A invasão da Ucrânia pela Rússia completa dois anos neste sábado (24). Desde então, os ucranianos têm enfrentado uma rotina de bombardeios e destruição desde a madrugada de 24 de fevereiro de 2022, quando o presidente russo, Vladimir Putin , autorizou uma operação militar na região separatista no leste ucraniano, nas cidades de Lugan e Donetsk.
À medida que a guerra avançou, o conflito trouxe impactos humanitários, econômicos e geopolíticos significativos, não só para os países envolvidos, como para o restante do mundo. O GP1 fez um levantamento nesse período turbulento.
Mortos, feridos e refugiados
Embora não haja estatísticas precisas, estima-se que a Rússia perdeu de 200 mil a 300 mil combatentes, entre mortos, feridos e desaparecidos, enquanto as perdas militares ucranianas rondam os 130 mil, incluindo 15 mil desaparecidos durante os combates. O conflito expulsou de suas casas mais de 14 milhões de ucranianos — um terço da população — e mandou 6,5 milhões de refugiados para países vizinhos, de acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações.
O relatório mais recente da Missão de Monitorização dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia (HRMMU), divulgado na última quarta-feira (21), contabilizou 30.457 vítimas civis, incluindo 10.582 mortos e 19.875 feridos. De acordo com as Nações Unidas, os números reais de mortos e feridos provavelmente são maiores.
Mudanças no mapa e Economia da Ucrânia
Conforme os dados do Fundo Monetário Internaciona l (FMI), o PIB da Ucrânia, que crescia 3% em média antes do conflito, caiu cerca de 30% no primeiro ano da guerra, com grande perda do estoque de capital e aumento da pobreza.
Na semana passada, um estudo apoiado pela ONU estimou em US$ 486 bilhões o custo de reconstrução e recuperação na Ucrânia na próxima década. Acredita-se, por exemplo, que pelo menos 2.000 quilômetros de rodovias e estradas vão precisar de reconstrução ou reparação, entre outras infraestruturas críticas atingidas. Além disso, mais de 4.700 bens culturais na Ucrânia foram danificados, destacando o impacto abrangente do conflito.
Uma contra ofensiva ucraniana de 2023 recuperou 54% do território ocupado desde 2022, mas ainda estima-se que a Rússia controle 18% do país, especialmente, nas faixas sul e leste do território.
Economia da Rússia
Apesar das sanções internacionais, a economia russa não entrou em colapso, com o FMI projetando um crescimento de 2,6% do PIB para o ano corrente. No entanto, as despesas com a guerra têm pressionado os gastos públicos, com cerca de 40% do orçamento do governo destinado para esse fim. A economia russa tem enfrentado sanções e bloqueios de reservas por parte de diversos países, mas estratégias alternativas têm mitigado parte desses impactos.
Qual a justificativa? Uma explicação é que parte das sanções têm sido contornadas por uma grande frota “obscura” de navios não segurados e pela utilização de lacunas contábeis pelas empresas. E alguns países estão desempenhando o papel de intermediários para os russos, como Turquia, China, Sérvia, Bulgária e Índia.
Crise na segurança alimentar
A Guerra na Ucrânia desencadeou uma crise na segurança alimentar, com interrupções no abastecimento global de alimentos e um aumento significativo nos preços, afetando milhões de pessoas em todo o mundo, conforme a classificação do Relatório de Riscos Globais de 2023 do Fórum Econômico Mundial.
A interrupção do fluxo pelo Mar Negro, junto com as sanções à Rússia, impactou os preços globais dos alimentos desde fevereiro de 2022 – atingindo em cheio países como Bangladesh e Egito. Estima-se que mais 47 milhões de pessoas no mundo sofram de fome aguda em 2022 devido aos efeitos de propagação da guerra.
Energia
Além disso, o setor energético foi impactado, com um aumento nos preços da eletricidade e uma busca urgente por alternativas ao gás russo. Dados da Agência Internacional de Energia sugerem que mais de US$ 500 bilhões em despesas adicionais foram comprometidos para reduzir as contas de luz só em 2022, especialmente nas economias avançadas.
A guerra tem impulsionado a procura por novos parceiros estratégicos para suprir as demandas energéticas, abrindo novas cadeias de abastecimento global, favorecendo inclusive o Brasil.
Geopolítica
- A União Europeia e os Estados Unidos lideram a pressão contra a Rússia, mas o apoio à Ucrânia tem diminuído;
- Internamente, alguns países europeus enfrentam protestos de agricultores devido à concorrência dos produtos ucranianos;
- A política dos EUA em relação ao conflito está sujeita a mudanças, especialmente diante da perspectiva de retorno de Donald Trump à presidência.
Causas da Guerra entre Rússia e Ucrânia
O contexto de tensões entre Rússia e Ucrânia têm suas raízes em uma série de questões, incluindo a retomada das negociações para a Ucrânia se tornar membro da Otan, o reconhecimento da independência de regiões separatistas pela Rússia e os desafios enfrentados pelo presidente Vladimir Putin em meio à pandemia da COVID-19, que impactaram sua popularidade.
Relembrando, a Otan é uma organização internacional criada durante a Guerra Fria com o objetivo inicial de conter o avanço do socialismo nos países da Europa Ocidental. Com o fim da União Soviética, a organização passou a se ater à cooperação político-militar e à defesa mútua de seus países-membros. Entre os membros da Otan, estão as nações européias ocidentais, os Estados Unidos e 14 países do Leste Europeu.
Fatos marcantes da Guerra entre Rússia e Ucrânia pela linha do tempo em fases
Primeira Fase (Fevereiro de 2022 a Início de Junho de 2022):
- Invasão russa com tomada de várias regiões, especialmente ao leste;
- Bombardeios resultaram em centenas de vítimas;
- Ofensiva violenta em Bucha, com centenas de civis mortos.
Segunda Fase (Junho de 2022 a Agosto de 2022)
- Retirada das tropas russas da região de Kyiv;
- Contra-ataque ucraniano concentrado no leste, surpreendendo os russos;
- Ocupação da usina nuclear de Zaporizhzhia, gerando preocupações de um desastre similar a Chernobyl.
Terceira Fase (Setembro de 2022 a Novembro de 2022)
- A Ucrânia recupera áreas no leste e sul, mas o impasse persiste em regiões declaradas independentes.
- Danos à ponte que conecta Rússia e Crimeia, aumentando a tensão na região.
Fase Atual (Iniciada em Novembro de 2022)
- Ataques às usinas de energia na Ucrânia, prejudicando a infraestrutura e ameaçando durante o inverno.
- Novos ataques de mísseis em março de 2023, atingindo várias cidades e novamente afetando a usina nuclear de Zaporizhzhya.