Depois de reclamações da Argentina, o Kremlin afirmou nesta sexta-feira que a Rússia resolverá os atrasos nas entregas da vacina Sputnik V contra a covid-19, mas que sua prioridade é atender a demanda interna. A Argentina, um dos primeiros países a usar a Sputnik V amplamente, reclamou que os atrasos na chegada dos ingredientes para as segundas doses estão impedindo o progresso da campanha de vacinação no país.
O governo argentino enviou uma carta ao fundo de investimentos estatal russo RDIF, datada de 7 de julho, na qual afirmava que precisava com urgência do componente para fabricar a segunda dose da vacina, que é diferente do usado na primeira dose, e alertava que o acordo de fornecimento estava em risco. O RDIF negocia a venda da Sputnik para o exterior.
“A esta altura, todo o contrato corre o risco de ser cancelado publicamente”, escreveu o governo de Alberto Fernández na carta, divulgada pelo jornal La Nación na quinta-feira e confirmada publicamente por dois altos funcionários. “Entendemos a escassez e as dificuldades de produção de alguns meses atrás. Mas agora, sete meses depois, ainda estamos muito atrasados, pois começamos a receber doses de outros fornecedores regularmente, com cronogramas cumpridos."
Com uma população de cerca de 45 milhões de habitantes, a Argentina vacinou 22,9 milhões de pessoas com a primeira dose, quase 50% da população, mas apenas 5,8 milhões com a segunda dose, uma das maiores defasagens na região. A Rússia, por sua vez, vacinou apenas 15% da população com a primeira dose e 8% com a segunda e vive um aumento de casos causado, entre outras razões, pela recusa de parte da população em se imunizar.
A ministra da Saúde argentina, Carla Vizzotti, confirmou o envio da carta na quinta-feira e disse que era uma prática comum pressionar os fornecedores para ajudar a garantir que os contratos fossem cumpridos.
Segundo ela, a pressão ajudou a acelerar as coisas e cerca de 500 litros do segundo componente da vacina chegarão nas próximas semanas, permitindo a produção nacional de mais 880 mil segundas doses pelos Laboratorios Richmond, a empresa argentina que faz a produção e o fracionamento da vacina. “Como resultado dessa intensa negociação, o panorama do componente dois, que é nosso grande foco, está ficando mais claro”, disse Vizzotti.
A Argentina, um dos primeiros países do mundo a fechar contrato para a compra da Sputnik V, tem hoje uma média diária de 13.700 casos da covid-19 e 340 mortos. Com o atraso, o governo vem buscando adquirir mais vacinas dos Estados Unidos e fechou um grande acordo com a Moderna.
Ver todos os comentários | 0 |