Cerca de nove meses depois de pedir a renúncia do papa Francisco e acusá-lo de "encobrir abusos", o arcebispo Carlo Maria Viganò concedeu uma entrevista em que lança suspeitas sobre os dois pontífices que antecederam o argentino Jorge Mario Bergoglio no cargo mais alto da Igreja Católica. Ao The Washinton Post, Viganò disse que uma investigação séria sobre as acusações de abuso sexual relativas ao ex-cardeal e arcebispo emérito Theodore McCarrick, e a forma como a Igreja tratou o caso, poderia prejudicar as reputações de Bento XVI e João Paulo II.
"Bento XVI e João Paulo II são seres humanos, e certamente podem ter cometido erros" disse Viganò ao jornal. "Se cometeram, queremos saber sobre eles. Por quê mantê-los escondidos? Todos nós podemos aprender com nossos erros."
- Foto: Remo Casilli/ReutersPapa Francisco
Viganò, que foi uma espécie de embaixador do Vaticano nos Estados Unidos, deixou de fazer aparições públicas desde que publicou uma carta em que afirma que Francisco teve conhecimento das acusações contra McCarrick em 2013. Ele se recusou a divulgar seu endereço atual ao Post, e também declinou comentar seu autoexílio.
Sobre as referências a Bento e João Paulo, o arcebispo não respondeu diretamente se havia algum tipo de prova para sustentar as suspeitas. Ele disse ainda que a responsabilidade de divulgar documentos sobre a atuação de papas no caso McCarrick é do Vaticano – "se eles ainda não os destruíram", provocou.
"A hora ainda não chegou para que eu divulgue qualquer coisa", disse. "Os resultados de uma investigação honesta seriam desastrosos para o atual papado."
Em julho do ano passado, o papa Francisco aceitou a renúncia de McCarrick e determinou a suspensão de suas funções. O religioso, de 89 anos, é acusado de cometer abusos sexuais em uma série de episódios que remontam ao início de sua carreira religiosa, há quase 50 anos, quando era padre na arquidiocese de Nova York. Em outubro do ano passado, o Vaticano disse que abriu uma investigação para determinar quem havia sido informado sobre o caso.
Segundo o jornal, a entrevista Viganò com ocorreu por meio de troca de e-mails ao longo de dois meses.
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