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Saúde

Surto de coronavírus pode ter se originado de morcegos

Um único morcego pode hospedar vários vírus sem adoecer; no mundo, seres humanos comem morcegos e os vendem em mercados de animais vivos, o que implica risco, segundo especialistas.
Por Estadão Conteúdo

Se os surtos anteriores de coronavírus servem de alguma indicação, a cepa de Wuhan que está atualmente se espalhando, pode ter-se originado de morcegos. Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, que estuda na China moléstias transmitidas por animais para seres humanos, disse: “Ainda não conhecemos a fonte, mas existem evidências bastante significativas de que este seja um coronavírus originado em morcegos.”

Se ele estiver certo, esta cepa passará a fazer parte do grupo de vírus transportados por esses animais. A epidemias de Sars e de Mers foram causadas por coronavírus de morcegos, assim como uma epidemia viral extremamente letal nos suínos.


Um único morcego pode hospedar muitos vírus diferentes sem adoecer. Estes animais são um reservatório de vírus de Marburg e dos vírus Nipah e Hendra, que causaram surtos na África, Malásia, Bangladesh e Austrália. Eles são considerados ainda hospedeiros naturais do vírus ebola e carregam também o da raiva mas, neste caso, os morcegos adquirem a doença.

A tolerância dos morcegos aos vírus, que supera a dos outros animais, é uma das suas várias características. Eles são os únicos mamíferos voadores, devoram toneladas de insetos que transportam doenças, e são essenciais para a polinização de muitas árvores frutíferas.

Mas sua capacidade de coexistir com vírus que podem saltar para outros animais, especialmente os seres humanos, pode ter consequências devastadoras quando os comemos, os comercializamos nos mercados de animais e invadimos o seu território.

Aprender como eles carregam e sobrevivem a tantos vírus é uma importante indagação para a ciência, e uma nova pesquisa sugere que a resposta pode estar na possibilidade de sua adaptação evolutiva ao voo ter afetado o sistema imunológico.

Em um estudo de 2018 publicado na revista Cell Host and Microbe, cientistas da China e de Cingapura informaram que os morcegos trabalham com algo chamado sensor de DNA. A energia exigida pelo voo é tão grande que as células do corpo se quebram e liberam pedaços de DNA que flutuam onde não deveriam. Os mamíferos têm como reagir a estes fragmentos de DNA, o que normalmente indicaria uma invasão de um organismo causador de doenças.

Mas, nos morcegos, a evolução enfraqueceu este sistema, o que causaria normalmente uma inflamação enquanto caberia a ele combater os vírus. Os morcegos perderam alguns genes envolvidos nessa resposta, o que faz sentido porque a inflamação pode ser danosa para o organismo. Esta resposta enfraquecida permite que eles mantenham um “estado equilibrado de ‘resposta efetiva’, mas não de ‘resposta exagerada’ contra os vírus”, escreveram os pesquisadores.

Há motivos para os morcegos estarem implicados em vários surtos de doenças. Eles são numerosos e espalhados, e representam 25% das espécies de mamíferos. Encontram-se em todos os continentes, com exceção da Antártida, na proximidade de seres humanos e de animais. A capacidade de voar faz com que eles alcancem grandes distâncias, o que contribui para espalhar os vírus, e além disso, suas fezes podem disseminar doenças.

No mundo inteiro, os seres humanos comem morcegos e os vendem em mercados de animais vivos, o que originou a Sars, e possivelmente o surto mais recente de coronavírus, surgido em Wuhan. Frequentemente, vivem também em grandes colônias em cavernas, onde as condições proporcionadas pela superlotação são ideais para a transmissão dos vírus.

Em um artigo de 2017 publicado pela revista Nature, Daszak e outros pesquisadores informaram a criação de um banco de dados de 754 espécies de mamíferos e 586 espécies virais. Eles confirmaram o que os cientistas tinham imaginado: “Os morcegos são os hospedeiros de uma proporção de zoonoses superior à de todas as outras ordens de mamíferos”.

Segundo Daszak, é essencial parar imediatamente a venda de animais silvestres em mercados a fim de impedir futuros surtos. Mas como estes surtos são inevitáveis, afirmou, igualmente importante será o monitoramento e o estudo dos animais silvestres, como os morcegos.

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