Uma parte de uma das unidades de geração de energia da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, pegou fogo, depois de o perímetro da usina ter sido atingida por tropas russas -- alimentando o temor de um desastre nuclear com potencial de atingir toda a Europa. As chamas foram extintas nas primeiras horas desta sexta-feira, 4, de acordo com o serviço de emergências da Ucrânia.
"Às 06h20 (01h20 em Brasília) o incêndio na (...) usina nuclear Zaporizhia em Energodar foi extinto. Não há vítimas", disseram os serviços de emergência em um comunicado publicado no Facebook.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) monitorou a situação e não identificou riscos imediatos. "O equipamento essencial não foi atingido e equipes no local estão tomando medidas de precaução", disse a AIEA, citando o governo da Ucrânia, enquanto o incêndio ainda ocorria. A usina fornece 25% da energia da Ucrânia. Relatórios de inteligência citados pela Casa Branca também não indicam risco de contaminação radioativa.
Em um primeiro momento, o porta-voz da usina Zaporizhzhia, Andriy Tuz, disse à televisão ucraniana que os projéteis russos caíram sobre a usina e incendiaram um dos seis reatores da usina, onde haveria combustível nuclear, apesar de o equipamente estar desligado. O chanceler da Ucrânia, Dmitro Kuleba, acusou os russos de dispararem contra a usina em todas as direções. "Se houver uma explosão, pode ser dez vezes pior que o ataque de Chernobyl", disse Kuleba em sua conta no Twitter. Ele exigiu que os russos interrompam o ataque à usina.
O governo da Ucrânia, no entanto, alterou a versão após o início do incêndio. Segundo o serviço de emergência estatal, o fogo começou no prédio de treinamento fora do perímetro da usina. No fim da noite desta quinta-feira, o diretor da usina disse à televisão Ukraine 24 que a segurança contra radiação havia sido garantida no local.
Segundo o jornal britânico The Guardian, o Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia afirmou que a radiação e as condições de segurança na usina nuclear de Zaporizhzhya estão “dentro dos limites normais”.
De acordo com um comunicado, a AIEA disse que a Ucrânia informou à agência que um grande número de tanques e infantaria russos “invadiu o posto de bloqueio” para a cidade de Enerhodar, a poucos quilômetros da Usina Nuclear de Zaporizhzhia (NPP).
O diretor-geral Rafael Mariano Grossi pediu a suspensão imediata do uso da força em Enerhodar e pediu às forças militares que operam lá que se abstenham de violência perto da usina nuclear.
Ele acrescentou que a AIEA continua consultando a Ucrânia e outros com o objetivo de fornecer “a máxima assistência possível ao país”, enquanto busca manter a segurança e a proteção nuclear.
Combates em área nuclear
O prefeito Dmitro Orlov havia relatado anteriormente combates ferozes entre tropas ucranianas e russas perto da fábrica no sudeste da Ucrânia.
"Como resultado do contínuo bombardeio inimigo de prédios e unidades da maior usina nuclear da Europa, a usina nuclear de Zaporizhzhia está pegando fogo", disse Orlov em seu canal Telegram, citando o que chamou de ameaça à segurança mundial. Ele não deu detalhes.
Orlov gravou uma pequena mensagem em vídeo que foi compartilhada em vários meios de comunicação ucranianos locais, pedindo às tropas russas que parem imediatamente de bombardear a usina.
Momento do incêndio
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, publicou em sua conta no Telegram o vídeo de um canal no Youtube do que seria o momento do ataque russo contra a usina Zaporizhzhia, a maior usina nuclear da Europa, que pegou fogo. Ele conversou sobre o ataque com o presidente americano, Joe Biden.
Biden e Zelenski pediram que a Rússia que cesse as atividades militares na área e permita que serviços de emergência acessem o local -- serviços de emergência ucranianos disseram já nesta sexta-feira, 4, que as tropas russas estariam impedindo os bombeiros de acessar a usina: "O invasor não autoriza as unidades de socorro público ucraniano a começar a extinguir o fogo".
A Usina Nuclear de Zaporizhzhia é a maior usina nuclear da Europa. Ele está localizado no sudeste da Ucrânia. Consiste em seis reatores de água pressurizada VVER projetados na Rússia que datam das décadas de 1980 e 1990. A Ucrânia conta com 15 reatores nucleares espalhados por todo o país para cerca de metade de sua eletricidade.
A Ucrânia foi o local do maior desastre nuclear do mundo, a explosão de um reator na usina de Chernobyl em 1986, quando ainda fazia parte da antiga União Soviética.
Avanço russo
Nos primeiros dias da invasão, o Exército russo tomou a usina de Chernobyl, que está desativada, mas tem renovado os ataques contra centros de produção de energia movidos a carvão, numa tentativa de cortar o fornecimento de energia de grandes centros urbanos.
Mais cedo, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mariano Grossi, disse que “um grande número de tanques e infantaria russos” havia entrado na cidade próxima ao complexo de energia nuclear de Zaporizhzhia e que as tropas de infantaria estavam “se movendo diretamente para” o local do reator.
A comissária europeia de Energia, Kadri Simson, afirmou que a União Europeia trabalha em um "plano de contingência" para uma eventual decisão da Rússia de atacar as usinas nucleares da Ucrânia, que conta com 15 reatores operacionais em 4 centrais, além da zona de exclusão de Chernobyl, onde há 4 reatores fechados.
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