Com um ano de atraso por causa da pandemia e forte rejeição popular, Tóquio abre oficialmente nesta sexta-feira os Jogos Olímpicos às 8h (horário de Brasília) sob o temor de uma possível explosão de casos de covid-19 na cidade. Nos dias que antecederam a cerimônia de abertura, a capital japonesa viu a média móvel de infecções pelo vírus crescer mais de 55% em relação à semana anterior, mesmo com a cidade em estado de emergência.
Apesar das constantes ameaças de cancelamento, o governo japonês e o COI (Comitê Olímpico Internacional) garantiram a realização do evento em meio à pandemia com várias alterações em relação ao planejamento inicial. A principal delas é o veto à presença de torcedores nas competições em Tóquio e outras províncias, algo inédito na história olímpica.
Esse ponto, inclusive, é um dos catalisadores do movimento de oposição aos Jogos entre os moradores da capital japonesa, como conta Emi Ohno Kibe, de 20 anos. “Muitos criticam o governo por decretar estado de emergência, impedir que as pessoas possam ingerir bebida alcoólica nos bares depois das 7 da noite, mas permitir a realização da Olimpíada com milhares de pessoas vindas do exterior.
Sem contar que a proibição de torcida nas arenas acabou gerando ainda mais confusão, porque é válida somente para os Jogos. Eu, por exemplo, fui em uma partida de beisebol do campeonato local no fim de semana com a presença de torcedores nas arquibancadas”, diz a estudante de administração da FGV, que trancou a faculdade no Brasil há três meses para morar em Tóquio, onde atualmente faz estágio em uma empresa de energia renovável.
A realização da Olimpíada virou motivo de preocupação até para a OMS (Organização Mundial de Saúde), que reconheceu na quarta-feira não ser possível reduzir o risco de disseminação do coronavírus a zero durante o evento. Para a entidade, o rígido protocolo definido pelos organizadores será “colocado à prova” durante o torneio.
A situação da pandemia em Tóquio é delicada. O governo metropolitano confirmou na quarta-feira 1.832 novos casos de infecções, no maior registro para um único dia desde 16 de janeiro. Em comparação com a quarta-feira da semana anterior, a contagem diária aumentou em 683 casos.
Especialistas em saúde pública alertam que, se o vírus continuar a se espalhar no ritmo atual, as infecções diárias na capital poderiam atingir um recorde de cerca de 2.600 em agosto, durante a Olimpíada.
Com pouco mais de 15 mil mortes desde o início da pandemia, o Japão foi um dos países que melhor controlaram a disseminação da covid-19. Mas somente cerca de 23% dos japoneses estão totalmente vacinados, e o temor é de que a Olimpíada possa colocar a população que ainda não foi imunizada em risco. Outro fator que pode contribuir para o aumento de casos no Japão é o início das férias escolares de verão.
Pesquisa divulgada nesta semana pelo jornal Asahi Shimbum, um dos mais importantes do país, revelou que 70% dos japoneses não acreditam que os Jogos serão disputados com segurança em relação ao controle da pandemia. Os números ajudam a explicar a falta de entusiasmo com o maior evento esportivo do planeta pelas ruas de Tóquio, onde não se vê muitas menções à Olimpíada.
“Para falar a verdade, eu até tinha me esquecido que ia ter Olimpíada aqui. Definitivamente esse não é um assunto entre os meus amigos”, diz Emi.
Entre os atletas, a covid-19 continua fazendo baixas. Os três que testaram positivo mais recentemente foram a holandesa Candy Jacobs, do skate street, o americano Taylor Crabb, do vôlei de praia, e a britânica Amber Hill, do tiro, que era cotada para conquistar medalha de ouro em sua prova.
“Depois de cinco anos de treino e preparação, estou absolutamente arrasada de dizer que, na última noite, eu recebi um teste positivo de covid-19”, lamentou a atleta de 23 anos.
Segundo a organização dos Jogos Olímpicos de Tóquio, os casos de contaminados entre as pessoas credenciadas, o que inclui os atletas, já chegam a 80. E têm de ficar isolados.
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