Jean-Marie Le Pen, uma das figuras mais históricas da política francesa, morreu nesta terça-feira (07), aos 96 anos, em um hospital de Garches, na região de Haute-de-Seine, onde estava internado há semanas.
A informação foi confirmada pela sua família em comunicado à agência de notícias AFP: “Jean-Marie Le Pen, rodeado pela sua família, foi chamado de volta a Deus esta terça-feira às 12h00”.
Líder da Direita Francesa
Le Pen foi o carismático líder da direita francesa por quase 40 anos, sendo o fundador do partido “Frente Nacional” (FN). Durante sua trajetória política, tornou-se conhecido por suas posições firmes contra a imigração e sua defesa de um referendo sobre a saída da França da União Europeia. Em 2002, atingiu um marco histórico ao chegar ao segundo turno das eleições presidenciais, enfrentando Jacques Chirac. Apesar da derrota esmagadora, com Chirac conquistando 82% dos votos contra 17,8% de Le Pen, sua candidatura evidenciou o crescente apoio às suas ideias nacionalistas e anti-imigração.
Controvérsias e Legado
Le Pen foi, sem dúvida, uma figura divisiva. Considerado por muitos como a personificação do populismo de direita, ele foi descrito pelo jornal Le Figaro como "a figura política mais controversa" da França, sendo apelidado de "demônio da República". Seu discurso agressivo e suas posições extremistas frequentemente geraram polêmicas, incluindo a minimização do Holocausto, o que resultou em várias condenações, como a de 1996, quando foi condenado por incitação ao ódio racial após afirmar que as câmaras de gás eram “um simples detalhe na história da Segunda Guerra Mundial”.
A Revolução Política da Filha Marine Le Pen
Nos últimos anos de sua vida, Le Pen foi testemunha do que ele próprio chamou de “parricídio político” realizado por sua filha, Marine Le Pen, que assumiu a liderança do Frente Nacional e transformou o partido em uma força política mais moderada. O partido também foi renomeado para "Reagrupamento Nacional" (RN), um movimento em direção ao centro, que afastou Le Pen do seu núcleo ideológico original. Essa mudança de linha foi vista como uma tentativa de ampliar o apelo do partido, mas também causou uma ruptura profunda na relação entre pai e filha. Le Pen nunca perdoou o afastamento e afirmou que isso a atormentaria por toda a sua vida.
Um Passado Humilde e Uma Carreira Controversa
Jean-Marie Le Pen nasceu em 1928, em La Trinité-sur-Mer, na Bretanha, filho de uma costureira e de um pescador. Sua vida antes da política foi marcada por experiências diversificadas: foi pescador, mineiro, agrimensor e até dono de uma casa discográfica. Durante a Segunda Guerra Mundial, perdeu o pai em um acidente relacionado a uma mina naval alemã. Aos 14 anos, tentou se juntar à resistência francesa, mas foi recusado, o que, segundo alguns analistas, alimentou sua simpatia por figuras como o marechal Philippe Pétain, colaboracionista durante a ocupação nazista.
Le Pen também teve uma carreira militar notável, lutando na Indochina e na guerra da Argélia, onde, em uma entrevista, confessou ter torturado prisioneiros argelinos — uma declaração que mais tarde tentou revogar ao processar jornalistas que a divulgaram. Essas experiências, aliadas à sua visão política, ajudaram a moldar a ideologia que ele viria a defender como líder do FN.
Futuro do "Reagrupamento Nacional"
Com a morte de Le Pen, o legado de sua longa trajetória política e as disputas familiares em torno de sua liderança ainda reverberam na política francesa. Sua filha, Marine Le Pen, segue como uma das figuras mais influentes da extrema direita na França, agora à frente de um partido que ela transformou em uma força importante no cenário político europeu. Embora o “Reagrupamento Nacional” tenha se distanciado de algumas das ideias mais extremistas de seu fundador, ainda carrega o peso de sua história e de suas controvérsias.
Jean-Marie Le Pen, figura central na história política francesa, deixa um legado contraditório: por um lado, é visto como um pioneiro do populismo de direita na França; por outro, uma figura polarizadora que sempre será lembrada por suas declarações controversas e sua luta incansável pela supremacia do nacionalismo francês.
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