O Prêmio Nobel de Física, anunciado nesta terça-feira, 4, vai para um trio de cientistas: o francês Alain Aspect, o americano Jonh F. Clauser e o austríaco Anton Zeilinger. Eles foram premiados por descobertas pioneiras em ciência da informação quântica, mais especificamente em relação ao uso do entrelaçamento quântico como uma ferramenta experimental que abre caminho para novas tecnologias. Segundo a Academia Real das Ciências da Suécia, que seleciona os ganhadores, a pesquisa dos laureados “estabelece a fundação para uma nova era da tecnologia quântica”.
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The Royal Swedish Academy of Sciences has decided to award the 2022 #NobelPrize in Physics to Alain Aspect, John F. Clauser and Anton Zeilinger. pic.twitter.com/RI4CJv6JhZ
— The Nobel Prize (@NobelPrize) October 4, 2022
No mecanismo chamado de entrelaçamento quântico, duas partículas quânticas estão perfeitamente correlacionadas, independentemente da distância entre elas, disse o júri em um comunicado. “Ser capaz de manipular e gerenciar estados quânticos e todas as suas camadas de propriedades nos dá acesso a ferramentas com potencial inesperado”, informou o instituto.
“Os efeitos indescritíveis da mecânica quântica estão começando a encontrar aplicações. Existe agora um grande campo de pesquisa que inclui computadores quânticos, redes quânticas e comunicação criptografada quântica segura.” Segundo a Academia Real das Ciências da Suécia, o estado de entrelaçamento quântico abre um leque de possibilidades para o armazenamento, transferência e processamento de informações e pode ser aplicado em computação e em algoritmos para encriptação de dados.
Os três pesquisadores foram os primeiros a explorar sistemas com mais de duas partículas entrelaçadas. O austríaco Anton Zeilinger, de 77 anos, investigou estados quânticos emaranhados e seu grupo de pesquisa “demonstrou um fenômeno chamado teletransporte quântico, que possibilita mover um estado quântico de uma partícula para outra a distância”, resumiu a academia sueca.
O francês Alain Aspect, de 75 anos, desenvolveu uma configuração “para fechar uma brecha importante”: “Ele foi capaz de alterar as configurações de medição depois que um par emaranhado deixou sua fonte, de modo que as configurações que existiam quando foram transmitidas não poderiam afetar o resultado”.
Já o americano John Clauser, de 79 anos, construiu um aparelho que emitia dois fótons emaranhados por vez, cada um para um filtro que testava sua polarização. O resultado foi uma clara violação de uma desigualdade de Bell, o que estava de acordo com as previsões da mecânica quântica.
“Estou bastante curioso sobre o que podemos ver nos próximos 10 ou 20 anos, estarei de olhos bem abertos”, afirmou Zeilinger após o prêmio, classificado por ele como um “estímulo para os jovens”.
Os cientistas dividirão o prêmio, que totaliza 10 milhões de coroas suecas (ou cerca de R$ 4,8 milhões). O anúncio do prêmio de Física segue o de Medicina, divulgado nesta segunda-feira, 3, que foi para o sueco Svante Pääbo por seus estudos sobre a evolução humana. Nos próximos dias, serão anunciados os prêmios de Química, Literatura, Paz e Economia.
Relembre os últimos vencedores do Nobel de Física:
Nobel de Física 2021 - Mudanças climáticas
Em 2021, o prêmio foi dado a Syukuro Manabe, nascido no Japão e residente nos Estados Unidos, Klauss Hasselmann, da Alemanha e Giorgio Parisi, da Itália. Os dois primeiros foram reconhecidos por suas contribuições nos estudos físicos da mudança climática, e segundo o júri, “pela modelagem física do clima da Terra e por terem quantificado a variabilidade e previsto de forma confiável”. Já Parisi, teórico, foi laureado por ter contribuído significativamente à teoria dos sistemas complexos.
Nobel de Física 2020 - Buracos negros
Três foram laureados em 2020: Andrea Ghez, dos Estados Unidos, Reinhard Genzel, da Alemanha e Roger Penrose, do Reino Unido. O trio teve como trabalho reconhecido suas pesquisas a respeito dos buracos negros na Via Láctea. Os dois primeiros foram responsáveis por evidenciar à ciência a existência de um buraco negro supermassivo no centro da galáxia, enquanto Penrose foi reconhecido por seus métodos matemáticos “engenhosos”, segundo o comitê, que relacionam os objetos espaciais à teoria geral da relatividade de Einstein.
Nobel de Física 2019 - Sistema solar
Didier Queloz e Michel Mayor, da Suíça, e James Peebles, nascido no Canadá e residente no Estados Unidos, foram os vencedores de 2019. Pesquisadores de cosmologia física, eles foram reconhecidos por suas contribuições essenciais na descoberta do primeiro planeta fora do Sistema Solar que orbita uma estrela semelhante ao Sol. “Eles tentam responder a perguntas como ‘estamos sozinhos?’ ,’Existe vida em algum outro lugar do universo?’”, disse o professor Ulf Danielsson, membro do júri na época.
Nobel de Física 2018 - Laser e feixes de luz
O Nobel de 2018 ficou com Arthur Ashkin, dos Estados Unidos, Donna Strickland, do Canadá, e Gérard Mourou, da França. Segundo o comitê, o trio abriu caminho para “os pulsos de laser mais intensos já criados pela humanidade”. Ashkin criou as pinças ópticas, que podem capturar partículas, vírus e células vivas com feixes de luz. Já a dupla Mourou e Strickland, elaborou a chamada CPA, técnica de amplificação de pulso com varredura em frequência, que obtém laser de alta intensidade, muito utilizados em cirurgias oculares.
Nobel de Física 2017 - Ondas gravitacionais
Barry Barish, Kip Thorne e Rainer Wess, todos dos Estados Unidos, foram os laureados em 2017. O trio comprovou a existência das ondas gravitacionais no universo, previstas por Albert Einstein. Não somente isso, eles também foram capazes de “refutar” o histórico cientista, que disse que nós nunca seríamos capazes de detectar os impulsos, capturados pelo observatório astronômico LIGO em 2015. Wess, Barish e Thome, que encabeçavam as pesquisas, receberam o reconhecimento.
Nobel de Física 2016 - Isolantes topológicos
Em 2016, David J. Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz, todos do Reino Unido, foram destaque pelo trabalho sobre segredos “exóticos” na matéria, com foco nos isolantes topológicos. De acordo com o comitê da época, o reconhecimento foi “pelas descobertas teóricas das transições de fases - quando ocorre mudança na matéria - topológicas”. O objeto de estudo do trio é compreender o comportamento da matéria em escala microscópica, onde predominam as normas quânticas.
Nobel de Física 2015 - Oscilações dos neutrinos
Uma dupla foi laureada em 2015: Arthur B. McDonald, do Canadá, e Takaaki Kajita, do Japão. Eles foram responsáveis pelo que foi uma das descobertas mais importantes na física moderna, segundo alguns pesquisadores. Os cientistas ajudaram a evidenciar as oscilações dos neutrinos, partículas subatômicas, quando estão em transformação - o que demonstra que eles têm massa. As partículas em questão são as mais abundantes no universo e passam por diversas mudanças enquanto “viajam” pelo espaço.
Nobel de Física 2014 - LED
O Nobel de Física de 2014 ficou com Isamu Akasaki e Hiroshi Amano, do Japão, e Shuji Nakamura, naturalizado americano. O trio foi responsável pela invenção do diodo emissor de LED, fonte de energia eficiente e sustentável, que também seria uma boa forma de economizar. Como é um item de potencial grande benefício à humanidade no futuro, um dos princípios do Nobel, “conquistou” o comitê do ano.
Nobel de Física 2013 - Bóson de Higgs
François Englert, da Bélgica, e Peter Higgs, do Reino Unidos, foram laureados em 2013 pelos estudos sobre o bóson de Higgs, conhecido como “partícula de Deus” e que é pesquisado para compreensão da origem da massa de partículas subatômicas. Segundo o júri, a descoberta desta partícula fundamental é parte central do modelo que descreve como o universo é constituído.
Nobel de Física 2012 - Métodos quânticos
O prêmio de 2012 foi para David Wineland, dos Estados Unidos, e Serge Haroche, da França, que tiveram trabalhos quânticos, com métodos “inovadores” que permitiram medição e manipulação de sistemas nesse campo. As técnicas desenvolvidas pela dupla, que não destruíam partículas quânticas, contribuiu para o desenvolvimento de relógios, diferente dos atuais, feitos de césio, ainda mais precisos, que poderiam mudar as bases de tempo.
Como funciona o prêmio
As indicações para o Nobel têm início um ano antes do anúncio dos vencedores. Cientistas, professores, acadêmicos e vencedores de outras edições enviam nomes para a consideração do Comitê Nobel, que decide quais serão os indicados de fato. Não é possível que uma pessoa indique a si mesma para a seleção.
O Prêmio Nobel foi criado pelo químico, inventor e empresário sueco Alfred Nobel, que patenteou mais de 350 produtos ao longo da vida — como a borracha, o couro sintético e o explosivo dinamite.
Alfred Nobel morreu em 1896, aos 63 anos, e determinou no testamento que a maioria de sua fortuna — estimada em mais de 31 milhões de coroas suecas — deveria ser convertida em um fundo que concedesse “prêmios para quem, durante o ano anterior, tiver conferido à humanidade os maiores benefícios”. A láurea, porém, só foi dada a partir de 1901
A entrega das honrarias ocorre sempre no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Nobel. Os laureados recebem diploma, medalha de ouro e uma quantia em dinheiro. Neste ano, esse valor será de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,88 milhões).
Quais serão os próximos premiados?
Quarta, 5: Nobel de Química
Quinta, 6: Nobel de Literatura
Sexta, 7: Nobel da Paz
Segunda, 10: Ciências Econômicas
Quais já saíram?
Segunda, 3: Nobel de Medicina
Hoje, 4: Nobel de Física
Com agências internacionais
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