Na Itália, os bares, restaurantes, cinemas, museus e salas de concertos reabrem as portas a partir desta segunda-feira, 26, enquanto o governo apresenta um colossal plano de 222,1 bilhões de euros (1,46 trilhão de reais) para estimular a economia, financiado em sua maior parte pela União Europeia (UE).
Depois de meses de restrições, entre a segunda e terceira ondas da covid-19, com uma média de 300 a 500 mortes por dia, a Itália espera que as reaberturas sejam irreversíveis e representem o início de uma vida normal.
Porém, a reabertura de quase 140.000 estabelecimentos comerciais, autorizada na maioria das 20 regiões italianas, com cafeterias e restaurantes abertos para almoço e janta, mas apenas nas áreas ao ar livre e até o início do toque de recolher estabelecido para as 22h, provocou tensão no governo do primeiro-ministro Mario Draghi.
"Finalmente", disse Daniele Vespa, garçom de 26 anos do restaurante Baccano, próximo da turística Fontana di Trevi, em Roma, que permaneceu praticamente vazia no último ano. A declaração resume o sentimento de um dos setores mais afetados pelos confinamentos provocados pela pandemia, que matou mais de 118.000 pessoas no país.
"É o começo do retorno à normalidade, tomara que também acabem com o toque de recolher", completou o garçom.
O toque de recolher às 22h, que pode ser prolongado durante os meses mais quentes de julho e agosto, e é uma das medidas que mais provoca discórdia.
Draghi, que deseja respeitar o conselho dos especialistas e cientistas para evitar os deslocamentos noturnos e o aumento dos contágios, hospitalizações e mortes, teve que suportar as pressões do extremista de direita Matteo Salvini, o aliado mais incômodo, que pede a reabertura de tudo e o fim das restrições.
Fechadas há seis meses, as salas de cinema aproveitaram a oportunidade. O cinema Beltradde de Milão abriu as portas às 6H00 para uma sessão inédita, para 82 pessoas.
"Tenho muita curiosidade de sentir o público de uma sala de concertos", confessou o maestro Antonio Pappano, que vai dirigir nesta segunda-feira uma apresentação da orquestra Santa Cecília em um auditório de Roma.
Draghi, economista renomado e ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), que assumiu o poder em fevereiro, explicou que assume um "risco calculado" com as aberturas e que as probabilidades de que sejam definitivas dependerão do respeito aos protocolos de segurança e do avanço da campanha de vacinação.
A Itália, com uma população de 60 milhões de habitantes, está administrando quase 350.000 doses de vacinas por dia, mas com fortes disparidades entre as regiões.
222,1 bilhões de euros
Paralelamente, a terceira maior economia da zona do euro, que perdeu no ano passado um milhão de postos de trabalho e registrou queda do PIB de 8,9%, será submetida a uma verdadeira terapia de choque graças aos fundos para a recuperação econômica destinados pela UE.
A Itália vai receber a maior parte do fundo europeu, 191,5 bilhões de euros (o equivalente a cerca de 1,26 trilhão de reais) em subsídios e empréstimos e planeja usar recursos nacionais de mais de 30 bilhões de euros (197,361 bilhão de reais) para um total de 222,1 bilhões de euros (268,6 bilhões de dólares).
Para obter o dinheiro inesperado, o governo teve que elaborar um plano de gastos detalhado, que será apresentado nesta segunda-feira ao Parlamento e enviado antes de sexta-feira à União Europeia.
Entre as prioridades estão a reforma de boa parte das infraestruturas, uma verdadeira modernização do país, que inclui a renovação e construção de novas ferrovias, estradas e portos.
Outro ponto importante será a transição ecológica, projetos de energia com hidrogênio e fontes renováveis, assim como a digitalização do país.
Para reduzir a brecha entre o norte desenvolvido e o sul pobre da península, entre homens e mulheres, entre gerações, a Itália preparou um plano colossal, que representa um desafio para um país que não cresce há vários anos.
Draghi precisa estimular em cinco anos um notável crescimento do PIB e, ao mesmo tempo, lidar com a classe política, que até o momento não mostra a união necessária ante o desafio histórico.
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