O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, pediu nesta segunda-feira, 23, em um discurso por videoconferência na abertura do Fórum Econômico de Davos o fim de todo o comércio com a Rússia e a imposição do máximo de sanções ao país, além de ter solicitado mais armas.
Zelenski disse a líderes empresariais globais que o mundo enfrenta um ponto de virada e precisa aumentar a pressão sobre Moscou como um alerta para outros países que consideram o uso da força bruta.
“A história está em um ponto de virada. Este é realmente o momento em que se decide se a força bruta governará o mundo”, disse Zelenski, vestindo sua camiseta verde-oliva, que se tornou uma de suas marcas.
“Todos vocês têm de entender: estamos defendendo vocês, pessoalmente... Estamos lutando, na verdade, por cada um de vocês e todo mundo tem de entender isso”, disse o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, outro membro da grande delegação ucraniana que viajou para Davos.
Três meses depois da invasão russa da Ucrânia, a guerra e suas consequência para a economia mundial concentram nesta segunda-feira as atenções do fórum, que após dois anos de pandemia volta a reunir as elites econômicas e políticas mundiais na cidade suíça.
“Acredito que ainda não existem tais sanções (máximas) contra a Rússia, e deveria haver”, disse Zelenski para um salão lotado no fórum, que o aplaudiu de pé.
Os países ocidentais já impuseram uma série de sanções econômicas à Rússia. Mas, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido renunciaram à importação do petróleo, a União Europeia ainda não conseguiu alcançar um acordo sobre a questão, em razão da dependência de alguns de seus membros do petróleo e gás russos.
“Deveria haver um embargo ao petróleo russo, todos os bancos russos deveriam ser bloqueados, sem exceções, o setor de tecnologia russo deveria ser abandonado. Não deveria haver nenhum tipo de comércio com a Rússia”, comentou o presidente ucraniano.
Reivindicações
Uma importante delegação ucraniana, que inclui membros do governo e do Parlamento, está na Suíça para expressar as reivindicações de seu país na guerra desde a invasão russa, em 24 de fevereiro.
“A Ucrânia precisa de todas as armas que pedimos, não apenas das que foram fornecidas”, disse, antes de completar que se o país tivesse recebido o equipamento em fevereiro “o resultado teria sido dezenas de milhares de vidas salvas”, declarou o presidente Zelenski.
A esse respeito, Anastasia Radina, legisladora ucraniana, disse à agência France Presse que seu país precisa de armas “estilo Otan”, como tanques, sistemas de defesa aérea e caças.
“Passamos por três meses de guerra, dezenas de milhares de vidas perdidas e ainda estamos discutindo se precisamos de caças. Francamente, é ultrajante”, assegurou.
As sanções ocidentais contra Moscou por causa da guerra levaram o WEF, o órgão que organiza o fórum, a excluir todos os participantes russos, que durante anos foram onipresentes.
Em contraste com o passado, instituições estatais russas e empresas privadas que deram algumas das festas mais chamativas com caviar preto, champanhe vintage e foie gras, não foram convidadas para o resort alpino este ano.
Para substituir simbolicamente a Russia House (Casa da Rússia) - um local concorrido que concentrava toda a atividade do país -, vários funcionários ucranianos inauguraram nesta segunda-feira a Russia War Crimes House (Casa dos Crimes de Guerra da Rússia).
O local reúne uma exposição fotográfica das atrocidades atribuídas às forças russas, iniciativa do governo ucraniano e de um mecenas do país, Victor Pinchuk.
Moscou negou alvejar civis ou seu envolvimento em crimes de guerra enquanto realiza o que chama de “uma operação” na Ucrânia e diz que as sanções e armas ocidentais entregas para Kiev equivalem a uma “guerra por procuração” travada contra ela pelo Ocidente.
A guerra afeta a economia mundial e suas consequências estão sendo sentidas em todo o planeta, principalmente no aumento dos preços da energia e dos alimentos.
Em relatório publicado nesta segunda-feira para coincidir com a abertura do fórum, a ONG Oxfam prevê que 263 milhões de pessoas cairão na pobreza extrema este ano, ou seja, 1 milhão a cada 33 horas.
“Durante a pandemia, um novo bilionário nasceu a cada 30 horas e agora em 2022 a cada 33 horas 1 milhão de pessoas cai na pobreza extrema”, denunciou Gabriela Bucher, diretora executiva da Oxfam, que pede a taxação urgente dos ricos.
Assim como a Oxfam, muitas ONGs tentam usar o encontro para apelar à consciência de líderes empresariais, estados e governos.
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