A população carcerária brasileira cresce em ritmo acelerado e segundo dados do Ministério da Justiça, o Brasil conta com a quarta maior população penitenciária do mundo com 622.202 pessoas, conforme relatório relativo à dezembro de 2014, perdendo apenas para os Estados Unidos (2.217.000), China (1.657.812) e Rússia (644.237). Além disso, o sistema vive em caos. Entre os principais problemas estão a superlotação, a falta de higiene e de estrutura, o baixo efetivo e, consequentemente, a falta de segurança.
No Piauí, a situação não é diferente, segundo o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sinpoljuspi), Zé Roberto, a tensão é rotineira nos presídios do Estado. “O Piauí não está imune ao problema do sistema penitenciário brasileiro. O Piauí não é um Estado a parte, não é um ente abstrato que esteja superior à mazelas. Nós temos todos esses problemas que têm em outros Estados e porque o secretário [de Justiça, Daniel Oliveira] diz que não teria facções no Piauí, se a inteligência do Departamento Penitenciário Federal [Depen] foi quem afirmou? Agora se não há consonância com o suposto serviço de inteligência que se diz que há na Secretaria de Justiça, isso não é um problema que cabe à sociedade”, afirmou.
- Foto: Lucas Dias/ GP1Zé Roberto, presidente do Sinpoljuspi
A declaração de Zé Roberto foi feita após o secretário estadual de Justiça, Daniel Oliveira, garantir que não existem facções no Piauí, mesmo após o DEPEN constatar o contrário e colocar o Piauí e outros quatros Estados em situação de alerta, depois das rebeliões que aconteceram nos presídios do Amazonas e Roraima, que resultaram na morte de centenas de detentos, por brigas entre facções.
Para o presidente do Sinpoljuspi, o Estado deve reconhecer e encarar a situação. “Amanhã ou depois acontece uma tragédia, aí não adianta querer remediar e querer voltar a mentir para a sociedade. Porque entendemos isso como uma falácia, como uma mentira. Deve-se enfrentar o problema de frente, é o que a sociedade deseja e espera de um gestor público”, complementou.
- Foto: Lucas Dias/GP1Daniel Oliveira
Conforme o levantamento do Depen, atuam no Piauí cinco facções criminosas: Primeiro Comando da Capital (PCC), Bonde dos 40, Facção Criminosa de Teresina, Primeiro Comando de Campo Maior e Primeiro Comando de Esperantina. “Para nós agentes penitenciários que trabalhamos no dia-a-dia no sistema prisional, essas facções nunca foram novidade, elas existem e eu acho um desserviço que a Secretaria de Justiça está prestando nesse momento para a sociedade, quando diz para os meios de comunicação que não há facções no Estado do Piauí, há sim e já passou da hora da Sejus encarar o problema do sistema penitenciário de frente e parar de querer esconder o problema para debaixo do tapete, tem que reconhecer, monitorar e enfrentar”, frisou.
O presidente do Sinpoljuspi destacou que as mazelas acontecem sempre, sendo divulgadas ou não pela imprensa. “Rebelião no Piauí virou de certa forma constante, morte virou constante, isso para nós é mais que natural, cabe o Estado fazer o seu trabalho. Outro grande problema é a entrada de materiais ilícitos no sistema, porque não há equipamentos capazes de inviabilizar a entrada de equipamentos eletrônicos. É público e notório, é divulgado na imprensa e todo mundo tem conhecimento disso, que pessoas tentam adentrar [nos presídios] com produtos ilícitos nas partes íntimas. Infelizmente, o Estado não provê de um sistema que possa inibir a entrada desses materiais, mas esperamos que o dinheiro da verba que foi liberado pelo Funpen [Fundo Penitenciário Nacional] seja realmente aplicado, que não seja desviado e com isso dê para melhorar e virar a página desse atual sistema de caos que vivemos”, finalizou.
Ver todos os comentários | 0 |