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Vacinação lenta faz Europa temer atraso na recuperação da economia

Os dados mostram que a pandemia seguirá com força durante alguns meses, em razão de falhas na distribuição dos imunizantes.

A expectativa era a de que o ano-novo trouxesse melhores perspectivas econômicas à Europa, à medida que a vacinação começasse. Em vez disso, a economia na zona do euro encolheu no final de 2020, segundo dados oficiais, o que aumenta o temor de uma segunda onda de recessão. Os dados também mostram que a pandemia seguirá com força durante alguns meses, em razão de falhas na distribuição dos imunizantes.

A produção econômica nos 19 países na zona do euro caiu 0,7% no quarto trimestre do ano passado, segundo estimativa de uma agência oficial da União Europeia. Em todo o ano de 2020, a produção caiu 5,1%. Agora, é provável que a Europa sofra contração econômica contínua ao longo dos três primeiros meses de 2021 e talvez em parte do próximo trimestre, enquanto governos são forçados a manter restrições à atividade comercial, segundo estudo publicado pela consultoria Oxford Economics, de Londres.


“Há risco de que a distribuição das vacinas continue decepcionante”, disse o economista Tomas Dvorak, que analisa a eurozona na Oxford Economics. “Há risco de que o segundo trimestre também seja bem ruim.”

O fracasso de governos europeus em conseguir vacinas para seus cidadãos pode criar um desgaste político, alimentando ressentimento em relação a Bruxelas e azedando uma relação já instável entre os 27 países da UE. A competição por vacinas já provocou uma crise do bloco com o Reino Unido. “Temos de observar as consequências políticas”, disse o economista do Berenberg Bank, Holger Schmieding.

Antes, a previsão era de estagnação no primeiro trimestre, seguida de uma melhora a partir de março. Essa estimativa era guiada pelo pressuposto de que as vacinas seriam amplamente distribuídas, o que permitiria às autoridades levantar as restrições de movimento. À medida em que as pessoas retornassem às lojas e aos restaurantes, e as fábricas retomassem a produção, a economia expandiria novamente.

O resultado agora deve ser um atraso, já que a Europa tem tido dificuldades para distribuir as vacinas. Agora, a zona do euro enfrenta sua segunda recessão em seis meses, após sua economia encolher na primeira metade de 2020.

Fábricas europeias se adaptaram à pandemia e estão operando quase normalmente, mas trabalhadores com empregos que dependem de contato presencial estão sofrendo. Mais da metade dos alemães que trabalham em hotéis ou restaurantes, cerca de 600 mil pessoas, está sob licença subsidiada pelo governo, segundo a entidade de pesquisa Ifo Institute, de Munique.

A Alemanha registrou um pequeno crescimento no quarto trimestre de 2020, e as economias de Itália e França caíram. Os três países permanecem sob lockdown.

Entre os 27 países da UE, apenas 2,5% da população nacional recebeu, em média, ao menos uma dose da vacina. Alemanha, Itália e França estão abaixo dessa marca.Em contraste, o Reino Unido – que comprou agressivamente vacinas e confiou no seu sistema de saúde para distribuí-las – injetou ao menos uma dose em mais de 13% de sua população. Os EUA vacinaram cerca de 7% de seus habitantes. Economistas dizem que a UE deve aumentar a vacinação na primavera (no Hemisfério Norte), o que permitiria um levantamento parcial das restrições.

“As duras restrições novamente mergulharam a economia da zona do euro em recessão”, disse o economista Christoph Weil, do alemão Commerzbank. Ele prevê que a desaceleração neste trimestre será ainda mais aguda. Os europeus esperavam por estabilidade após um ano difícil. No segundo trimestre de 2020, o PIB caiu 11,7%, enquanto a pandemia se instalava. O crescimento foi de 12,4% nos três meses seguintes, um recorde, com o afrouxamento dos lockdowns e as empresas se ajustando à crise.

Economistas não acreditam em saltos tão severos em 2021, mas poucos esperam que a Europa recupere sua força econômica até 2022. Frequentemente criticada por adotar comportamento burocrático e ponderado em tempos de crise, a UE pechinchou contratos com as farmacêuticas e permitiu que governos mais agressivos, em Londres, Washington, reservassem os estoques. Muitos membros da UE optaram por não comprar todo o seu suprimento do bloco.

Se gargalos de estoque e distribuição persistirem, a recuperação pode ser frustrada, uma vez que os governos teriam de manter as restrições por mais tempo. Com o risco maior de contágio, a população pode se mostrar ainda mais cautelosa, mesmo que os governos permitam o retorno de lojas, escritórios e serviços. Se a aversão ao risco persistir, pode limitar o crescimento mesmo após a pandemia estar controlada.

Mas, eventualmente, a vacinação será massificada e a taxa de infecção cairá, permitindo um retorno a lugares que hoje são evitados por serem vetores do vírus. “Sou cauteloso ao dizer que voltaremos ao normal, pois é bastante difícil definir quão normal será”, disse Dvorak. “Mas é razoável garantir que os consumidores devem retomar seus padrões de consumo.”

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