Quatro meses após a Rússia invadir a Ucrânia, soldados estrangeiros, em sua maioria ex-combatentes americanos e britânicos com passagens em guerras no Afeganistão e Iraque, enfrentam agora uma realidade de guerra nunca vista antes: falta de armamento, tropa e alimentação adequada.
Nos primeiros dias de conflito, uma enxurrada de voluntários voaram para a Polônia e seguiram para a fronteira com a Ucrânia. Em poucas semanas, a cidade de Lviv, a 90 minutos da fronteira, estava repleta de americanos e outros estrangeiros que tentavam encontrar um caminho para o front. Alguns eram veteranos de combate experientes. Outros, aspirantes.
Mesmo quem já conhecia o campo de batalha foi pego de surpresa. Sem o apoio de ataques aéreos e outros suportes, na Ucrânia, o esforço militar é essencialmente básico. A realidade leva os soldados a enfrentarem, sem equipamento similar e refeições regulares, uma invasão russa maior e com melhor armamento.
Foi esse cenário que afastou centenas dos que se voluntariaram a lutar em solo estrangeiro. Muitos dos que ainda permanecem estão trabalhando diretamente com a força militar do país ou estão sendo usados para preencher lacunas na linha de frente, inclusive como médicos.
Oleksi Arestovich, conselheiro do presidente Volodmir Zelenski, estima que mil soldados estrangeiros participaram das batalhas. No entanto, como não existe uma central que atue em favor dos voluntários, o número é incerto.
Arestovich aplaudiu aqueles que lutaram recentemente em uma das batalhas mais duras da guerra, em Sievierodonetsk. Ele disse que a motivação e profissionalismo desempenharam um papel importante na manutenção das tropas russas por tanto tempo. “Exatamente o que precisávamos”, frisou.
O presidente dos EUA Joe Biden, no entanto, desencorajou os americanos a irem para a Ucrânia. Ele reiterou seu posicionamento recentemente, quando dois veteranos americanos desapareceram e foram, posteriormente, encontrados sob custódia da Rússia. Outros casos foram repercutidos: em 9 de junho, a Rússia condenou três estrangeiros capturados à morte; e pelo menos quatro mortes de americanos no campo de batalha também foram relatadas no mesmo período. O Departamento de Estado Americano também confirmou em 22 de junho que um homem de 52 anos, veterano do Exército, foi morto em maio após pisar em uma mina terrestre.
O grupo de voluntários combatentes mais conhecido no país é a Legião Internacional Para Defesa da Ucrânia, criado pelo governo ucraniano em parceria com o presidente Zelenski. A Legião não revela a quantidade de membros, mas o seu representante, Damien Magrou, disse que, no ranking de voluntários, Estados Unidos e Reino Unido estão no topo. Todos que são aceitos no grupo assinam contratos com o governo e recebem o mesmo salário que os combatentes locais.
Magrou disse que, nesse momento da guerra, a Legião passou a aceitar apenas quem possui experiência em combate, que passaram por verificações de antecedentes psicológicos e não expressam opiniões extremistas.
As razões pelas quais os combatentes arriscam suas vidas por um país que não é seu são variadas. Para alguns americanos e britânicos que carregam na bagagem guerras impopulares como a do Iraque e Afeganistão, o chamado do conflito Rússia x Ucrânia se mostrou também como uma forma de redenção.
Brian, um veterano de guerra que atuou no Afeganistão, disse que veio pois havia treinado ucranianos tempos atrás para tentar conter as forças separatistas apoiadas pela Rússia, e muitos dos amigos que ele fez morreram em batalhas. Ele escolheu ficar mesmo após sua esposa descobrir que está grávida, porque acredita que está fazendo a diferença em uma batalha desigual.
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