O governo francês anunciou nesta quarta-feira que não será mais obrigatório usar máscaras ao ar livre no país e que o toque de recolher chegará ao fim no domingo, dez dias antes da previsão inicial de 30 de junho. As mudanças, disse o primeiro-ministro Jean Castex, são possíveis porque a situação sanitária nacional "melhora mais rápido do que nós havíamos previsto".
O fim da obrigatoriedade das máscaras em espaços públicos começará a valer na quinta, disse Castex, mas terá algumas restrições: não valerá, por exemplo, para áreas com aglomerações, como estádios de futebol ou festas. A decisão foi tomada após uma reunião conjunta do Conselho de Defesa e do Gabinete ministerial, levando em conta as recomendações de especialistas.
Em março, a França havia entrado em quarentena nacional, sua terceira desde o início da pandemia, para conter seu pior momento da crise sanitária. Escolas foram fechadas, tal qual o comércio não essencial, e o deslocamento foi proibido para distâncias superiores a 10 quilômetros.
As restrições começaram a ser aliviadas gradualmente no fim de abril, em um plano de quatro etapas cujo passo derradeiro era o fim do toque de recolher. Inicialmente às 19h, ele já havia sido postergado para as 21h no meio de maio e atualmente era às 23h.
Desde maio, museus, cinemas, teatros e arenas esportivas — com capacidade limitada a 800 pessoas em espaços fechados e mil pessoas em espaços abertos — já funcionam no país. Em 9 de junho, as áreas internas de cafés e restaurantes foram reabertas.
Depois dos Estados Unidos, da Índia e do Brasil, a França é o quarto país do planeta com mais casos acumulados de covid. Desde que a pandemia começou, mais de 5,8 milhões de pessoas foram infectadas e quase 110,7 mil morreram. Hoje, contudo, a nação vê seu número mais baixo de casos diários desde agosto de 2020: na terça, registrou 3,2 mil novas infecções e 76 mortes.
30,7 milhões já vacinados
Segundo Castex, o governo espera que 35 milhões de franceses tenham recebido as duas doses anti-Covid até o fim de agosto — ou cerca de metade da população. Atualmente, cerca de 45% dos franceses, ou 30,7 milhões de pessoas, já receberam ao menos uma injeção e 21% tomaram as duas. Em média, o país aplica cerca de 745 mil vacinas por dia.
A França usa doses de Universidade de Oxford-AstraZeneca exclusivamente na população com mais de 55 anos, restrições aplicadas devido aos raríssimos casos de trombose relacionados à vacina, mais comuns entre os mais jovens. Injeções da Pfizer-BioNTech e da Moderna também são usadas no país, sem limitações etárias.
Desde 31 de maio, todos os adultos já estão aptos para agendar a vacinação, mais uma "etapa-chave" para acelerar a imunização no país e evitar um novo surto que atrapalhe as férias de verão. Diante da disseminação global da variante Delta, descoberta inicialmente na Índia, a França decidiu reduzir para 21 dias o intervalo mínimo entre a primeira e a segunda dose das vacinas da Pfizer e da Moderna.
Isto só foi possível, disse o ministro da Saúde, Olivier Verán, devido à maior disponibilidade de doses no país. Trata-se também de uma tentativa de evitar que as pessoas façam longas filas para tomar a segunda vacina em populares destinos turísticos internos.
A Inglaterra, que na segunda decidiu adiar em quatro semanas a última etapa do seu cronograma de desconfinamento, também encurtou o espaço entre as doses.
Segundo pesquisas preliminares, uma dose só das vacinas é 33% eficiente para conter casos sintomáticos provocados pela cepa Delta. Um estudo divulgado nesta semana pelo governo britânico, no entanto, aponta que a aplicação de duas injeções da Pfizer-BioNTech é 96% eficiente para evitar internações. No caso da vacina da AstraZeneca, duas doses têm eficiência de 92%.
Restrições para turistas
Ao contrário dos britânicos, que viram os novos casos aumentarem 127% nas últimas duas semanas apesar de já terem aplicado a segunda dose em 45% de sua população, os novos diagnósticos no outro lado do Canal da Mancha caíram 64% no mesmo período.
Isso deve-se a uma série de fatores, que passam pela maior relação entre o Reino Unido e a Índia e por diferenças no plano de desconfinamento de ambos os países. Em maio, o Palácio do Eliseu baniu viagens não essenciais de e para território britânico, devido à maior transmissibilidade da cepa Delta, que especialistas estimam ser entre 40% e 80% mais contagiosa que a Alfa, variante responsável pelo surto que ambos os países viram no início do ano.
Hoje a França aceita a livre entrada de turistas da Zona Schengen e de outros sete países onde a pandemia está sob controle, desde que estejam vacinados com as doses que receberam o aval da Agência Europeia de Medicamentos: as vacinas da Pfizer, da Moderna, da AstraZeneca e da Janssen. Pessoas oriundas destas regiões que ainda não tomaram as duas doses devem apresentar um teste PCR negativo feito até 72 horas antes do embarque.
Viajantes de outros países que já foram inoculados com as doses descritas acima devem apresentar um teste PCR negativo. Para os não vacinados, só são permitidas viagens consideradas essenciais.
O governo francês, contudo, continua a vetar o desembarque de pessoas, mesmo vacinadas, que passaram por regiões onde o quatro pandêmico é considerado grave — entre elas, Brasil, Argentina, Bolívia, Índia e Uruguai. Apenas viagens essenciais são permitidas nestes casos.
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