A ex-presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, foi condenada a 10 anos de prisão nesta sexta-feira, 10, por violação de deveres e resoluções contrárias à Constituição. Áñez foi acusada de organizar um golpe de Estado no país contra o então presidente Evo Morales. Ela assumiu o poder interinamente em 2019, após a renúncia de Morales.
Em agosto passado, a Procuradoria-Geral do país apresentou também uma acusação contra Áñez por genocídio e outros crimes devido à morte de cerca de 20 manifestantes contrários ao seu governo. Áñez alega inocência e se diz presa política.
O ex-comandante das Forças Armadas, Williams Kaliman, e o ex-comandante da polícia, Yuri Calderón, também foram condenados a 10 anos de prisão. Calderón está desaparecido.
A sentença determinou que Áñez cumpra pena na Prisão de Miraflores, onde está detida preventivamente há mais de um ano.
No julgamento desta sexta-feira, ela declarou que o período em que esteve no poder não foi fácil porque ela “tinha o governo, mas não o poder”. “Tinha bloqueios na Assembleia Legislativa, então foi simplesmente um governo de transição”, disse Áñez. Ela acrescentou que não tinha “ambição de assumir” a presidência e que apenas cumpriu o seu dever.
Áñez enfrentou todo o processo e o julgamento desta sexta-feira virtualmente. Segundo as autoridades, a medida teve caráter preventivo devido à pandemia de coronavírus e ao “risco de fuga”. A defesa insistiu para que ela pudesse comparecer pessoalmente as audiências, mas os pedidos foram negados.
Após a condenação, a defesa da ex-senadora afirmou que vai apelar a órgãos internacionais. Vários setores da oposição ao governo atual de Luis Arce, partidário de Evo, planejam protestos contra a decisão.
A princípio, a ex-presidente foi investigada por crimes de desordem pública, terrorismo e conspiração durante a eleição presidencial de 2019. A eleição foi marcada por uma suposta fraude eleitoral a favor do então presidente Evo Morales.
Os resultados oficiais favoreceram Evo, que estava no poder desde 2006 e buscava a reeleição até 2025, mas a oposição denunciou uma fraude. Diante da pressão das ruas, Morales convocou novas eleições, com um órgão eleitoral renovado, mas nada deteve a violência social, o que levou Evo a renunciar e partir para o México como asilado.
Um relatório de auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) de dezembro de 2019 aponta que detectou “uma manipulação dolosa das eleições bolivianas”. Mas uma perícia do Ministério Público boliviano, divulgada no dia 27, concluiu que não houve manipulação nas eleições.
Jeanine Áñez era vice-presidente do Senado da Bolívia e se autoproclamou presidente da Bolívia no dia 12 de novembro de 2019 em meio ao vácuo deixado pela renúncia de Morales e a ausência do presidente e do primeiro vice-presidente da Câmara Alta. /EFE
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