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Após protestos, primeiro-ministro do Sri Lanka diz que vai renunciar

A decisão acontece após manifestantes invadirem a residência e o escritório do presidente.

O primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, concordou em renunciar neste sábado, 9, depois que líderes do seu partido exigiram que ele e o presidente entregassem os cargos. A decisão acontece após manifestantes invadirem a residência e o escritório do presidente na capital do país, Colombo, em continuidade a meses de protestos.

Segundo o porta-voz do premiê, Wickremesinghe disse aos líderes do partido que renunciará quando todos os partidos concordarem em formar um novo governo. Ele havia assumido o cargo em maio, após a renúncia do irmão mais velho do presidente.


O presidente, Gotabaya Rajapaksa, cuja família dominou a política no Sri Lanka por grande parte das últimas duas décadas, não realizou nenhum anúncio até o momento. Ele enfrenta o maior protesto ocorrido no país neste sábado, com a entrada de dezenas de milhares de pessoas na sua residência e no escritório oficial. Os manifestantes o consideram o responsável pela pior crise econômica do país e pedem que ele renuncie.

Segundo a AFP, Gotabaya fugiu para um local seguro minutos antes da residência ser invadida pelos manifestantes.

O Sri Lanka ficou sem reservas de divisas para a importação de itens essenciais como combustível e remédios, e a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que mais de um quarto dos 21 milhões de habitantes do país correm o risco de escassez de alimentos. A economia do país está em colapso e o governo suspendeu o pagamento de empréstimos estrangeiros. A dívida externa total é de US$ 51 bilhões, dos quais deve pagar US$ 28 bilhões até o final de 2027.

A crise econômica é um grande derrota para a nação asiática, que ainda lutava com o legado de guerra civil de três décadas. O conflito, entre o governo e os insurgentes Tamil Tiger, que assumiram a causa da discriminação contra a minoria étnica tâmil, terminou em 2009, mas muitas de suas causas subjacentes permaneceram, com a família Rajapaksa continuando a atender a maioria budista cingalesa.

Segundo as autoridades de saúde, pelo menos 42 pessoas ficaram feridas em confrontos com as forças de segurança na cidade neste sábado, depois que a polícia usou gás lacrimogêneo e canhões de água contra manifestantes e disparou tiros para o ar para tentar dispersá-los.

Os protestos ocorrem há meses, mas a manifestação deste sábado é uma das maiores até agora, apesar de as autoridades terem imposto um toque de recolher noturno e parado os trens na tentativa de impedir que as pessoas chegassem à capital.

Na sexta-feira, a ONU pediu às “autoridades do Sri Lanka que mostrem moderação no policiamento de assembleias e garantam todos os esforços necessários para evitar a violência”.

Escassez de alimentos e combustíveis agravaram insatisfação popular

A escassez de alimentos e combustíveis em Sri Lanka, agravadas no início deste ano, aumentaram a insatisfação popular contra o presidente Gotabaya Rajapksa. Os protestos se intensificaram a partir de fevereiro. O presidente tentou oferecer concessões políticas para diminuir a crise, mas não teve sucesso.

Os protestos evoluíram e um acampamento foi montado por manifestantes na capital para pressionar todo o governo a renunciar. Rajapksa lutou para convencer o irmão mais velho, Mahinda Rajapksa, a deixar o cargo de primeiro-ministro, na tentativa de aplacar os manifestantes. Em maio, Mahinda anunciou a saída depois de um grande grupo de apoiadores seus atacar os acampamentos.

Isso desencadeou uma onda de violência e vandalismo em todo o país, levantando temores de que o Sri Lanka pudesse entrar em anarquia total. O então primeiro-ministro fugiu para uma base militar durante a madrugada e Ranil Wickremesinghe assumiu o cargo, enquanto o presidente Gotabaya se manteve firme na tentativa de resistir aos protestos e cumprir os dois anos restantes de mandato.

Ao se tornar premiê, Ranil Wickremesinghe tentou obter ajuda financeira de países aliados e trabalhar com o Fundo Monetário Internacional para reestruturar a imensa dívida externa do país. Entretanto, os protestos continuaram em um sinal claro de que nenhum dos movimentos de Rajapaksa surtiu efeito.

A realidade diária da população ficou ainda mais dura nas últimas semanas, com escassez de combustível e de remédios essenciais. Cidadãos fizeram fila em postos de gasolina, muitas vezes em vão. A mídia local noticiou a morte de pelo menos 15 pessoas em filas de combustível, por insolação e outras causas, desde o início da crise.

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