Um homem armado abriu fogo nesta quarta-feira 26, em um importante local sagrado xiita na cidade de Shiraz, no sul do Irã, matando pelo menos 15 pessoas e ferindo outras dezenas, segundo a mídia estatal iraniana. O Estado Islâmico, um grupo radical sunita, assumiu a autoria do ataque em uma mensagem no Telegram e por meio de sua agência de notícias Amaq.
O site oficial do judiciário dizia que dois homens armados haviam sido presos e um terceiro estaria foragido após o ataque à mesquita Shah Cheragh. Em declaração divulgada posteriormente, no entanto, o chefe do Judiciário local, Kazem Mousavi, esclareceu que o ataque foi cometido por um único homem armado. “Um único terrorista está envolvido neste ataque”, afirmou.
O Estado Islâmico disse que um de seus militantes invadiu o santuário xiita – um dos mais importantes do Irã – e abriu fogo contra seus fiéis. Esses ataques são raros em Irã, mas em abril um agressor esfaqueou dois clérigos até a morte no santuário Imã Reza, o local xiita mais reverenciado do país, na cidade de Mashhad, no nordeste.
A agência de notícias estatal Irna reportou inicialmente 9 mortos, mas atualizou o número para 15. De acordo com a TV estatal iraniana, 40 pessoas ficaram feridas. Uma mulher e duas crianças estão entre os mortos, detalhou a agência Fars.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, disse que quem liderou e planejou o ataque “receberá uma resposta lamentável e decisiva”, sem dar mais detalhes. A agência Irna citou Raisi dizendo: “Esse mal definitivamente não ficará sem resposta”.
Antes de o Estado Islâmico reivindicar a autoria do ataque, Mousavi havia dito que o suspeito era filiado aos grupos takfiri. No Irã e em outros países, o termo “takfiri” designa membros de grupos radicais sunitas, outro braço do Islã. A agência Fars havia indicado que “os terroristas detidos não são iranianos”.
Na mesquista de Shah Cheragh, fica o túmulo de Ahmad, irmão do imã Reza, o oitavo imã xiita enterrado em Mashad, no nordeste do país.
O ataque, que traz as marcas de extremistas sunitas que atacaram a maioria xiita do país no passado, ocorre quando o Irã é convulsionado por mais de um mês de manifestações antigovernamentais, o maior desafio para a República Islâmica em mais de uma década. Não há indícios, no entanto, de que o ataque esteja relacionado com a agitação social.
Nesta quarta, durante as homenagens que marcam os 40 dias da morte de Mahsa Amini, milhares de manifestantes tomaram as ruas do Curdistão iraniano. Porém, segundo testemunhas locais e uma ONG, as forças de segurança do país abriram fogo contra os manifestantes.
Os protestos começaram no país depois da morte da jovem curda iraniana de 22 anos em 16 de setembro, três dias após ser detida pela polícia da moral quando visitava Teerã com o irmão. Ela foi acusada de supostamente violar o rígido código de vestimenta da República Islâmica, que impõe o uso do véu às mulheres.
Os 40 dias de morte, na tradição xiita, marca o fim do período de luto. De acordo com ativistas dos direitos humanos, as forças de segurança advertiram os pais da jovem a não organizar nenhuma cerimônia, nem mesmo diante do túmulo, e ameaçaram o filho do casal.
Ainda assim, mais de 10 mil pessoas se uniram em uma procissão ao cemitério onde Amini está enterrada e protestos foram relatados em várias cidades do Curdistão iraniano.
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