A cerimônia de abertura da Olimpíada de Tóquio uniu a milenar tradição japonesa com a tecnologia para homenagear as vítimas da covid-19 em todo o mundo. A luta contra a pandemia que manteve o planeta recluso inspirou a concepção do evento, valorizando o esforço e a persistência individual.
Com o Estádio Olímpico praticamente vazio (apenas mil convidados estavam presentes), a cerimônia foi pensada essencialmente para privilegiar a transmissão pela TV. Isso se tornou visível com uma das primeiras ações, em que uma moça agachada esticou o corpo acompanhada de uma sombra que não era a dela, mas de uma planta germinando. Mesmo assim, o desafio foi equilibrar as infinitas possibilidades do uso da tecnologia com a valorização do homem e sua limitação. O plano era mostrar como o ser humano, apesar da fragilidade diante de um vírus, resiste.
Assim, a referência à obra da artista plástica japonesa Yayoi Kusama logo no início da cerimônia, quando faixas de luz vermelha criaram desenhos segundo seu traço, foi significativo – em sua obra, Kusama explora os limites físicos e psicológicos da pintura, o que provocou uma feliz conexão com o esforço dos atletas que, durante o ano de 2020, foram obrigados a improvisar treinamentos em casa. Os Jogos foram adiados de 2020 para 2021.
Foi significativa, portanto, a aparição de atletas, no centro do estádio, se exercitando solitários em esteiras e bicicletas ergométricas, lembrando o que aconteceu no mundo esportivo no ano passado. Ou mesmo com cada um de nós. E também a escalação de competidores e profissionais da saúde para carregar a bandeira japonesa.
Apesar de celebrar a vida, a cerimônia também prestou homenagem aos mortos, especialmente as vítimas pela covid-19. Foi o que mostrou a performance do ator e dançarino japonês Mirai Moriyama, cuja apresentação de dança-arte, marcada pelos gestos silenciosos, teve como tema a morte, o renascimento e a simbiose.
O tom de homenagem prosseguiu quando um grupo de bailarinos e sapateadores lembrou uma classe muito respeitada no Japão, os bombeiros, especialmente os que foram vitimados pela covid-19 e também pelo terremoto de 2011. A cena lembrou o trabalho de marceneiros que resultou na confecção em madeira dos arcos olímpicos.
A tecnologia voltou a imperar com a exibição de um belo clipe cuja edição alternou cenas de atletas em competição com músicos tocando seus instrumentos clássicos: a sincronia corporal revelou o mesmo objetivo: a busca pela perfeição.
A entrada das delegações seguiu a ordem do idioma japonês, o que deixou o Brasil atrás de países como Uruguai e Zâmbia. E, apesar de ocupar boa parte da cerimônia, foi reduzida pelo número menor de atletas participantes.
Despertou atenção a entrada da delegação da Arábia Saudita, com uma mulher ajudando a carregar a bandeira. E também a dupla brasileira (Ketlyn Quadros, do judô, e Bruninho, (do vôlei), aplaudida ao ensaiar passos de samba.
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