Os meninos na prisão dormem em grupos de 15 em celas sem janelas. Eles pegam ar fresco e veem o sol durante as saídas diárias para um quintal murado, mas não recebem visitas. Eles têm entre 10 e 18 anos e não receberam nenhum ensino desde que foram detidos há três anos ou mais.
A batalha entre milícias curdas e combatentes do Estado Islâmico pelo controle de uma prisão no nordeste da Síria tirou das sombras a situação obscura dos quase 700 meninos detidos no local.
Na quarta-feira, um porta-voz das Forças Democráticas da Síria (FDS) – milícia liderada pelos curdos – disse que havia retomado o complexo depois que centenas de combatentes foram mortos. No entanto, o destino desses meninos que o Estado Islâmico fez de reféns e usou como escudos humanos ainda está em questão. Eles estão entre as dezenas de milhares de crianças mantidas em prisões e campos de detenção no nordeste da Síria, pois seus pais pertenciam ao grupo jihadista.
Perigo
A milícia curda que controla a prisão diz que os laços das crianças com o EI as tornam perigosas. Os curdos também criticam governos estrangeiros por rejeitarem repatriar seus cidadãos detidos nos campos e prisões, incluindo as crianças.
Mas trabalhadores humanitários e defensores dos direitos humanos afirmam que a detenção das crianças é uma punição pelos pecados de seus pais – e pode alimentar a própria radicalização que as autoridades que as prenderam dizem querer evitar.
“Segundo a lei internacional, colocar crianças em detenção deve ser o último recurso”, disse Bo Viktor Nylund, representante para a Síria da agência da ONU para a infância, a Unicef. “Todo o aspecto dessas crianças como vítimas de suas circunstâncias não foi levado em consideração.”
“Após dias de luta, a batalha pela prisão de Hasaka centrou-se em um prédio cujos andares superiores são a ala infantil, onde os 700 meninos estão detidos”, disse Farhad Shami, um porta-voz das FDS.
Letta Tayler, diretora da Human Rights Watch, que acompanha as detenções na Síria, escreveu no Twitter que havia falado com dois homens e um menino dentro do prédio cercado, e eles disseram ter visto muitos meninos mortos e feridos.
A crise das detenções de crianças no nordeste da Síria tem suas raízes no colapso do chamado califado do EI, que em seu auge era do tamanho do Reino Unido e se estendia por Síria e Iraque. Uma coalizão militar internacional liderada pelos EUA juntou-se às FDS, expulsando os jihadistas de seu último pedaço de território, em março de 2019.
As FDS detiveram aqueles que sobreviveram, esperando que os países de onde os combatentes e suas famílias vieram os levassem de volta. Mas a maioria dos países recusou, deixando os detidos definhando por anos em campos miseráveis e prisões improvisadas.
Dezenas de milhares de meninos e meninas, a maioria sírias e iraquianas, vivem nos dois principais campos da área, juntamente com milhares de crianças de outras nacionalidades, disse Ardian Shajkovci, diretor do Instituto Americano de Combate ao Terrorismo.
Radicalização
Nos últimos 15 meses, as FDS transferiram alguns adolescentes dos campos para a prisão. Em alguns casos, separando-os de suas mães. Shami, o porta-voz das FDS, negou que os meninos tenham sido transferidos dos campos para a prisão, mas disse que alguns foram levados para centros de reabilitação, porque correm o risco de se radicalizarem nos campos, onde muitos detidos continuam apoiando o califado.
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