Aos 41 anos, Roger Federer agora tem data marcada para se despedir do circuito. Será na Laver Cup, que começa no dia 23 deste mês, em Londres. O suíço vai encerrar uma das carreiras mais vitoriosas da história do tênis, marcada por recordes, títulos, feitos históricos e inovações dentro e fora de quadra.
O suíço começou a brilhar na reta final do seu período de juvenil. Poucos meses antes de se tornar um profissional, em 1998, levantou dois troféus em Wimbledon, em simples e em duplas aos 17 anos. Mas, apesar da conquista dupla, ele iniciou sua trajetória no circuito sem maior expectativa por parte dos especialistas do mundo do tênis.
Seu primeiro título como profissional veio apenas três depois, em Milão. Em 2002, veio o primeiro dos seus 28 troféus de nível Masters 1.000. O ano seguinte foi o que chamou a atenção de todos, iniciando seu domínio no circuito. Foram sete títulos, incluindo seu primeiro Grand Slam, na grama de Wimbledon, e o ATP Finals, na época chamada de Masters Cup.
As quatro temporadas seguintes foram o período de maior hegemonia do suíço, quando ele pavimentou seu status de lenda e “GOAT” (sigla para “Greatest of All Time” ou “o maior de todos os tempos”), como alguns ainda o chamam. Ele empilhou 11 títulos em 2004 e repetiu a mesma dose em 2005. Para efeito de comparação, Rafael Nadal e Novak Djokovic levantaram 11 troféus em um ano apenas uma vez na carreira.
Em 2006, Federer aumentou a lista para 12 em apenas uma temporada. No mesmo ano, faturou três dos quatro torneios de Grand Slam, assim como fez em 2004. Foi neste intervalo que o suíço obteve um dos recordes que ainda sustenta no circuito. Acumulou 237 semanas seguidas como número 1 do mundo, entre 2 de fevereiro de 2004 e 18 de agosto de 2008. Ele chegou a deter o recorde de semanas totais na liderança, com 310, mas a marca foi superada por Djokovic recentemente, atualmente com 373.
O domínio de Federer entre 2004 e 2006 é um dos mais intensos da história do tênis. Neste intervalo, ele registrou um aproveitamento incrível de 94% nos torneios que disputava. O saldo foi de 247 vitórias e apenas 15 derrotas. Os triunfos em série lhe renderam 34 troféus neste período. Entre 2003 e 2005, ele somou 24 vitórias consecutivas sobre tenistas do Top 10 do ranking.
A hegemonia do suíço foi derrubada em 2008 por Nadal. O símbolo desta troca de comando no tênis masculino foi a vitória do espanhol na final de Wimbledon daquele ano. Na sequência, virou o número 1. Mas isso não impediu que Federer continuasse a brilhar no circuito, alternando períodos de domínio com Nadal e, depois, Djokovic.
A rivalidade com a dupla e o surgimento de novos adversários, como o argentino Juan Martín del Potro e o escocês Andy Murray, não impediram o retorno de Federer ao topo. O suíço, que se tornou número 1 pela primeira vez aos 22 anos, em fevereiro de 2004, é o mais velho a ocupar este posto. O feito foi obtido em fevereiro de 2018, quando retomou a ponta do ranking aos 36 anos.
No quesito títulos, Federer detém a segunda melhor marca da história. São 103 conquistas em 24 anos de circuito. O recordista é Jimmy Connors, com 109. O americano também lidera no número de vitórias na carreira, com 1.274, contra 1.251 do suíço. Connors sofreu um pouco mais de derrotas: 283 diante de 275 de Federer.
O suíço é dono de dois recordes expressivos quando o assunto é troféus. São oito em Wimbledon e seis no ATP Finals, o torneio que encerra a temporada e que só está abaixo dos Grand Slams. Ele também é o recordista de conquistas nos Torneios da Basileia (10), de Halle (10) e do Masters 1.000 de Cincinnati (7).
Nos demais torneios de Major, ele só não se destacou mais em Roland Garros, com cinco finais. Foi campeão apenas uma vez, em 2009, quando completou o Grand Slam. No Aberto da Austrália, foram seis conquistas e, no US Open, obteve o recorde de cinco títulos consecutivos.
Federer já foi o dono de recordes de troféus de Major (20) e de finais (31). Mas acabou sendo superado nestes quesitos recentemente. Nadal já soma 22 troféus e Djokovic, 21. O tenista de 41 anos passou a liderar esta marca em 2009, quando chegou a sua 15ª conquista, superando as 14 do americano Pete Sampras.
No número de finais, o sérvio registra agora 32. Mas o suíço segue liderando o número de semifinais (46) e quartas de finais (58) disputadas. Seu último título veio em 2019, na Basileia, sua cidade natal. E o Slam derradeiro foi o Aberto da Austrália de 2018.
Outra marca expressiva de Federer é a de que ele nunca abandonou uma partida no circuito profissional. Foram 1.526 jogos de simples e 223 de duplas. Ele ainda é um dos que mais faturou em premiações: US$ 130.594.339,00. Somente Nadal (US$ 131.661.446,00) e Djokovic (US$ 158.996.253,00) o superam.
Representando seu país, Federer brilhou em 2014 ao liderar a equipe, ao lado de Stan Wawrinka, na única conquista dos suíços na história da Copa Davis. Antes, já havia faturado duas medalhas olímpicas. Nos Jogos de Pequim-2008, foi campeão olímpico nas duplas ao lado de Wawrinka. Em Londres-2012, levou a prata na chave de simples.
Inovações
Federer também se destacou pela beleza dos golpes em quadra. Muitos viraram fãs do suíço por apreciarem sua bela técnica, que sempre rendeu boas fotos. “O tênis de Roger é muito fácil de admirar, é quase uma dança”, disse ao Estadão o jornalista americano Christopher Clarey, um dos biógrafos do tenista.
Federer inventou um novo golpe, de rápida subida à rede após o saque do oponente. O “Sneaky attack by Roger” (“ataque surpresa de Roger”) até ganhou uma sigla: SABR. Mas o suíço influenciou mais os jovens tenistas ao manter vivo no circuito o saque-e-voleio e o backhand de uma mão só.
Fora de quadra, as inovações vieram na forma de profissionalismo no trato com imprensa, fãs, ATP e patrocinadores. “Ele definiu um padrão de como atletas modernos devem lidar com o esporte e suas responsabilidades. Ele mostrou a toda a nova geração que há um outro jeito de lidar com a carreira. E você pode lidar com classe e humanidade. O tenista pode se envolver com a política da ATP, com os seus patrocinadores, com a imprensa e com a família. E ainda pode ser um grande tenista”, explicou Clarey.
A boa relação com os fãs gerou uma quase automática fama de bom moço. Federer atravessou sua carreira de 24 anos no circuito sem nenhum escândalo. E soube gerenciar como poucos sua equipe e sua imagem. Por isso, ganhou o respeito dos colegas tenistas, que viram nele uma liderança para lutar por melhores premiações nos torneios, por exemplo.
Federer foi presidente do Conselho de Jogadores da ATP em dois períodos diferentes, criou a Laver Cup, com a qual ajudou a resgatar a história do esporte. Ao mesmo tempo, se envolveu em iniciativas filantrópicas a partir de sua fundação, com atuação sólida na África do Sul, país de sua mãe.
Recordes fora de quadra
Por tudo isso, ele também conquistou marcas expressivas longe das raquetes. No total, faturou 40 prêmios da ATP. Cinco deles foi por terminar o ano na liderança do ranking, entre 2004 e 2007 e em 2009. Ganhou também o prêmio humanitário Arthur Ashe, o prêmio de retorno do ano, o de esportividade e de favorito dos fãs por diversas vezes.
O suíço também é o atleta mais premiado da história do Laureus, considerado o Oscar do esporte. Foi considerado o atleta do ano por cinco vezes e levou o prêmio de maior retorno em 2018 pelo retorno triunfante no ano anterior, com dois títulos de Grand Slam.
“Roger redefiniu a grandeza em quadra. Com seu espírito de campeão, esportividade e jeito de jogar, ele encantou audiências pelo mundo todo por décadas, inspirando muitos a pegar uma raquete nas mãos”, disse o presidente da ATP, Andrea Gaudenzi. “Além da quadra, ele é e continuará sendo um verdadeiro modelo e embaixador do esporte, sempre se doando aos fãs.”
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