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Rússia intensifica bombardeios a cidades ucranianas no 70° dia de guerra

Moscou liberou ataque à usina siderúrgica de Azovstal após a retirada de civis no fim de semana.

Disparos de artilharia russa em cidades no leste da Ucrânia mataram e feriram dezenas de civis entre a terça-feira, 3, e a manhã desta quarta-feira, 4, quando a guerra no Leste Europeu -- chamada por Moscou de “operação militar especial” -- completa 70 dias.

O governador da região leste de Donetsk, Pavlo Kirilenko, disse que os ataques russos deixaram 21 mortos na terça-feira, o maior número desde 8 de abril, quando um ataque com mísseis na estação ferroviária de Kramatorsk matou pelo menos 59 pessoas. Entre as baixas, estariam 10 pessoas que trabalham em uma fábrica de produtos químicos na cidade de Avdiivka, disse o governador.


“Os russos sabiam exatamente onde mirar - os trabalhadores tinham acabado de terminar seu turno e estavam esperando um ônibus em um ponto para levá-los para casa”, escreveu Kirilenko em um post do Telegram. “Outro crime cínico dos russos em nossa terra”.

Outros dois civis foram mortos e dois ficaram feridos em bombardeios noturnos na região vizinha de Luhansk, segundo o governador Serhi Haidai, acrescentando que os ataques russos estão se intensificando.

O centro industrial de Donbas, que inclui Donetsk e Luhansk, continua sendo o objetivo declarado de Moscou, depois de não conseguir tomar Kiev nas primeiras semanas da guerra. Mas o avanço russo também chegou em outras regiões.

De acordo com informações do Ministério da Defesa do Reino Unido, o Kremlin mobilizou 22 grupos táticos de batalhões em sua tentativa de avançar ao longo do eixo norte do Donbas, perto da estratégica cidade de Izium. Cada unidade normalmente conta com cerca de 800 soldados, disseram os britânicos.

Apesar de lutar para romper as defesas ucranianas e ganhar terreno, a Rússia provavelmente pretende prosseguir além de Izium para capturar as cidades de Kramatorsk e Severodonetsk, enquanto tentam derrotar as forças ucranianas na região, de acordo com a avaliação britânica. No entanto, o avanço de Moscou tem sido lento, pois os combatentes ucranianos têm se entrincheirado e utilizado armas de longo alcance, como obuses, para atingir os russos.

Outra frente de ataques russos mirou a cidade de Lviv, no oeste do país, perto da fronteira com a Polônia. Explosões foram ouvidas na cidade que tem servido de porta de entrada para os equipamentos enviados pela Otan. Segundo a Prefeitura de Lviv, três subestações de energia foram danificadas, cortando a eletricidade em partes da cidade e interrompendo o abastecimento de água. Duas pessoas ficaram feridas.

Autoridades ucranianas também confirmaram ataquesa pelo menos meia dúzia de estações ferroviárias em todo o país. O porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, disse que aeronaves e peças de artilharia russas atingiram centenas de alvos no último dia, incluindo redutos de tropas, postos de comando, posições de artilharia, depósitos de combustível e munição e equipamentos de radar.

Em contrapartida, os EUA acreditam que os ucranianos empurraram as forças russas a cerca de 40 quilômetros a leste de Kharkiv nos últimos dias. Estender a distância da linha de frente torna mais difícil para a Rússia atingir a cidade com fogo de artilharia.

Siderúrgica de Mariupol sob bombardeio

Forças russas também começaram a bombardear a usina siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, de onde dezenas de pessoas foram retiradas nos últimos dias. O ataque começou quase duas semanas depois do presidente russo, Vladimir Putin, ordenar a seus militares que não atacassem a usina para acabar com os defensores, mas para bloqueá-la de receber insumos ou reforços.

De acordo com a vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, a usina foi atingida por fogo de artilharia naval e ataques aéreos durante toda a noite. Duas mulheres civis foram mortas e 10 civis ficaram feridos, disse.

Em um discurso em vídeo durante à noite, o presidente Volodmir Zelenski disse que ao atacar a siderúrgica, as forças russas violaram os acordos para retiradas seguras. Ele disse que as operações anteriores ainda não são uma vitória, mas já apresentam um resultado. “Acredito que ainda há uma chance de salvar outras pessoas.”

Não ficou claro quantos combatentes ucranianos ainda estavam dentro da estrutura, que inclui um labirinto de túneis e bunkers espalhados por 11 quilômetros quadrados, mas a inteligência russa estima o número em cerca de 2 mil nas últimas semanas, dos quais 500 foram feridos. Algumas centenas de civis também permaneceram lá.

“Faremos todo o possível para repelir o ataque, mas estamos pedindo medidas urgentes para a retirada os civis que permanecem dentro da usina e trazê-los para fora com segurança”, disse Sviatoslav Palamar, vice-comandante do Batalhão de Azov em mensagem pelo Telegram.

Graças ao esforço de retirada de civis no fim de semana, 101 pessoas - incluindo mulheres, idosos e 17 crianças, a mais nova delas de 6 meses - saíram dos bunkers sob a siderúrgica Azovstal, em Mariupol, para “ver a luz do dia depois de dois meses”, disse Osnat Lubrani, o coordenador humanitário da ONU para a Ucrânia.

Além das 101 pessoas retiradas da siderúrgica, 58 se juntaram ao comboio em uma cidade nos arredores de Mariupol, disse Lubrani. Cerca de 30 pessoas que deixaram a fábrica decidiram ficar em Mariupol para tentar descobrir se seus entes queridos estavam vivos. Um total de 127 pessoas chegou a Zaporizhzhia. Militares russos dizem que alguns dos retirados optaram por ficar em áreas mantidas por separatistas pró-Moscou.

Mariupol passou a simbolizar a miséria humana infligida pela guerra. O cerco de dois meses dos russos ao porto estratégico do sul prendeu civis com pouca ou nenhuma comida, água, remédios ou aquecimento, enquanto as forças de Moscou transformavam a cidade em escombros. A situação na siderúrgica, em particular, chamou a atenção do mundo.

Uma mulher que conseguiu deixar Mariupol na última operação de retirada contou que ia dormir na fábrica todas as noites com medo de não acordar.

“Você não pode imaginar o quão assustador é quando você se senta no abrigo antiaéreo, em um porão úmido e molhado, e está quicando e tremendo”, disse Elina Tsibulchenko, de 54 anos, ao chegar em um comboio de ônibus e ambulâncias a Zaporizhzhia, cidade controlada por forças ucranianas a cerca de 230 quilômetros de Mariupol.

Ela disse que se o abrigo fosse atingido por uma bomba como as que deixaram as enormes crateras que ela viu nas duas ocasiões em que se aventurou do lado de fora, “todos nós estaríamos acabados”.

Os civis retirados, alguns dos quais em lágrimas, saíram dos ônibus para uma barraca que oferecia comida, fraldas e conexões com o mundo exterior. Alguns deles vasculharam prateleiras de roupas doadas, incluindo roupas íntimas novas.

Irina Vereshchuk disse nesta quarta-feira que as autoridades planejam continuar os esforços para retirar civis da cidade e de áreas próximas, se a situação de segurança permitir. Lubrani também expressou esperança de mais operações de retirada, mas disse que nenhuma foi acordada até o momento.

A queda de Mariupol privaria a Ucrânia de um porto vital, permitiria à Rússia estabelecer um corredor terrestre para a Península da Crimeia, que tomou da Ucrânia em 2014, e liberaria tropas para lutar em outros lugares do Donbas.

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