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Cuca faz pronunciamento com carta aberta sobre condenação por estupro

Em entrevista coletiva, o treinador leu uma carta escrita por ele, com ajuda de sua esposa e filhas.

Após a sua estreia como técnico do Athletico-PR, onde guiou o Furacão em vitória por 6 a 0 em cima do Londrina pelo Campeonato Paranaense, Cuca concedeu declarações sobre a sua condenação pelo crime de estupro na Suíça em 1987. Em entrevista coletiva, o treinador leu uma carta escrita por ele, com ajuda de sua esposa e filhas.

Cuca foi condenado pela Justiça da Suíça em 1989, dois anos após o crime ter acontecido. Além dele, Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoli foram condenados com a pena de 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência contra uma garota de 13 anos.


Após 34 anos da condenação de Cuca, o processo foi extinto porque o Tribunal Regional do Distrito de Berna-Mittelland acatou a argumentação da defesa do técnico. Na ocasião, a defesa afirmou que Cuca foi condenado na época sem representação legal. No entanto, a anulação do processo não inocenta Cuca.

Em pronunciamento, Cuca afirmou que vem buscando se informar mais sobre o caso, aprender e compreender. Além disso, declarou que hoje o mundo é muito diferente e que entende que a realidade precisa passar por uma transformação para que ele seja mais seguro para as melhores.

“A realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres”, disse o treinador. “Quero e me comprometo a fazer parte da transformação”.

Confira a carta de Cuca

Confesso, eu estou nervoso. É um tema sério, muito importante. Escrevi para não correr o risco de errar, porque não sou bom com palavras, sou muito boleirão. Eu queria falar sobre os últimos meses que eu tenho vivido. Há quase um ano, eu sai do Corinthians e vocês podem imaginar o que estou passando, o quanto estou refletindo. Antes de falar, precisei escutar a minha esposa, as minhas filhas. Eu escrevi esse texto com a ajuda delas porque ainda não me sinto com conhecimento suficiente para falar sobre algo tão forte. Por elas e por todas, eu escrevi e não quero errar.

Tenho escutado as opiniões e tentado entender meu papel. No começo do ano, eu li uma coluna da Milly Lacombe, do Uol, em que disse que isso não era sobre mim. Eu entendi o que ela quis dizer. Não é só sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo, mas consegui seguir a minha vida, enquanto uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir a vida sem permanecer machucada. Carrega o impacto para sempre. Eu consegui seguir a minha vida. O mundo do futebol e o mundo dos homens nunca tinha me cobrado nada, mas o mundo está mudando, e eu acho que é para melhor.

Não adianta eu ser um grande treinador, esposo, pai, avô, irmão, se eu não entender que o mundo é mais do que o futebol, e que eu faço parte dessas coisas. Eu enxergava os problemas, mas me calei porque a sociedade permitia que eu, como homem, me calasse. Hoje, eu entendo que o silêncio soa como covardia e eu tenho buscado ouvir mais, entender mais, aprender mais.

Não posso mudar o passado. Muitos homens agora me escutam e são capazes de olhar para o passado para rever suas atitudes. Nós sabemos que o mundo é um lugar diferente para os homens e mulheres, e quando enxergamos isso podemos até resistir. Mas as coisas começam a mudar. Só que mudanças honestas e verdadeiras levam tempo. Exigem dedicação, estudo, são dolorosas e desafiadoras.

A realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para todas as mulheres. O mundo do futebol é um mundo de muito preconceito. Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres. Não estou falando isso como fala isolada para agradar alguém, ou da boca para fora. Se fosse assim, eu teria me manifestado antes, então falo isso de coração.

Eu quero e me comprometo a fazer parte da transformação, vou fazer isso com o poder da educação. Eu quero ajudar, jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que eu me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol. O sucesso repentino é um desafio. Muitos se perdem pelo caminho com fama e dinheiro. Nós somos levados a acreditar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres. Nós precisamos dar aos mais novos a oportunidade de não errarem como tantos de nós erramos. É ali que podemos sensibilizar, colocar para pensar e orientar. Sucesso, dinheiro e fama não servem para nada se você se perde no caminho.

Eu pensei que eu estava livre da minha angústia quando solucionei o meu problema com a anulação do processo e a indenização. Mas entendi que não acabou, porque não dependia apenas da decisão judicial, mas que eu precisava entender o que a sociedade esperava de mim. O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes.

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