O governo do Chile anunciou na manhã desta quarta-feira que cancelou a realização de dois eventos internacionais: a Conferência do Clima da ONU (COP-25) e a cúpula de líderes do Fórum de Cooperação Ásia Pacífico (Apec).
“Nosso governo, com profunda dor, porque esta é uma dor para o Chile, resolveu não realizar a cúpula da Apec nem tampouco a COP-25”, anunciou o presidente Sebastián Piñera, que enfrenta há quase duas semanas protestos intensos que já resultaram na morte de 20 pessoas. Mais de 3.500 foram presos e 1.132 civis ficaram feridos.
A reunião da Apec estava marcada para ocorrer nos dias 16 e 17 de novembro e a do clima, entre 2 e 13 de dezembro. Na reunião da Apec, a Casa Branca esperava que o presidente Donald Trump assinasse com o chinês Xi Jinping o primeiro protocolo para um acordo comercial que colocaria fim à disputa entre os dois países.
Em novembro do ano passado, o Brasil retirou sua candidatura para sediar o evento, que foi, na sequência, abraçado pelo governo chileno. O governo alegou como motivo “dificuldades orçamentárias” e o processo de transição presidencial. Após ser eleito, o presidente Jair Bolsonaro defendeu a decisão do Brasil de não sediar a conferência. “Abrimos mão de sediar a Conferência Climática Mundial da ONU, pois custaria mais de R$ 500 milhões ao Brasil”, escreveu em seu Twitter em dezembro.
É a maior crise social do país desde o retorno da democracia no Chile, em 1990. Piñera afirmou que deveria se dedicar totalmente à restauração completa da ordem pública, promovendo a agenda social para responder às demandas das ruas e sustentar um amplo diálogo com a sociedade e o mundo político. “Foi uma decisão muito difícil. Uma decisão que nos causa muita dor, porque entendemos completamente a importância da Apec e da COP para o Chile e para o mundo”, disse.
Segundo ele, foi uma decisão baseada em um “sábio princípio de bom senso”. E explicou: “Quando um pai tem problemas, ele sempre precisa privilegiar sua família em detrimento de outras opções. Como um presidente, você sempre deve colocar seus próprios compatriotas à frente de qualquer outra consideração”, disse.
Esta terça, 12º dia de protestos, foi marcada pela bipolaridade entre manifestações pacíficas e distúrbios, que foram dispersados com gás lacrimogêneo e balas de borracha, algo que está se tornando rotina nos protestos que acontecem no país contra a desigualdade social.
Enquanto na Praça Itália, milhares de pessoas protestavam em um ambiente festivo, com bandeiras e palavras de ordem contra o governo de Piñera, a poucos metros, grupo de encapuzados entrou em conflito com os carabineiros (polícia militarizada).
A mobilização pretendia chegar pacificamente ao Palácio de La Moneda (sede do governo), mas os policiais trabalharam para impedir que chegassem ao local. Quando os manifestantes tentaram avançar, os carabineiros lançaram bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água.
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