Pfizer e BioNTech fecharam acordo com um fabricante sul-africano para a produção de doses destinadas exclusivamente ao continente africano, informou nesta quarta-feira, 21, a empresa farmacêutica.
Com o acordo, a Pfizer pretende aumentar o fornecimento de suas doses ao continente, que enfrenta severa escassez de vacina e imunizou até o momento apenas 1,5% de sua população. A África enfrenta atualmente sua fase mais devastadora da pandemia, em consequência da rápida disseminação da variante Delta.
O acordo tem algumas limitações. O produtor sul-africano, Biovac, será responsável apenas por distribuição e envase das vacinas, fase final do processo de fabricação. Os imunizantes continuarão a ser desenvolvidos nas instalações da Pfizer na Europa, sendo posteriormente enviados à Cidade do Cabo.
Matthew Kavanagh, diretor da Política de Saúde Global e Iniciativa Política da Universidade de Georgetown, classificou o acordo como "profundamente decepcionante". “Esses acordos que mantêm a capacidade total de produção para os países de alta renda continuam apenas perpetuando as desigualdades na distribuição”, disse.
Uma porta-voz da Pfizer, Pamela Eisele, disse que ao tentar expandir rapidamente a fabricação de vacinas contra a covid, a empresa está “focando principalmente em vários estabelecimentos existentes, procurando fabricantes terceirizados externos para apoiar as etapas importantes de preenchimento, acabamento e distribuição”. Michelle Viljoen, porta-voz da Biovac, disse que começar com envase é “a forma mais rápida para tornar as vacinas acessíveis”
Ativistas de saúde pública pedem à Pfizer e a outros grandes fabricantes de vacinas que transfiram sua tecnologia para produtores locais em partes mais pobres do mundo, a fim de aumentar a produção e aliviar a escassez de imunizantes nessas regiões.
A Pfizer prometeu fornecer dois bilhões de doses de sua vacina para países de baixa e média renda por meio de vários canais até o final de 2022, mas até agora apenas uma pequena fração dessas doses foi entregue.
A empresa disse que a transferência de tecnologia e a instalação dos equipamentos serão iniciadas imediatamente. De acordo com a Pfizer, a planta da Biovac seria capaz de preencher e finalizar mais de 100 milhões de doses por ano quando estiver em plena capacidade.
Para as pessoas "que expressaram preocupação com o fato de a África estar sendo deixada para trás em parte devido à falta de fabricação de vacinas, quero dizer que os ouvimos", disse o presidente-executivo da Pfizer, Albert Bourla, em comentários preparados para uma reunião realizada pela Organização Mundial do Comércio na quarta-feira.
Para Kavanagh, é possível que a Pfizer não envie drogas suficientes para a Cidade do Cabo, especialmente se os países ricos buscarem uma terceira dose de reforço para suas populações. "Qual é a probabilidade de que a maior parte da substância medicamentosa vá para as primeiras vacinações na África em vez de ir para os países de alta renda que pagam mais e têm poder político para exigi-la?", questiona.
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