Mais de 4,5 mil pessoas foram detidas pela polícia russa neste domingo, 31, durante protestos pela libertação do líder da oposição Alexei Navalny, segundo levantamento da ONG OVD-Info. Alguns dos detidos foram agredidos, de acordo com a entidade. Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas de diferentes cidades do país pelo segundo final de semana consecutivo. Navalni está preso desde o dia 17 de janeiro, quando chegou de uma viagem da Alemanha, onde se recuperava após ser envenenado. Ele é conhecido pelo posicionamento anti-corrupção e pelas críticas ao presidente Vladimir Putin.
Novos protestos em prol de Navalni estão marcados para a próxima terça-feira, 2, quando o líder da oposição enfrentará uma audiência em tribunal que pode mantê-lo na prisão.
De acordo com a OVD-Info, neste domingo foram registradas prisões em pelo menos 35 cidades russas. As forças de segurança bloquearam o acesso ao centro de várias cidades para evitar que os manifestantes se reunissem nas marchas, que não foram autorizadas pelo governo. Em Moscou, estações de metrô foram fechadas e o tráfego de ônibus foi limitado. Restaurantes e lojas foram impedidos de abrir. Os organizadores tiveram que mudar a localização dos protestos, que estavam marcados para acontecer na Praça Lubyanka. Os atos chegaram a se dirigir à prisão onde Navalni está detido, mas foram reprimidos por tropas de choque.
O esquema de segurança foi reforçado depois que dezenas de milhares de manifestantes se reuniram em todo o país no último fim de semana. O Ministério do Interior chegou a avisar que quem fosse aos atos poderia ser acusado de participação em "revoltas em massa", crime que tem pena de 8 anos de prisão. Atos de violência contra a polícia podem ser punidos com 15 anos de detenção. Neste domingo, a polícia russa estava detendo pessoas que estavam nas ruas de maneira aleatória e colocando-as em ônibus. “Não tenho medo, porque somos a maioria”, disse Leonid Martynov, que participou do protesto em Moscou. "Não devemos ter medo de cassetetes, porque a verdade está do nosso lado".
Os atos duraram horas e os participantes gritavam frases como "Renuncie, Putin", "Putin ladrão" e "Abaixo o czar". "Não quero que meus netos vivam em um país assim", disse Vyacheslav Vorobyov, que foi às manifestações em Ecaterimburgo, nos montes Urais. "Quero viver em um país livre".
Apenas em Moscou, foram 1.450 presos, incluindo a esposa de Alexei Navalny, Yulia. "Se ficarmos em silêncio, eles virão atrás de nós de qualquer forma", ela escreveu no Instagram antes de ser presa.
Há três dias, várias pessoas próximas a Alexei Navalny foram detidas na Rússia, incluindo o irmão dele, Oleg Alexei Navalny, e Liubov Sóbol, aliada e figura emergente do movimento de oposição ao governo Putin. O número de pessoas presas no protesto deste domingo já é maior do que o do dia 23 de janeiro, quando ao menos 4 mil foram detidos.
Os Estados Unidos instaram a Rússia a libertar Alexei Navalny e criticaram as prisões em protestos. "Os EUA condenam o uso persistente de táticas contra manifestantes pacíficos e jornalistas por parte das autoridades russas, pela segunda semana consecutiva", disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, no Twitter.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia rejeitou o pedido de Blinken como uma "interferência rude nos assuntos internos da Rússia" e acusou Washington de tentar desestabilizar a situação no país apoiando os protestos.
Alexei Navalny entrou em coma em 20 de agosto, durante um vôo da Sibéria para Moscou, e o piloto desviou o avião para que ele pudesse ser tratado na cidade de Omsk. Ele foi transferido para um hospital de Berlim dois dias depois. Testes em laboratórios na Alemanha, França, Suécia e da Organização para a Proibição de Armas Químicas estabeleceram que ele foi exposto ao agente nervoso Novichok, uma arma química russa.
As autoridades russas se recusaram a abrir um inquérito criminal completo, alegando falta de evidências de que Navalni foi envenenado.
O líder da oposição foi preso imediatamente após seu retorno a Rússia, no início deste mês, e detido por 30 dias a pedido do Serviço Penitenciário da Rússia, que alegou que ele violou a liberdade condicional de uma pena suspensa. Alexei Navalny foi condenado por lavagem de dinheiro em 2014, mas diz que a condenação foi por vingança política.
Na quinta-feira, um tribunal de Moscou rejeitou o recurso de Alexei Navalny para ser libertado, e outra audiência na terça-feira pode transformar essa sentença suspensa, de 3 anos e meio, em um ano que ele deve cumprir na prisão. Diante disso, a equipe do líder político convocou outro protesto diante do prédio do tribunal.
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