O Comitê Olímpico do Brasil (COB) está tomando os devidos cuidados para o possível retorno das atividades esportivas nas próximas semanas. O Centro de Treinamento do Time Brasil, localizado na Barra da Tijuca, no Rio, está fechado desde 18 de março por causa da pandemia do novo coronavírus. Mas aos poucos algumas atividades estão sendo flexibilizadas e até time de futebol, como o Flamengo, já retornou aos treinos. Só que a entidade prega cautela e prepara um protocolo para retorno dos treinamentos das modalidades esportivas de alto rendimento.
"Os treinamentos vão voltar, prioritariamente, com atividades individuais, sejam para esportes individuais ou coletivos. Obviamente, se tem uma tendência de que nos esportes individuais se consiga uma possibilidade de gerar mais segurança ao praticante e ao entorno. As competições esportivas onde o distanciamento entre os adversários é maior também permitirão normas de segurança que possibilitarão o retorno mais breve. Imagino que os esportes coletivos tenham um pouco mais de necessidade de controle para que isso venha a ocorrer", explica Jorge Bichara, diretor de esportes do COB.
Segundo Bichara, é preciso seguir as orientações dos órgãos de saúde pública. "Os governos é que definirão, através das análises que estão sendo feitas, da estagnação ou não da curva e dos parâmetros estabelecidos de qual o momento de reinício das atividades esportivas de rendimento, sejam para treinamentos e, mais para frente, de eventos", diz. O CT do Time Brasil fica no Parque Aquático Maria Lenk, dentro do Parque Olímpico utilizado nos Jogos do Rio, em 2016, e depende de autorização da prefeitura do Rio para voltar a funcionar.
Mas mesmo com o sinal verde, o COB pretende fazer a reabertura de maneira escalonada. "A utilização do CT será adequada às normas de convívio social e profissional determinadas através das orientações técnicas dos órgãos de saúde pública e seus conselhos. Para isso, o COB está desenvolvendo um manual e um protocolo específicos para o seu centro de treinamento, possibilitando seu retorno progressivo e em fases, inicialmente com um grupo pequeno de atletas, que de acordo com as autorizações e liberações dos órgãos de saúde pública poderão ir aumentando de tamanho", avisa.
Ele reforça que os atletas de esportes de combate, como judô, caratê, taekwondo e wrestling, entre outros, sofrerão um pouco mais de prejuízo neste momento, até porque o contato próximo ainda precisa ser evitado por causa do risco de contrair a covid-19. "Deve-se avaliar pelo risco de contágio e os procedimentos que estão sendo adotados. Fazendo uma gestão destes riscos, identificando quais são suas maiores incidências, propondo estratégias de controle e apresentando e validando isso aos órgãos de saúde, você tem a possibilidade de retornar mais rapidamente à prática esportiva", afirma.
Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, o esporte de alto rendimento praticamente parou no Brasil e o adiamento dos Jogos de Tóquio, para 2021, trouxe uma certa tranquilidade para os atletas, que agora terão um ano a mais para fazer a preparação. Segundo Bichara, todo o trabalho agora é para replanejar a retomada da preparação. Ele acha que existe um tempo considerável para que isso seja adequado, de acordo com as liberações que venham a ter para executar o treinamento de alto rendimento.
"Isso envolve a prática do esporte em si e uma série de serviços esportivos que o atleta tem de fazer. Ele tem necessidade de trabalhar a sua prática esportiva, mas além disso ele recebe serviços que compõem o conceito mais amplo do que é um treinamento esportivo de alto rendimento. Ou seja, fisioterapia, serviços médicos, preparação mental, análises biomecânicas, controle bioquímico, todas as ciências e atividades de controle de saúde que são necessárias para você considerar que você está realizando um trabalho no alto rendimento. Então isso é o necessário para você competir nos Jogos Olímpicos. O adiamento dos Jogos nos deu uma garantia de que os atletas e os profissionais do esporte que os acompanham não seriam expostos às situações de riscos."
Um das preocupações do COB é que o alto risco de lesões nesse retorno, pois quase todos os atletas não estavam fazendo atividades de alta intensidade. Bichara aponta que essa volta precisa ser muito bem planejada e por isso vai tentar saber quais serão os procedimentos que serão adotados pelas equipes técnicas para reduzir as lesões. Outra grande preocupação é com o aspecto emocional dos esportistas, que não estão acostumados a ficar tanto tempo longe dos treinos e competições.
"Essa é uma das grandes preocupações: como está a cabeça dos atletas. Certamente essa situação toda, as incertezas, as inseguranças que afetaram todas as pessoas, não só os atletas, causaram uma possibilidade de aumento de casos de depressão, de ansiedade, de síndrome do pânico, distúrbios que podem ter sido causados por essa situação de isolamento. Então a área de preparação mental do COB, os psicólogos, os psiquiatras e, inclusive, o pessoal de coaching, têm uma atenção específica a isso. Nós estamos buscando monitorar esses casos, acompanhar, orientar outros profissionais que trabalham com esse segmento específico dos atletas de alto rendimento, tentando antecipar situações ruins, perigosas, que possam surgir nesses atletas", revela.
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