policial, eles se conheciam e jogavam bola no clube da Agespisa. A namorada do Alan trabalhava com o Igor. Então é uma coisa, onde não tenho essa resposta para dar”, disse Francisco Lopes.
A primeira testemunha a ser ouvida foi um funcionário da loja de conveniência localizada no posto de combustível onde Alan foi assassinado. Ele afirmou que no dia do crime, o acusado estava armado e tentou forçar a entrada na loja. Um outro funcionário, também prestou depoimento e afirmou que ouviu os cinco disparos e logo depois viu a vítima caída no chão.
- Foto: Facebook/Igor GabrielIgor Gabriel
A namorada de Alan na ocasião do crime, também prestou informações, mas na condição de informante, pois ela não estava no local. Ela e a vítima namoravam há quatro anos quando o crime aconteceu. Ela chorou bastante e afirmou que conhecia o ex-policial Igor, pois os dois trabalharam juntos em uma farmácia e que o acusado e a vítima se conheciam de vista, pois Alan ia buscá-la no trabalho. Ela negou que tenha tido qualquer tipo de relacionamento amoroso com o acusado.
O primo de Alan também prestou informações. Ele estava no dia do crime, mas não presenciou o assassinato. Ele disse que entrou em uma loja de conveniência com Alan e que logo depois o estabelecimento fechou. Igor e mais dois amigos ficaram do lado de fora da loja pedindo para eles comprarem bebidas, o que eles não fizeram.
Quando os dois saíram do estabelecimento, o acusado teria partido para cima de Alan. Quando a discussão acabou, o primo disse que foi embora a pé do local, enquanto a vítima ficou naquela região. Afirmou que quando já estava na ponte Juscelino Kubitscheck, ouviu os disparos, mas não voltou para ver o que era.
Em defesa de Igor, alguns amigos prestaram informações sobre a conduta do acusado, afirmando que ele nunca teria apresentado mau comportamento.
Depoimento do acusado
Igor disse que a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado é parcialmente verdadeira. Ele admitiu que realizou os disparos, que conhecia a vítima de vista, mas afirmou que eles não eram inimigos. “Fui eu que fiz os disparos, mas foi em minha defesa”, alegou o acusado.
Ele afirmou que Alan estava em briga corporal com o seu amigo Marcos Alves, filho do prefeito de Avelino Lopes Dióstenes Alves. Disse que Alan fez menção de sacar uma arma e por isso fez seis disparos, um no chão e mais cinco na vítima. Ele negou a informação que trabalhava como segurança do filho do prefeito.
Igor afirmou que após ter atirado, se dirigiu ao 12° DP, porque tinha convicção que tinha agido em legítima defesa. Ele disse que o distrito estava fechado, que ligou pro 190, se apresentou na Corregedoria e logo depois no Quartel do Comando Geral.
O ex-policial disse ter fugido após ser expedido o mandado de prisão porque disseram que o pai do Alan ia mandar matar ele na Casa de Custódia. Afirmou que após ser capturado, em um sítio com objetos roubados, foi encaminhado para a Casa de Custódia, mas que recebeu ameaça de morte e foi transferido para a Penitenciária Irmão Guido.
Sustentação oral da defesa
Durante a sustentação do advogado do ex-policial, Eduardo Faustino, o mesmo enalteceu o réu e disse que a vítima era alcoólatra: "Palavra do próprio seu Lopes, pai da vitima, quem era Alan? Alan era um alcoolista, viciado em álcool, não era essa lisura toda que está sendo pintado aqui não, agora aquele rapaz ali não, aos 19 anos, tendo sido criado pelos avós, trabalhando, estudando, logrou êxito no concurso da PM sem nenhum histórico de violência", afirmou.
Sustentatação oral da acusação
Em seguida, foi a vez do assistente de acusação, Gilberto Ferreira, fazer a sustentação oral. Ele declarou que a defesa está tentando confundir os jurados. “A defesa procura confundi-los para que vossas excelências, no mínimo, criem dúvidas sobre determinados aspectos e a defesa sabe que absolve-se na dúvida, não se condena na dúvida, essa é a razão porque a defesa procura confundi-lo, primeiro o advogado de defesa falou: ‘Olha, se vocês não reconhecerem que ele matou pra se defender pelo menos entendam que o motivo que o levou a matar a vítima não foi fútil’, ele foi claro”, afirmou.
Gilberto criticou ainda o fato de a defesa ter insinuado uma influência do presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, Erivan Lopes, na prisão de Igor: “[A defesa] Procura insinuar influência do presidente do TJ na questão, isso é grave, porque presidente do TJ nunca determinou a prisão de ninguém, a prisão dele, a soltura dele são feitas por juízes honrados”, disparou.
Promotor de Justiça
Durante o julgamento, o promotor Régis Marinho conversou com a imprensa: “O Ministério Público e o assistente de acusação têm convicção absoluta de que o acusado Igor Oliveira cometeu o crime de maneira bárbara, por motivo fútil e fazendo uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, foi isso que sustentamos e que o assistente de acusação também sustentou”, declarou.
“O motivo fútil é claro porque a vida humana foi tirada por conta de um fardo de cerveja que a vitima não trouxe de dentro do estabelecimento comercial para o autor do crime, sendo assim a motivação é banal e, portanto, fútil. Esperamos que essa tese da qualificadora por motivo fútil passe tranquilamente pelo conselho de sentença”, acredita o promotor.
Relembre o caso
O ex-soldado Igor Gabriel estava com o filho do prefeito Dióstenes Alves, de Avelino Lopes, identificado como Marcos Alves, quando se envolveu em uma confusão em um bar. Os dois então, na companhia de uma terceira pessoa se deslocaram até a loja de conveniência Yellow, localizado no posto Shell da João XXIII para comprar bebidas.
- Foto: Facebook/Alan RodriguesAlan Lopes
Segundo relatos de uma testemunha à polícia, o proprietário do estabelecimento informou que o local já estava fechado. O ex-policial então, teria mostrado sua carteira funcional da PM e sua arma afirmado que iria atirar na porta caso não fosse atendido. Nesse momento, a vítima estava saindo do estabelecimento.
Ainda de acordo com o depoimento da testemunha, Alan Lopes foi abordado pelo ex-policial, que tentou obrigá-lo a buscar bebida para eles. Como a vítima se recusou, teria sido agredida fisicamente pelo filho do prefeito. A testemunha ainda afirmou que o ex-policial e o filho do prefeito tentaram entrar a força no estabelecimento, como Alan tentou impedir, acabou sendo morto pelo ex-PM, com cinco disparos.
Carga roubada
Igor Gabriel, que estava foragido desde julho de 2016, foi preso em dezembro do ano passado, em um sítio localizado na Usina Santana, região do bairro Todos os Santos, na zona sudeste de Teresina. No local, a polícia encontrou parte de uma carga de café que havia sido roubada em Altos.
Outro ex-policial identificado como Luiz Bruno de Meneses, dono do sítio, e o empresário Licínio Francisco também foram presos na ação, mas já estão em liberdade.
Expulsão
Igor Gabriel, que era lotado no 7º BPM em Corrente, foi expulso da corporação pelo comandante geral da Polícia Militar do Piauí, coronel Carlos Augusto.
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